Conchego das Letras 06/05/2016
Resenha Completa
Cá estou eu novamente para falar sobre livros que amo.
Vocês já ouviram falar em Robin Cook? É um médico que virou escritor e o primeiro livro dele que caiu em minhas mãos foi Coma, depois li mais umas cinco obras do autor. Claro que também li tudo o que foi produzido sobre House, isso, amo livros médicos. Suspense médico então, é meu sonho de consumo.
Uns dois anos atrás, algum amigo me indicou um seriado chamado Rizzolis and Isles. Achei medonho, eu e o amigo discutimos por horas e não chegamos a um consenso, apenas que temos gostos muito diferentes.
Logo depois do Carnaval desse ano, peguei uma promoção de e-books e tinha uma resenha que dizia: “A nova Robin Cook”. Ou algo parecido. Resolvi experimentar e... Três semanas, cinco livros e uma nova paixão depois, venho compartilhar com vocês essa descoberta: Tess Gerritsen.
Tess é uma médica que resolveu se transformar em escritora para poder se dedicar aos filhos e estar sempre por perto sem a pressão que a medicina exige.
A série Rizzolis & Isles, livros, é muito, mas muito melhor que a série. E não veja nesse meu comentário qualquer homofobia porque os roteiristas criaram um romance entre a policial durona e a médica legista para lá de inteligente.
“A emoção mais íntima que duas pessoas podem partilhar não tem nada a ver com o amor nem com o desejo, mas com a dor.” – página 101 de O Cirurgião
Não vou falar sobre a série completa, a resenha é apenas sobre os dois primeiros livros: O Cirurgião (2001) e O Dominador (2002) – eu prefiro o título original, O Aprendiz. Mas por que só sobre os dois primeiros? Porque eles são uma série dentro da série.
Em O Cirurgião somos apresentados a Jane Rizzoli, detetive do departamento de Homicídios da polícia de Boston. Uma mulher sem grandes atrativos físicos, como ela mesma se define, mas com uma determinação ferrenha. Ela está há dois anos no departamento, que agora enfrenta o maior desafio dos últimos anos: caçar um assassino serial cruel e misterioso, que mutila mulheres solitárias, vítimas de violência e, graças a sua inteligência e preparação, não deixa uma única pista para trás. Contei o livro inteiro e não dei um único spoiler, porque tudo o que falei é explicado pelo analista forense antes do meio da história. Vou deixar de lado a parte de como ele mata as vítimas, mas quem for ler, prepare-se, é necessário estômago, porque Tess é uma escritora detalhista.
“O lugar onde vamos depende daquilo que sabemos, e o que sabemos depende do lugar onde vamos.” – página 42 de O Cirurgião
Tess constrói um suspense envolvente, difícil de largar e que não deixa pontas soltas, obrigando o leitor a ler o último parágrafo da última página para entender quem fez o quê com quem. O onde, é claro, desde o primeiro assassinato.
O segundo livro, O Dominador, não é uma continuação do primeiro, mas ao mesmo tempo é uma maneira de fechar a história anterior. Não se preocupem, o livro 01 tem um final coerente e satisfatório, que não deixa dúvidas para o que acontece. Nesse ponto, Tess me lembra de outro mestre do suspense, Thomas Harris e seu Hannibal, que pode ser lido individualmente sem prejuízo de compreensão.
Em O Dominador, somos apresentados a um assassino que atua a mais de duas décadas, em diferentes partes do mundo, mas que deu o azar de colher vítimas no quintal de Rizzoli.
Repararam que quase não falei de Isles? Pois é, Maura Isles, a Rainha dos Mortos, alcunha que ganhou dos policiais e companheiros de trabalho, aparece pouco nos dois primeiros livros. São pequenas participações no segundo, para ser honesta. Sua presença torna-se vital para as investigações a partir do terceiro livro: The Sinner.
“Nós sonhamos nossos sonhos, pensou Rizzoli, e às vezes eles nos levam a lugares que jamais antecipamos”. Página 249 de O Dominador
Agora, querem saber o que é mais incômodo nos livros da autora? A maldade não é sobrenatural, não é extraterrestre. São casos de polícia que podem acontecer em qualquer lugar do mundo.
Aí vocês se perguntam, “e você recomenda a leitura?”. Sim, eu recomendo!
Não são livros fáceis, não tem fofura, o romance – quando acontece – é em meio ao caos. Mas um livro, ou uma série, em que as mulheres dominam um mundo masculino e mostram a todo momento que precisam se masculinizar, criar armaduras, para viver nesse meio e mesmo assim não abrem mão de sua determinação de serem mulheres e realizadas precisa ser lido e conhecido.
Em vários momentos, Maura questiona suas escolhas, não as profissionais, mas as de vida. Aqui é onde discordo fortemente do seriado de televisão. Tess criou mulheres comuns. Fortes e frágeis, inseguras e determinadas. Pessoas comuns, que vivem e dominam um ambiente masculino, sem questionar a própria sexualidade. Em todos os livros, Maura encontra tempo para um relacionamento; Jane pode derrubar portas a pontapés, mas fica linda em um vestido de noiva. O seriado partiu para o estereótipo: se são mulheres em um mundo de homens, é porque querem ser como os homens, logo, são lésbicas. Reduziu a profundidade psicológica tão bem construída pela autora. O que foi lamentável.
site: http://conchegodasletras.blogspot.com.br/2016/05/resenha-rizzolis-isles-tess-gerritsen_3.html