Anderson Tiago 19/11/2014[RESENHA] A Grande Caçada (A Roda do Tempo #2) - Robert JordanQuando escrevi a resenha de O Olho do Mundo, primeiro livro da série, comentei que A Roda do Tempo ficaria somente atrás de O Senhor dos Anéis em termos de importância dentro do contexto da literatura fantástica. A recente indicação da série ao Prêmio Hugo, uma das mais altas honrarias que um livro ou saga de fantasia e ficção científica pode receber, apenas comprova que a obra de Robert Jordan deixou a sua marca no mundo da fantasia. A marca da garça.
A Grande Caçada tem início logo após os eventos de O Olho do Mundo, onde Rand al’Thor se revelou capaz de canalizar o Poder Único e a possível reencarnação do Dragão, um lendário e temido herói que enfrentará o Tenebroso na Batalha Final e causará uma nova ruptura no mundo. O livro tem um início fantástico com um prólogo relatando uma assembleia de Amigos das Trevas em Shayol Gul, a fortaleza do Tenebroso, a fim de receber ordens. Essa cena é muito bem trabalhada pelo autor à medida que ele fornece algumas características dos presentes à reunião, mas sem revelar demais, deixando um clima de desconfiança, já que algum dos presentes pode ser ou vir a ser um agente infiltrado no grupo dos nossos heróis.
Não temam, pois o Dia em que seu Mestre dominará o mundo está quase chegando. O Dia do Retorno está próximo. Minha presença aqui, para ser visto por vocês, os poucos escolhidos dentre seus irmãos e irmãs, não é prova disso? Em breve, a Roda do Tempo será quebrada. Em breve, a Grande Serpente morrerá, e, com o poder dessa morte, a morte do próprio Tempo, seu Mestre recriará o mundo à sua imagem e semelhança, nesta Era e em todas as que virão. E aqueles que me servem, fiéis e diligentes, vão se sentar aos meus pés, acima das estrelas no céu, e governarão o mundo dos homens para sempre. Foi isso que prometi, e é assim que será, pela eternidade. Vocês viverão e reinarão para sempre.
Após enfrentarem dois dos Abandonados, protegerem o Olho do Mundo e recuperarem a Trombeta de Valere, Rand e seus amigos descansam enquanto pensam no que farão de suas vidas depois da jornada que modificou a todos. Egwene e Nynaeve irão para Tar Valon para serem treinadas como Aes Sedai; Mat terá o mesmo destino para se livrar da maldição da adaga de Shadar Logoth; Perrin pensa em voltar a Campo de Emond, porém se sente deslocado desde que se torno um Irmão dos Lobos; e Rand só pensa em fugir do que o destino lhe reserva, pois imagina que irá enlouquecer e machucar todos ao seu redor, como fazem todos os homens capazes de canalizar o Poder Único desde a Ruptura do Mundo.
Os planos de Rand são frustrados quando várias Aes Sedai, incluindo o Trono de Amyrlin, chegam a Fal Dara. O jovem logo imagina o pior e que elas vieram com o intuito de “amansá-lo”, ou seja, cortar a sua ligação com a Fonte Verdadeira, algo que podia leva-lo à morte. Na realidade, o Trono de Amyrlin, juntamente com Moiraine, faz parte de uma trama que acredita que Rand seja verdadeiramente o Dragão Renascido e que ele deve cumprir as Profecias do Dragão e assumir o seu lugar de herói, algo que Rand recusa-se a acreditar. Tudo muda quando Fal Dara é atacada por Trollocs, Amigos das Trevas, e um Desvanecido. Eles roubam a Trombeta de Valere, a adaga de Shadar Logoth e libertam Padan Fain, o Amigo das Trevas que foi usado pelo Tenebroso para perseguir Rand.
