Eder 05/03/2013
Sob a Redoma Stephen King
E se, de repente, sua cidade fosse isolada do restante do mundo e você se visse separado de parte de sua família e dos demais por uma barreira invisível? Esta é a premissa de Sob a Redoma, onde Chesters Mill, uma pequena cidade, localizada no Maine, acaba se encontrando na situação acima. Não se sabe a causa, origem ou natureza desta barreira.
Enquanto o exército americano tenta encontrar uma maneira de abrir a redoma, os habitantes locais começam a perceber que existem dificuldades mais urgentes para tratarem. Problemas ecológicos começam a assolar a pequena cidade, já que pouco, ou quase nada, de chuva ou vento passam pelo domo e o clima local começa a se elevar. Alguns acidentes acontecem, pessoas acabam morrendo e aparelhos eletrônicos explodem ao se aproximarem da barreira. Mas o verdadeiro problema da cidade se encontra na natureza humana daqueles que ficaram trancados pelo lado de dentro. Ambição pelo poder e insanidade, algumas vezes andando juntas, farão com que a cidadezinha, se veja em uma situação beirando o desastre.
É uma pena que King tenha estabelecido, neste romance, personagens unidimensionais, deixando sempre claro quem são os mocinhos e quem são os vilões da história. Os poucos personagens que aparentam escapar destes rótulos são estúpidos, manipulados e ganham pouco espaço na trama. Ainda assim, Junior Rennie, merece um destaque especial, por ser, sem dúvidas, o personagem mais marcante, repugnante e assustador de Sob a Redoma.
Este detalhe, porém, não prejudica a obra, pois o enredo do livro traz alguns dos aspectos que tornaram King conhecido como mestre do horror. O autor cadencia a narrativa conforme convém à trama, ora, de maneira lenta e minuciosa, ora acelerada, tirando o fôlego e chocando o leitor, fazendo com que mal sintamos a morte de alguns personagens em função da luta pela sobrevivência dos demais. Aconselho, aos incautos, estarem preparados para encontrar vísceras e massa encefálica esparramadas pelas mais de 900 páginas deste livro, mesmo que isto soe redundante aos leitores mais antigos do autor.
Mas não é somente disso que Sob a Redoma se sustenta. Se permitindo uma referência à sua própria obra, citando o ótimo filme O Nevoeiro (The Mist) dirigido por Frank Darabont, baseado em um conto homônimo de seu livro Tripulação de Esqueletos , King ilustra da melhor maneira possível a situação dos habitantes de Chesters Mill, comparando esta com a daquelas pessoas enclausuradas no mercado, no longa de 2007. Em ambas as circunstâncias, as pessoas, devido à reclusão e ao desespero, revelam sua verdadeira natureza não tão civilizada assim.
Sob a Redoma é daqueles livros que levantam questões pertinentes à nossa própria situação. Podemos não ter uma abóbada palpável sobre nossas cidades, mas será que não temos uma sobre nossas vidas? Não estamos à mercê de políticos que, em sua maioria, só defendem seus próprios interesses em detrimento às necessidades da população? Não somos subjugados por autoridades, que se protegem atrás de uma farda ou posição política? Não temos presos inocentes, pagando por crimes que não cometeram, enquanto os verdadeiros criminosos estão soltos por aí? Claro que não. Políticos como Big Jim, não existem na vida real. Abuso de autoridade e injustiças também não.
O desfecho do livro pode desagradar alguns leitores, mas deve-se levar em consideração que o motivo de a Redoma estar ali é simplesmente porque King quis nos contar a história daqueles que ficaram embaixo da cúpula, enfrentando seus próprios monstros interiores e não os ensejos dos que a mantinham ali. Aprendi, com o tempo, que ler Stephen King se encaixa no antigo jargão que diz que o melhor em uma viagem é viajar e não a chegada ao destino. E Sob a Redoma se mostrou uma excelente viagem, portanto, não tenho como dar outra nota, que não seja a máxima.
Sob a Redoma está sendo adaptado para televisão e será exibido pelo canal americano, CBS, com previsão de estreia para 24 de junho, ainda este ano.