Francine 09/01/2014Lutar, mesmo quando sequer sabemos se conseguiremos proteger o que nos importa...Travessia é o segundo volume da trilogia distópica Matched e, por meio dele, continuei encantada com a história tanto quanto no primeiro volume. Se Destino nos faz pensar sobre a importância de ter escolhas, Travessia nos faz pensar sobre a importância de abraçar o que acreditamos até as últimas consequências.
Desta vez, temos capítulos alternados entre as narrativas em primeira pessoa da Cassia e do Ky, o que nos permite entender com maior profundidade os sentimentos que têm um pelo outro. Agora que Cassia descobriu haver infinitas possibilidades sob o rigoroso controle que a Sociedade exerce, é incapaz de ignorar o desejo crescente de assumir-se dona de sua própria vida. Ela se aproxima de Ky tanto quanto pode, mas seu amor cresce em igual proporção ao perigo que os cerca.
Ky é enviado pela Sociedade para as Províncias Exteriores, de onde todos sabem que ninguém jamais retornou, e Cassia entende que pode perdê-lo para sempre. Determinada, ela não mede esforços para fugir e encontrá-lo, independente de onde esteja, mesmo que nunca tenha enfrentado nada além da comodidade que a Sociedade oferece.
Em sua busca por quem ama, Cassia descobre cada vez mais informações sobre um grupo organizado que pretende destruir a Sociedade, intitulado A Insurreição. Em meio a um deserto árido, com escassez de alimento e água, ela percebe ter vivido em uma redoma enganosa que a afastava da realidade. A morte é o presente que a Sociedade despeja sobre aqueles que considera seus inimigos, ainda que muitos deles sequer a mereçam e estejam impotentes diante dela.
Cassia entende que, para se manter, a Sociedade condena tudo o que a contraria. E embora devesse se assustar com a perspectiva de ser igualmente condenada e morta por ser uma desertora, ela não desiste de reencontrar Ky para que, juntos, se aliem aos rebeldes – embora não tenha certeza se realmente existem.
Travessia não apresenta uma narrativa eletrizante. Na verdade, é uma leitura calma, demarcada pela sensibilidade poética de uma importante (e irreversível) mudança de perspectiva. O triângulo amoroso de Destino permanece e Xander surpreende ao representar um papel igualmente importante no enredo. Assim como Ky, notamos que Xander também influencia as decisões da Cassia, mas ouso dizer que o romance não é exatamente o centro da história.
A paixão da Cassia vai se desvirtuando do foco romântico para se consolidar numa postura ousada e madura, de quem adquiriu um perigoso conhecimento e agora quer assumir todos os riscos que ele trouxe consigo. Particularmente, tenho a série Matched entre as minhas favoritas. Compreendo que muitos podem desgostar de Travessia por não conter cenas repletas de aventura ou ação, mas a calma fluência de sua narrativa e o uso de recursos líricos foram as grandes responsáveis por me conquistar como leitora.
Este é um livro para quem procura uma história marcante não pelas cenas descritas, mas pelo amadurecimento pessoal dos personagens e por representar o que, muitas vezes, nós mesmos devemos ser capazes de fazer: lutar pelo que acreditamos, mesmo quando sequer sabemos se conseguiremos proteger o que nos importa.
Mais uma vez, a capa é maravilhosa! Já mencionei na resenha de Destino que considero as capas desta série as mais significativas. Na capa deste volume, o fato da modelo estar quebrando sua própria redoma demonstra toda a iniciativa da protagonista ao longo de Travessia.
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