Os homens de Fal Dara logo organizam um grupo para recuperar a Trombeta. Rand, Mat e Perrin, assim como Loial, o Ogier, se juntam ao grupo, uma vez que sem a adaga Mat não poderá ser curado e provavelmente morrerá. No comando do grupo está Ingtar e como rastreador temos Húrin, personagens secundários de grande importância para a trama. Egwene e Nynaeve seguem com o plano original de ir para Tar Valon e treinar para serem Aes Sedai. Com essa nova separação, a história se expande e ganha os contornos de saga épica, bem elaborada e rica em detalhes que é A Roda do Tempo.
A narrativa se divide entre alguns dos personagens principais - inclusive de alguns secundários -, mas a predominância assim como no primeiro volume, é de capítulos que seguem a trama de Rand. Em A Grande Caçada, alguns personagens ganham mais destaque, caso de Loial, que desempenha o papel de leal escudeiro durante todo o livro, enquanto outros acabam ficando a margem da história, como Mat. As gratas surpresas ficam por conta de personagens que retornam de O Olho do Mundo, como Elayne, a Filha-Herdeira de Andor, e Min, garota capaz de ler a aura dos outros e fazer previsões do futuro, além de um personagem que imaginávamos que nunca reapareceria. Entre os personagens novos destaco a misteriosa Selene, que vai mexer com a cabeça de Rand e deixa-lo ainda mais confuso; a amarga Liandrin, que esconde segredos obscuros; e a sábia Verin, que assume boa parte do papel que Moiraine exerceu no primeiro volume da narrativa.
A Grande Caçada amplia a narrativa iniciada em O Olho do Mundo em escalas globais. Não é apenas a história de um grupo de jovens tentando sobreviver à perseguição de um inimigo sombrio, e sim de um mundo à beira da guerra. Uma guerra que pode destruir todo o mundo. E a ameaça parece não vir apenas do Tenebroso, quando invasores de além-mar com estranhos costumes e requintes de crueldade começam a submeter os povos ao seu domínio. Traições, desconfianças, intrigas, manipulações e assassinatos completam o quadro que forma a trama desse segundo volume.
Ele foi um soldado. Foi um pastor. Foi um mendigo, um rei. Foi fazendeiro, menestrel, marinheiro, carpinteiro. Nasceu, viveu e morreu Aiel. Morreu louco, apodrecendo, doente, por acidente, de velhice. Foi executado, e multidões comemoraram sua morte. Proclamou-se o Dragão Renascido e fez tremular seu estandarte pelo céu. Fugiu do Poder Único e se escondeu. Viveu e morreu sem nunca saber. Conteve a loucura e a doença por anos, sucumbiu entre um inverno e outro. Às vezes, Moiraine aparecia e o levava embora de Dois Rios, sozinho ou com alguns de seus amigos que haviam sobrevivido à Noite Invernal. Às vezes ela não ia. Às vezes outra Aes Sedai ia buscá-lo. Às vezes era uma da Ajah Vermelha. Egwene se casou com ele. Egwene, com uma expressão severa, usando a estola do Trono de Amyrlin, liderou as Aes Sedai que o amansaram. Egwene, com lágrimas nos olhos, cravou uma adaga em seu coração, e ele agradeceu ao morrer. Ele amou outras mulheres, casou-se com outras mulheres. Elayne, Min, a filha loura de um fazendeiro da estrada de Caemlyn, e mulheres que nunca vira antes de viver aquelas vidas. Cem vidas. Mais. Tantas que ele não conseguia contar. E, no fim de cada uma, quando jazia às portas da morte, enquanto dava seu último suspiro, uma voz sussurrava em seu ouvido: Venci de novo, Lews Therin.
Robert Jordan conduz magistralmente a história através de mundos paralelos e realidades alternativas, fruto da sua formação em física. No entanto, é nos conflitos internos dos personagens que o autor se sobressai, principalmente, no meu entendimento, em Rand e Nynaeve, minha personagem preferida desde o primeiro livro. E em a Grande Caçada, assim como em Olho do Mundo, Jordan finaliza o livro deixando você louco para ler a continuação.
O Dragão Renascido deve sair no Brasil ainda esse ano pela editora Intrínseca. Eu já estou na espera. E você?
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