Paulo Silas 10/03/2018Numa pacata cidadezinha de Ohio, tudo vai bem como de costume. Pessoas trabalham, crianças brincam e cachorros correm atrás de frisbees. É uma tarde quente de verão. A única preocupação, também costumeira, dos habitantes daquele lugar é com o calor - isso pelo menos até o momento em que um peculiar furgão inicia a descida numa ladeira e dá início a um tiroteio. Medo, aflição e confusão passam a tomar conta da região, principalmente quando o já inexplicável tiroteio toma proporções que beiram ao absurdo, pois fogem da realidade crível de qualquer dos moradores. É partir disso que a história se desenrola, fornecendo ao leitor, aos poucos, os elos que se vão se unindo e possibilitando a compreensão do que ocorre naquela localidade.
O enredo se desenvolve de maneira à fornecer gradualmente informações que possibilitem ao leitor o entender da história. No início, tudo é muito confuso - tanto pela intenção do autor em explicar as coisas somente com o decorrer da obra, como pelo excesso de personagens. Assim que o tiroteio tem início, o leitor vai sendo apresentado aos personagens - ao estilo Stephen King, com suas descrições minuciosas, algumas excessivas, sobre a vida de cada qual. Alguns desaparecem tão rápido quanto surgem no livro. Enquanto isso, idas e vindas em outros tempos e lugares vão sendo relatadas na obra, estando aí as peças que precisam ser juntadas para entender o motivo de todo aqueles caos que se instaura. Ao final, tudo se encaixa, cujo sentido da trama demonstra também o notável brilhantismo do autor em criar excelente histórias.
Sobre a trama em si, após o tiroteio, a realidade conhecida pelos personagens ultrapassa seus limites. Os atiradores são curiosos, estranhos, bizarros: parecem caubóis, habitantes do espaço, personagens de algum desenho ou série. O ambiente passa por mudanças: as casas se transformam em habitações ao estilo filmes de faroeste; os céus mudam para um clima árido, seco; vegetações desconhecidas crescem e tomam conta no lugarzinho. Enquanto as pessoas se escondem, protegendo-se do tiroteio enquanto pensam qual seria a melhor forma de agir naquela situação toda, uma mulher é mantida cativa por seu sobrinho. A criança é dual - algo a ocupa, ensejando numa disputa por controle. Há algum tempo, o menino passou agir de forma estranha, não sendo mais aquela pessoa de outrora - a não ser nos lampejos de lucidez. Sua tia não pode sair de casa, pois deve mantê-lo, fornecendo todas as porcarias que passa o dia comendo enquanto assiste a uma antiga série da faroeste - quando não está brincando com seus furgões e bonecos espaciais. De algum forma ou outra, tudo isso está ligado. É o que leitor irá descobrir.
O livro é bom. Não está entre os melhores de Stephen King, mas é bom da mesma forma. Foi assinalado originalmente como seu pseudônimo, Richard Bachman. A trama segue o estilo do autor: como já mencionado, descrições detalhadas sobre a vida de muitos personagens que vez ou outra cansam. O início é bastante confuso justamente diante disso. Mas vale a pena enfrentar esse caos aparente, pois tudo se liga com o avançar da obra. É um tipo de história que só poderia ter saído da mente de Stephen King - bizarro, para dizer o mínimo. Vale a leitura!