Caroline Gurgel 17/03/2014Envelhecer...O Velho e o Mar é daqueles livros que você se questiona o porquê de não ter lido antes. No meu caso, o porquê de não ter escutado a recomendação de meu pai, fã de Hemingway, antes.
Hemingway é tão fantástico que conquista até leitores como eu, mais inclinados à escrita clássica, cheia de adjetivação. É incrível como consegue nos transportar àquele cenário, mesmo com a escrita "seca", concisa e sem floreios que lhe é peculiar.
O velho e o mar é o segundo livro do escritor que leio, e nele, mais do que no primeiro, é possível perceber a importância de Hemingway para a literatura moderna e o quanto essa quebra de tradições clássicas significou para o meio literário. Seja nas artes, na arquitetura ou na literatura, romper um estilo e estabelecer novos parâmetros não é uma tarefa fácil, e Hemingway o fez com genialidade, e só aqui compreendi o porquê de ter merecido um Nobel.
O autor conta a história de um velho pescador, Santiago, que mesmo muito experiente está há 84 dias sem conseguir pescar nada. Com o incentivo do jovem amigo Manolin, resolve encarar mais um dia no mar. E é essa ida solitária em busca de algum peixe que acompanhamos, não só como leitores, mas principalmente como espectadores.
Deixa-nos tantas mensagens e são tantas metáforas que acredito que a cada releitura uma nova interpretação seja captada. Fala sobre a vida e toda a experiência que você acumula nela; fala de amizade, reconhecimento e carinho; e do conhecimento passado de geração em geração. É bonito de se ver a admiração, o respeito e a gratidão que o jovem Manolin tem por aquele experiente velhinho que lhe ensinara a pescar.
Sim, fala de velhice e de orgulho. E é incrível como, em tão poucas páginas, Hemingway consegue fazer um retrato tão realístico e triste do homem que envelhece, do homem que mesmo experiente e cheio de conhecimento se vê, de certa forma, impotente, uma vez que suas condições físicas já não são as mesmas. Mostra-nos o quão importante era para ele conseguir a façanha de "domar" aquele peixe enorme, muito mais por orgulho do que pela fome ou dinheiro. Fala de determinação, da sua luta incansável de ir até o fim, e, novamente, do orgulho que não lhe permitia desistir.
A beleza está na simplicidade, se o leitor esperar qualquer rebuscamento irá se decepcionar. É impressionante como, mesmo com tanta frugalidade, essa estória me encantou e me emocionou. E mais ainda, como me deixou triste.
Um clássico para todas as idades, para se ler e se reler. Recomendo, sem dúvida alguma.