Paula 21/03/2013Callie vive ao norte de Londres, em um subúrbio tranquilo, com Rae, sua filha de cinco anos. Antes do nascimento de Rae, Callie levava uma vida bem diferente, como uma reconhecida engenheira de som, mas largou o trabalho e o local onde vivia para poder tomar conta de sua filha, que havia nascido com um problema cardíaco. Para Callie é difícil se manter como mãe solteira, já que o pai de Rae, Tom, um cameraman da vida selvagem talentoso, que vive viajando de um lugar para o outro, não está presente na vida da filha como Callie gostaria. O mundo parece pesar em seus ombros e não ajuda em nada ter vizinhos tão estranhamente hostis, até mesmo com Rae, que não consegue fazer amizade com as outras crianças.
Sua única amiga era Suzy, que morava do outro lado da rua, com seus três filhos e seu marido, Jez. As duas conheciam-se há dois anos, desde que Callie se mudara para Churchill Road. Mas Callie sentia-se mal, sabendo que com exceções de bebês e crianças, elas não tinham nada em comum. A amizade entre as duas mulheres não era uma escolha, mas uma carência: a estrangeira americana em Londres e a mãe solitária. Mas Suzy não parecia perceber isso e para piorar as coisas, Suzy preenchia os dias vazios com Callie, pagando-lhe as saídas, já que a amiga não tinha condições de arcar com nada disso. Era difícil ver também o quanto Suzy se esforçava tanto pelas crianças e por Rae, até mesmo por Callie.
O marido de Suzy tinha um negócio que prosperava, apesar de Suzy nunca ter se interessado realmente no que Jez fazia. Sua casa valia uma fortuna e Suzy sempre contava para Callie como as coisas iam bem entre o casal. Apesar disso, Suzy sentia falta do Colorado. Mas o que ela não contava à Callie era a constante luta que travava consigo mesma por viver uma ilusão. Jez sempre fora um mistério, mesmo antes de se tornar seu marido. Vivia enfurnado no escritório, deixando Suzy encarregada de cuidar dos filhos. Ele também a rejeitava como mulher e ainda por cima era mal vista pelo sogro. Mas para ela, tudo o que importava era a segurança de seus filhos.
Assim que Callie consegue seu emprego de volta, sabendo que não pode ficar enfurnada em casa (afinal, já se passaram cinco anos!) e mesmo com receio de ficar longe de Rae, ela sabe que precisa mudar alguns aspectos da sua vida: não depender do dinheiro de Tom, conhecer novas pessoas, tornar-se um pouco mais independente de Suzy. Rae não ficaria sozinha, passaria mais tempo na escola, para as atividades extras. Além disso, Suzy prometeu ficar de olho em Rae, assim como Callie cuidara tantas vezes de seus filhos, afinal, os vizinhos servem para isso, ajudam um ao outro quando necessário. E falando em vizinhos, um casal acabara de se mudar para uma casa ao lado da de Suzy.
Debs, com 48 anos, estava morando pela primeira vez com um homem, coisa com a qual ainda estava se acostumando. Ela não queria ser incomodada pelos vizinhos, e depois de receber uma visita de boas-vindas de Callie e Rae, resolveu que não atenderia mais a porta. Sua casa ficava grudada a casa de Suzy e Debs não suportava qualquer tipo de barulho. Uma criança chorava em um quarto, um secador de cabelo era ligado no banheiro etc., ela só queria se livrar daquele tormento. Debs também tinha dificuldade para pegar no sono, apesar dos remédios que tomava, parecia que o fantasma da garota Daisy Poplar voltara a visitá-la. Uma mulher estranha e taciturna, que mesmo com o conselho do marido de não voltar a trabalhar com crianças depois do que aconteceu, resolveu voltar a trabalhar como professora na mesma escola onde Rae e os filhos de Suzy estudavam.
Callie havia ficado presa no trabalho e pedira a Suzy para buscar Rae. Com o seu filho doente, Suzy ligara para a escola para que a professora de Rae, Debs, a levasse para casa, lembrando-a de que a garota possuía uma coordenação motora ruim e precisava ser segurada pela mão. Callie recebe um telefonema de Suzy dizendo que Rae havia caído na rua e machucado a perna, o que faz com que Callie fique em pânico, pedindo para a amiga levar a garota para o hospital e contatar o cardiologista.
Callie está tensa, muito chateada com a amiga, mas reconhece que Suzy estava com o filho doente. No entanto, quando a polícia é chamada e Debs interrogada, ela não se lembra se Suzy pediu para que Debs segurasse a mão da criança, na verdade, Debs não consegue lembrar do acidente, deixando-a extremamente ansiosa e fazendo-a tomar atitudes estranhas.
Cria-se, então, uma tensão entre a amizade de Callie e Suzy. Em quem confiar agora? Especialmente quando uma mulher suspeita está morando na mesma rua que elas.
Uma Questão de Confiança é um livro com uma história perturbadora, um suspense psicológico de tirar o fôlego e arrepiar, focando nas mães e suas vidas. Enquanto lia o livro senti como se estivesse assistindo a um filme de suspense, quase roendo as unhas. Louise Millar consegue explorar o dia a dia de pessoa comuns que vivem dilemas e conflitos, mas que por trás trazem segredos obscuros.
A narrativa é maravilhosa, com um enredo muito bem elaborado e um clímax de tirar o fôlego! Os capítulos são intercalados, narrados em primeira pessoa por Callie e em terceira pessoa por Suzy e Debs.
Os personagens são muito bem elaborados e para quem gosta de conflitos psicológicos e suspense, Uma Questão de Confiança é altamente recomendado.