Caíque Pereira 01/10/2013Uma boa proposta e uma péssima execuçãoDepois de ler “Lola e o Garoto da Casa ao Lado”, resolvi aproveitar mais um romance tranquilo da Novo Conceito. Bom, talvez não tão tranquilo assim. “Tudo o que ela sempre quis” narra a história de Natalie Bishop, uma médica em residência que vê a sua vida ser transformada da pior maneira possível quando um escritor lança um livro contando sobre o período em que elas e suas amigas estavam na faculdade e uma delas morreu em um suposto acidente. A questão é que neste romance que rapidamente se tornou um best-seller, o autor aponta Natalie como a assassina. Começa então sua busca por respostas que levam a perguntas enterradas em seu passado. O texto também conta com narradores múltiplos, como as outras antigas amigas de Natalie, Laura e Madison e Cole, o irmão da garota morta pelo qual ela foi irrevogavelmente apaixonada.
Esse plano de fundo vasto e que se arrisca em ser complexo aumenta as expectativas de qualquer leitor que aprecie e note uma proposta para um bom suspense, o que não ocorre no livro. Barbara foca demasiadamente no passado – por mais que ele seja essencial para o desenvolvimento do enredo – e nas relações interpessoais, e o próprio suspense da busca pela verdade da morte de Emily passa a ser um combustível para que as cenas ocorram, não o carro-chefe da obra como a capa, a sinopse e os comentários sobre ela sugeriam.
O início do livro é movimentado como tem que ser uma história que deseja prender o leitor desde suas primeiras páginas, onde entramos na atmosfera criada pela autora rapidamente. É admirável sua facilidade em nos puxar de nossas realidades e nos colocar lado a lado com seus personagens, porém tal habilidade contrasta com sua ineficiência em montar um conto coeso. Com essa falta de protagonista definido, Freethy passeia pelas narrações sem parecer se importar com o ritmo da narrativa, onde andamos, corremos, paramos, voltamos e repetimos em diferentes ordens desconexas. O conflito mescla personalidades entre os personagens, tanto que quando algum deles esboça um comportamento divergente de tudo que nos foi apresentado sobre ele até ali, há um espanto previsível.
Entendo que a escritora almeje que sua obra seja um suspense que nos ofereça várias possibilidades, várias opções de assassinos e que nós indiquemos nossos próprios suspeitos e nos surpreendamos com as revelações finais, mas tudo seria bem melhor sob um único ponto de vista neste caso de enredo e proposta. Da maneira com que foi feita, Natalie é a única personagem bem definida, enquanto os coadjuvantes balançam entre a indecisão de seus modos de ser. Quando tentam realmente ser quem deveriam, causam estranhamento, logo há poucas ressalvas para os personagens de “Tudo o que ela sempre quis”.
Nos meados, os problemas se intensificam e a leitura acaba por se revelar maçante, resultando em minha dificuldade em prosseguir nesse período e terminá-lo. Isso ocorreu, somente, pela curiosidade de saber como qualquer obra termina e pela vontade em seguir para minha próxima experiência literária. Como havia dizendo, a eficácia de Barbara em nos transportar para as ruas de São Francisco é invejável e faz parecer fácil escrever dessa maneira e encaixar a trama ao clima necessário para a história se desenrolar. A diagramação da Novo Conceito equipara-se ao tom da obra, em detalhes envernizados na capa e poucas inovações na tipografia e mesmo algumas páginas tendo descolado do miolo do meu exemplar, possuo apenas uma objeção específica à sua parte física: a arte da capa. Ela me passou a ideia de um enredo colegial, juvenil, até mesmo de férias de verão; tudo menos um suspense embalado de romances que dança entre os públicos-alvo adultos e jovens. Isso cria um sentido raso, devido às lembranças dos tempos de faculdade e a atual vida madura de cada um dos personagens. Mais uma confusão que podemos agregar à história.
O romance entre Natalie e Cole não poderia salvar a obra e apesar de clichê, é um ponto positivo. Ele consegue cativar o entendimento do leitor sem abusar de sua benevolência com as estruturas da história. Dilemas como o de Laura e seu marido de comportamento suspeito e misterioso também são bons consumidores de páginas, porém plots como o de Madison em busca de entender por que Dylan não se atrai por ela são indubitavelmente desnecessários à trama e talvez exagerados à personagem.
Queria, de verdade, aproveitar a leitura de “Tudo o que ela sempre quis”, entretanto 85% dos capítulos foram atravessados pela necessidade de terminá-la o quanto antes, logo não posso denominá-la como uma boa experiência. Não será um livro que recomendarei e também não sugerirei que alguém que irá lê-lo não o faça; o que eu sempre indico é que leiam, independente da crítica e tomem suas próprias conclusões. É provável que muitos amem a trama e eu, sem dúvidas, leria outros textos com foco nas amigas de Natalie ou no futuro desse leque de personagens. Talvez Freethy resolva escrever algo com senso. Nunca se sabe.
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