Sidney.Prando 23/02/2022
O FANTASTICO REGIONALISTA TEM SOBRENOME ROSA
“Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo”
📕O livro “Primeiras Estórias” do escritor brasileiro Guimarães Rosa, contém 21 contos tão únicos que não poderiam ser atribuídos a mais ninguém.
Tentando ao máximo me afastar de uma análise acadêmica (que é feita de forma competente por Paulo Rónai no início dessa edição) e tentando trazer uma síntese da obra por meio da minha experiência ao lê-lo, posso dizer sem mais delongas que a “estranheza” é o que mais predominou durante essa leitura (logo menos eu explico).
Em suma, não há um tema central que tange todos os contos, logo, é um erro tentar limita-los a tal. A narrativa do Rosa é variada, assim como seus personagens interioranos, o tema de suas estórias (que transitam entre o real e o fantástico) e seus desenrolares que em muito nos fascinam. O neologismo do autor é evidente, o retrato da fala regionalista é verossímil e o simbolismo por trás de suas obras, o trouxe o título de ser um dos maiores escritores nacionais.
🙋♂️Para mim, a “estranheza” é o que predomina durante toda a leitura e embora abrangente, é normal que apresente pequenas nuances.
Em “A menina de lá” e “Um homem muito branco”, ela se apresenta de forma encrustada, ora nos fatos infantilmente sobrenaturais e um tanto messiânicos (que tem em seu surgimento a tradução do poder da imaginação fértil de uma criança e o seu desaparecimento ocasionada pela censura de um adulto), ora por meio de um ser extraterrestre/divino (que tem seu significado osciloso entre a representação da ingenuidade em contraste com a malicia do homem, e o misticismo em contraste com o real).
Por outro lado, em “A terceira margem do rio” e “Luas-de-Mel”, ora ela se manifesta em uma “simples” ação de um pai/marido que ao mandar preparar uma canoa e se lançar junto dela ao rio, permanece lá por anos; ora se manifesta do suceder de fatos comuns decorrentes de se “roubar” uma moça para ser sua esposa.
Ainda mais, em a “Benfazeja”, ela se manifesta sobre um dilema moral quando o autor narra o assassinato do marido, esse um violento e sanguinolento carrasco, e do filho, um infeliz e penoso cego, por parte da esposa/mãe.
Há ainda a chance de se olhar para essas estórias, e outras, por diversos pontos de vistas. Tudo parte de como essa “estranheza” vai se apresentar ao leitor. Sem dúvidas, Rosa é um autor que concomitante ao uso da palavra, e sua criação, reinventou o “fazer literatura” e assim, nos permitiu reaprender a ler.
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