Lorena.Mireia 27/07/2023
Um fenômeno do Jornalismo Literário
A Sangue Frio, de Truman Capote, narra um crime hediondo que ocorreu em 15 de novembro de 1959, na pacata cidade de Holcomb, situada no estado do Kansas, EUA. O cenário é a fazenda River Valley, propriedade de um honesto e estimado cidadão: o Sr. Clutter ? sujeito bondoso, corajoso e de conduta moral irrepreensível. A sua esposa, Bonnie, lida com o estigma social causado pela depressão, lutando com seus próprios demônios enquanto sua sanidade mental é continuamente posta em dúvida pelos vizinhos. O casal tem quatro filhos, sendo que apenas os dois mais novos residem com os pais: os jovens Nancy e Kenyon ? ambos cheios de sonhos e perspectivas para o futuro, sobretudo, Nancy, a queridinha da cidade, moça prestativa, solidária e imbuída de diferentes talentos. Os dias seguem o curso normal dos acontecimentos até que, inesperadamente, numa aterradora madrugada de sábado, a família Clutter é surpreendida por uma dupla de atrozes bandidos, os quais tencionam roubar um cofre ? todavia inexistente na casa ? e assassinar todos os membros. As vítimas foram amordaçadas, amarradas, sofreram terror psicológico, e no fim, foram exterminadas com tiros de espingarda.
O terrível caso, sem precedentes na cidade, alarmou a população e a imprensa. Amedrontados, os vizinhos trancafiavam-se em suas casas, amargando o temor de serem as próximas vítimas. Os agentes policiais trabalhavam incessantemente para desvendar os mistérios e prender os culpados. Parecia um crime perfeito, sem pistas contundentes, sem testemunhas oculares, sem vestígios concretos. As autoridades já haviam perdido as esperanças e a pressão pública era crescente. Contudo, um personagem-chave entra na história e revela aos policiais os nomes dos criminosos: Perry Edward Smith e Richard Eugene Hickock.
No ponto da narrativa em que os culpados são capturados, conhecemos a história de vida de cada um, as personalidades opostas ? Hickock, um indivíduo desbocado, debochado e contador de piadas indecentes; e Perry, um sujeito retraído, calado, revoltado e ressentido com o mundo por vir de uma família desestruturada.
Capote os visita regularmente na prisão e recolhe material suficiente para escrever um baita livro. O autor alcança a proeza de uma narrativa imparcial, inteiramente desprovida de julgamento ou de clemência. Ademais, apresenta uma escrita fluida, tão envolvente e eletrizante que a sensação despertada no leitor é exatamente a mesma ao ler um romance policial. Capote mostra o profissionalismo de um jornalista ao narrar uma história real e a sagacidade de um mestre da literatura ao utilizar elementos de prosa ficcional. Um dos melhores livros que já li na vida!!!