Naiana 22/07/2022
Ironias, nonsense, nostalgia e o jeito Lemony Snicket de escrever
Já perdi o ritmo da leitura nesse ponto beirando a ressaca literária, novamente tenho que dizer que a culpa é toda minha de ter lido um atrás do outro, sem uma pausa para digerir cada estória e sentir falta dos personagens, mas ao contrário de A Gruta Gorgônea esse volume foi mais fácil, divertido e triste de se ler.
Ironias não faltam aqui, como mostrar o quanto a justiça pode ser cega literal e figurativamente, seja com a inocência da juíza Strauss em acreditar que o sistema sozinho é capaz de fazer justiça, mesmo sem perceber que muitas vezes ele está corrompido e quem o corrompe pode estar ao seu lado, à incorporação do ditado, onde todos os presentes no julgamento são obrigados a por vendas, exceto os juízes.
O nonsense tão característico na escrita dessa obra está cada vez mais presente, quando se coloca crianças para espionar vilões e mocinhos, sem lhes dizer quem é o que nessa investigação, deixando que elas mesmas definam por si só e saibam como agir em um mundo onde todos os adultos falharam com elas, seria no mínimo absurdo em qualquer outra estória, mas não no universo de Lemony Snicket, onde o nonsense reina, e mesmo ele implorando para deixarmos de ler ficamos cada vez mais com vontade de seguir adiante em suas desventuras.
A nostalgia vem quando temos todos os personagens que tiveram alguma relevância na vida dos Baudelaire presentes no Hotel Desenlace, seja querendo o seu bem, o seu mal ou indiferentes ao destino dos irmãos, mas mostrando mais uma vez como estamos aptos a julgar mediante ao pensamento de turba, sem critério nenhum para avaliar o que é verdadeiro ou falso, o mais importante é que seja sensacionalista e recheado de violência gratuita.
E claro que não poderia faltar as Desventuras na vida dos irmãos Baudelaire, e dessa vez não foram quaisquer desventuras, foram das piores, e se definir como mocinho ficou muito difícil para os irmãos, principalmente depois de tantos atos pérfidos que cometeram, sejam sem intenção ou com a intenção de salvar o maior número de pessoas e informações importantes para o mundo. Os irmãos mais uma vez se veem sozinhos, podendo contar apenas com eles mesmos para definir o que é certo ou errado naquele momento de suas vidas e muitas vezes fazendo o que normalmente seria errado, mas que naquela situação talvez fosse a única alternativa.
Já estamos beirando o fim aqui e de perguntas ainda sem respostas vivemos, muita coisa ficou para esclarecer no último volume, apesar de neste muitas já terem se esclarecido, mas sabe como é o Lemony, ele te responde 10 perguntas e te traz mais umas 50. O que nos aguarda no último volume? A esperança de uma vida sem desventuras e muitas respostas. Que venha O FIM.