Otávio - @vendavaldelivros 29/03/2022
“O Diabo sabe que só aqueles que têm coragem de arriscar a alma por amor merecem ter alma, mesmo que Deus não saiba.”
Os conceitos de bem e mal são absolutamente geracionais e sociais. Podemos brigar, questionar, espernear, mas no final das contas, quando olhamos a história, o que hoje dizemos que é bem, antes era considerado mal, assim como no futuro o inverso pode acontecer. O Diabo então, essa figura que tende a unir em si tudo que é mal, pode ser considerado algo relacionado ao bem? Não somos nós que formamos o que é bem e mal?
Publicado em 2010, O Pacto é o segundo romance do autor americano Joe Hill. No Brasil, o livro já passou por mudança de nome e agora é intitulado Amaldiçoado. No final, nenhum dos títulos chega muito próximo do original: “Horns”. E Horns provavelmente é a melhor escolha para o nome, já que parte importante do livro está relacionada aos chifres que surgem na cabeça de Ig Perrish.
O livro narra a história de Ig Perrish, um jovem bom, de uma boa família, cristão, que tinha um grande amigo e já tinha encontrado em Merrin o grande amor da sua vida. Tudo isso acaba quando Merrin é estuprada, morta e Ig acaba se tornando o principal suspeito. Mesmo sem evidências e sem ser condenado pelo crime, Perrish acaba se tornando um pária na cidade.
Tudo fica ainda mais insano quando, após uma noite de bebedeiras, Ig acorda e nota que tem chifres crescendo em sua cabeça. Não só isso, percebe também que aparentemente todas as pessoas passam a falar automaticamente seus segredos e pensamentos mais ocultos, sem nenhum tipo de filtro. Isso vale para todas as pessoas, desde seus pais até o padre da cidade. A partir daí e seguindo em sua transformação, Ig consegue uma informação importante sobre o assassinato de Merrin que muda toda sua percepção sobre o ocorrido.
Joe Hill tem uma grande capacidade de criar cenários e personagens, sendo os últimos com camadas interessantes, que trazem profundidade e conceitos interessantes. O formato narrativo utiliza flashbacks para explicar o enredo e essa ferramenta é bem utilizada ao longo do livro. Assim como seu pai, Hill acaba sendo um autor prolixo, mas que algumas vezes erra a mão e se torna um pouco cansativo. Nada que afete profundamente o livro, que é uma ótima experiência para quem curte filmes de terror com elementos religiosos e simbólicos.
Ao longo do livro temos várias passagens marcantes e que falam muito sobre essas nossas percepções de bem e mal e como a figura do diabo nada mais é que uma parte de todos nós. A diferença talvez é que nem sempre precisamos de chifres para agirmos como o diabo e nem sempre agir como ele pode ser algo ruim.