Evy 13/02/2021Fantástico!Jane Eyre é fantástico. Uma narrativa que cativa desde as primeiras páginas e que te engole ao longo da leitura a ponto de você não conseguir mais parar. Uma proeza que começo a achar, é de família, já que Emily Brönte teve o mesmo efeito sobre mim com o amado Morro dos Ventos Uivantes. Jane Eyre, é um romance de formação que acompanha a jornada da protagonista Jane ao longo de sua vida. Uma autobiografia, escrita em primeira pessoa e que traz vários elementos da literatura gótica na ambientação, nas construções e nos acontecimentos misteriosos que acompanham a trama do livro.
A história de Jane Eyre é certamente incomum, outra proeza de família pelo visto, e bastante revolucionária desde o início já que Jane contraria os costumes da época nos quais as mulheres tinham como propósito absoluto casar com um homem de bens para ter uma vida tranquila. Jane é órfã e desde criança, quando se vê maltratada pela tia e primos, se rebela exigindo ir para um orfanato onde também se vê controlada e passando por dificuldades relacionadas aos ditames da sociedade. Cansada de estar à mercê da vontade de todos, decide trabalhar e ser dona de seu próprio destino. Acaba sendo preceptora de uma garota numa propriedade chamada Thornfield Hall, onde é super bem recebida e sente que encontra um lar pela primeira vez em sua vida. Nesta propriedade conhece seu patrão, Sr. Rochester, com quem desenvolve uma amizade que enreda ao amor e testemunha acontecimentos estranhíssimos que culminarão na descoberta de um segredo que selará seu destino.
Jane se mostra ao longo das páginas uma personagem consciente de que merece mais do que é imposto às mulheres da época e que se opõe a desempenhar um papel preestabelecido pela sociedade. Ela passa por privações terríveis, é tratada como um ser sem valor, não é bonita, não é rica e não tem a quem recorrer além dela mesma e ainda assim se recusa a galgar um lugar na sociedade através do casamento. Esses pontos, por si só, foram suficientes pra que eu a admirasse, mas, além disso, a forma como Charlotte escreve o livro falando diretamente com o leitor em vários momentos, é um recurso literário fantástico que nos faz sentir como se estivéssemos próximo da protagonista e é impossível não se afeiçoar a ela e torcer para que tenha sucesso em suas aspirações.
E muito embora, no fim, depois de tantas reviravoltas e altos e baixos, ela tenha se casado, me decepcionando um certo tanto, isso foi feito por livre escolha e sem a menor necessidade de salvação, já que sua vida já estava estabelecida e tranquila por seus próprios esforços e méritos. Não há como negar a genialidade da autora ao conhecer essa narrativa poderosa e essa história incomum e tão bem delineada. São tantas passagens que deveriam ser destacadas que essa resenha ficaria gigantesca, mas não posso deixar ela terminar sem uma das citações que me fizeram colocar esse livro dentro dos meus favoritos da vida:
“Das mulheres se espera que sejam muito calmas, de modo geral. Mas as mulheres sentem como os homens. Necessitam de exercício para suas faculdades e espaço para os seus esforços, assim como seus irmãos; sofrem com uma restrição rígida demais, com uma estagnação absoluta demais, exatamente como sofreriam os homens. E é uma estreiteza de visão por parte de seus companheiros mais privilegiados dizer que elas deveriam se confinar a preparar pudim e tricotar meias, a tocar piano e bordar bolsas. É insensato condená-las ou rir delas se buscam fazer mais ou aprender mais do que o costume determinou necessário ao seu sexo”.
Simplesmente sensacional. Recomendo muitíssimo a leitura!