Fernanda631 29/10/2022
Sombras Prateadas
Sombras Prateadas é o quinto e penúltimo volume da série Bloodlines, spin-off de Academia de Vampiros.
Esse de longe, foi o melhor tomo da série. Não querendo desmerecer os anteriores, porém, este teve de tudo e mais um pouco. Ação, luta, mistério e é claro, muito romance. Desde Coração Ardente, temos a visão do Adrian, ou seja, podemos ver os dois lados do relacionamento central da história e eu fiquei imensamente grato por ter o prazer de conhecer mais a mente de um dos melhores personagens. Vemos as dores, as dificuldades e os problemas de uma pessoa tão debilitada e carente de amor e para mim, isso traz um brilho extra para a jornada de Bloodlines.
Apesar de tudo o que foi dito anteriormente, a verdadeira estrela deste volume foram os alquimistas. Não, isso não é nada bom, porém, eles tiveram um imenso destaque. Tivemos a oportunidade de ver como essa organização é e age. Me assustei bastante em relação a isso, pois eu imaginava que eles eram cruéis, mas não ao ponto do que vemos durante toda a narrativa. Acho que eles dariam um ótimo governo distópico.
Um dos diferenciais desse volume é que os protagonistas estão fisicamente e mentalmente separados. O vampiro Adrian e a alquimista Sydney desafiaram as leis e as tradições de seus povos e embarcaram em uma relação perigosa e proibida. Agora eles serão punidos por suas escolhas e terão que enfrentar vários empecilhos em nome do amor que os une.
Sydney e Adrian estão com problemas. Ela, presa em uma instituição alquimista para reeducação, uma vez que todo seu envolvimento com os vampiros foi descoberto - principalmente o emocional que tinha com Adrian. O garoto Ivashkov, por sua vez, entrou em um turbilhão de tormenta sem Sydney ao seu lado. Ela era seu bastião de esperança, a luz para a escuridão do espírito - sem ela, ele é só uma sombra. Enquanto a garota tenta encontrar pequenas brechas na rígida e atormentadora instituição, Adrian precisa lutar contra a própria mente para permanecer são e ajudar a mulher que ama.
O ponto principal e o mais ricamente abordado pela Richelle nesse livro foi o da intolerância. No arco da Sydney, certamente o mais importante dentro da história, já que ele guia muito da narrativa do Adrian também, é brilhante. Os alquimistas - até então uma organização centrada, meticulosa e rígida -, são monstruosos. Para cumprir com toda essa pose de perfeição, de ordem e de resiliência, eles usam de métodos perturbadores. Sydney passou por cima de suas leis mais antigas e, por isso, é considerada impura. Uma aberração. E precisa ser reeducada.
A instituição de reeducação é quase uma clínica de lavagem cerebral. Os prisioneiros precisam seguir regras controladoras, precisam dizer e ouvir coisas absurdas e aceitá-las como verdades e, principalmente, precisam baixar a cabeça diante de um cenário tirânico e opressor. Os alquimistas são terríveis; é impossível ler e não ficar enojada com sua repressão, preconceito e a ideia assustadora de que, em suas mentes, eles estão certos. De que oprimir e torturar é a maneira correta de reeducar aqueles que foram contra suas leis ultrapassadas. Sydney é uma voz e viveu muito da realidade para saber que tudo o que ensinaram a ela é uma grande mentira. Que os verdadeiros monstros não são os vampiros, mas aqueles com quem a garota convivei toda uma vida.
O livro é maduro na apresentação desse arco. Ele é, inclusive, muito atual por isso. A intolerância é um problema da sociedade. A intolerância mata, tortura e prejudica todos os dias. Na história, vemos isso representado pela maneira com que os alquimistas encaram os vampiros; na vida real vai entre as minorias.
A ideia do poder na mão de um intolerante é exatamente o que a Richelle apresenta durante a prisão de Sydney; e ver a personagem lutando silenciosa, se erguendo e espalhando a rebeldia entre os outros prisioneiros, isso é de fazer o coração bater mais forte.
Do outro lado, Adrian está lidando com a depressão e a solidão e as sombras que espreitam sua mente com o poder do espírito. Ele precisa de Sydney mais do que uma companheira e amiga, mas um apoio para escapar dessa dor e dessa submissão à loucura se embrenhando em seus pensamentos. O espírito é compulsório, ele fala com Adrian, o incita a fazer as coisas, o perturba com seus medos. Adrian luta contra isso, mas sua força pode não ser suficiente para impedi-lo de ser prejudicado pelos próprios poderes.
São dois núcleos bem distintos, igualmente conectados. Sydney está presa, Adrian está buscando por ela - preso dentro dos próprios temores. Existe muita incerteza sobre o caminho dos dois, nenhuma brecha de esperança. E, ainda assim, eles não param de lutar.
Sombras Prateadas é um livro excelente. A qualidade dessa série tem crescido com o passar dos volumes.
Por ser o quinto e penúltimo livro da série Bloodlines, a obra é pura ação do início ao fim (além de contar também com altas doses de suspense, romance e emoção). De fato, é impossível não ficar com o coração apertado durante a leitura, ou até mesmo ignorar a sensação de que algo muito ruim está prestes a acontecer.
Mais uma vez em meio à guerra, ao preconceito e a dor, a autora nos fala sobre valiosas lições. Mostrando-nos a realidade por trás do amor verdadeiro, dos relacionamentos duradouros, e dos tabus enraizados em nossa sociedade.