Sandi 11/02/2015
1Q84- Haruki Murakami
Confesso que essa é uma das resenhas mais difíceis que escrevi, talvez pelo fato de que a leitura de 1Q84 não foi nada fácil. Sendo meu primeiro livro de 2015 e concluído só em fevereiro, essa obra me tomou mais dias que o normal, considerando que não é tão extensa. Porém, o número de páginas não corresponde a complexidade que Haruki Murakami impôs a esse livro. E essa dificuldade em expressar os sentimentos paradoxais que esse livro me impôs é função proporcional a essa complexidade.
Em 1Q84, Murakami nos apresenta dois personagens aparentemente desconexos: Aoname, uma mulher independente, bem-resolvida e com uma profissão mortal e Tengo, um professor de matemática, aspirante a escritor, que vive os seus dias tentando passar despercebido. Duas histórias que se entrelaçarão a medida que Tengo, em um plano fraudulento, reescreverá uma história fantástica- Crisálida do Ar- escrita inicialmente por uma jovem de passado obscuro.
É impossível, nesse primeiro volume da trilogia, estabelecer a que estilo literário essa obra pertence. Temos momentos dramáticos, fantasia, romance e suspense, tudo isso em um livro que flerta com a distopia. Por esse motivo, é fácil entender porque muitos consideram esse como o conjunto de livros mais ambicioso do autor. Nunca havia lido nada de Murakami antes, tampouco de algum autor japonês, porém vemos que seu estilo é completamente único e diferente dos norte-americanos ou ingleses a que estamos acostumados.
Elogio, a princípio, a construção elaborada que Murakami fez da sua narrativa. Está claro, que estamos diante de uma história extremamente bem pensada, em que cada elemento, em algum ponto, se entrelaçará com os demais. A parte de suspense do livro, que começa a se revelar nos capítulos finais, é muito interessante e, definitivamente, é o ponto alto do livro. Vou ler a continuação especialmente para entender o desenrolar dos acontecimentos no que tange ao passado da jovem Fukaeri. O romance apenas é ensaiado, porém algo entre Tengo e Fukaeri me pareceria muito mais interessante do que a proposta do livro.
A elaboração das personagens também é complexa e, nesse ponto, o autor realmente quis que cada aspecto de Aoname e Tengo ficassem claros para o leitor. Dentre os dois, embora Aoname seja mais misteriosa, me apeguei mais a Tengo, com seus sentimentos de inferioridade perante o mundo, e a Fukaeri, que rouba todas as cenas das quais participa. Tenho que frisar também o estilo de escrita de Murakami. Enquanto nos capítulos de Aoname, a qual se interessa por história, o autor abusa de referências a datas e acontecimentos históricos, quando fala sobre Tengo, as inspirações são matemáticas e literárias. É admirável esse modo como o escritor nos situa diante das personagens.
Porém, por ser um livro tão ambicioso (inclusive inspirado no maravilhoso 1984), sinto que toda essa expectativa criada ao seu redor, com todas as críticas positivas, tenha me feito esperar uma obra muito melhor do que 1Q84 realmente é. Esse primeiro volume, me pareceu no fim, uma grande introdução ao mundo que Murakami criou. Com suas 400 e tantas páginas, senti que estava diante de uma enorme descrição, muitas vezes extremamente repetitiva e cansativa. O autor também aproveita todos os momentos possíveis para fazer críticas a sociedade seja na questão religiosa ou feminista. Embora, a função do escritor seja repensar a realidade, essa intervenção é demasiada, como se ele fizesse do seu livro um enorme protesto. Faltou fluidez e também um climax, um momento de ruptura, o qual em muitos capítulos foi ensaiado, mas nunca chegou a ocorrer. No fim, é como se você tivesse corrido dezenas de quilômetros para se deparar com uma nova estrada, com apenas algumas placas sinalizando o caminho, mas sem saber o destino que te espera. Embora o último capítulo tenha dado a ideia de toda metalinguagem que cerca a trilogia, ainda assim, achei seu fundamento um tanto monótono.
Considerando, portanto, o Volume 1 como uma introdução, acho válida sua leitura para se adentrar ao mundo que Murakami criou. Se o destino no final do caminho valerá a pena ainda não sei, mas estou disposta a continuar a viagem, em busca de emoções maiores no livro seguinte.