Gustavo Simas 19/08/2019Uma pseudo-autobiografia parcialJames Joyce não é fácil de se entender.
Autor de uma das obras consideradas mais difíceis de se ler de todos os tempos ("Ulisses" - ou "Ulysses"), o autor narra aqui em Retrato do Artista Quando Jovem as desventuras de Stephen Dedalus, um possível heterônimo seu. Os diferentes atos/segmentos do livro são evidentes:
- O início é infantil e ingênuo, carrega um tom despreocupado e marrento; livre e cartunesco. Stephen criança brinca com os desafios que surgem, faz das laranjas limonada, e aprende de tudo um pouco, e um pouco de tudo.
- A puberdade/pré-adolescência marca o início da ascendência dos desejos e do contato com o espiritual, com a Igreja, com os indivíduos diáfanos do clero religioso. O legal é perceber que as obrigatoriedades e demandas da juventude no início do século XX são muito semelhantes às de hoje.
- O jovem adulto Dedalus monologa sobre questões filosóficas, sobre metafísica, sobre a sua vida, e a vida de outrem. E encerra seu "diário" com uma das melhores frases de encerramento que já li.
No entanto tais divisões não são claras e bem definidas. Joyce constrói capítulos longos, com parágrafos extensos, frases compridas. Todo a narrativa se conecta, e noção de tempo é fosca. Sendo assim, é impreciso datar bem as ações. O que dificulta e também deixa mais fantástica a leitura.
P.S.: fui atraído por essa obra ao ter lido um livro de poesias do Manoel de Barros, "Retrato do Artista Quando Coisa" o que, por sinal, também é muito bom, sendo inspirado bastante no linguajar infantil da primeira parte desta obra de Joyce.