Malu 06/07/2020
Por onde começar a falar de Senhor das Moscas?
É uma obra que sem dúvida nenhuma pode parecer simples a uma visão superficial, porém traz muitas interpretações acerca da sociedade mediante os acontecimentos e até mesmo através dos personagens. A estória conta os acontecimentos que sucedem quando um grupo de meninos ingleses sofre um acidente de avião e cai numa ilha inabitada, sendo os únicos sobreviventes, sem a presença de quaisquer adultos ou autoridades.
Assim, os meninos precisam decidir como sobreviverão até serem regatados, convocando então uma espécie de Assembleia onde o personagem Ralph vence democraticamente o seu possível concorrente, Jack. É então que temos uma percepção muito grande da teoria contratualista de Thomas Hobbes, ou teoria hobbesiana na qual o estado de natureza do homem é virar-se contra o seu igual, sendo incapaz de manter a paz e de respeitar os seus direitos, tal como aconteceria em um Estado democrático, por exemplo –o teórico contratualista defende que o Estado deve ser absoluto-. Enfim, o homem viraria o lobo do próprio homem, e é isso que acontece entre os meninos na ilha. No inicio tudo flui, todos seguem as ordens de Ralph que, se assim você interpretar, pode ser o símbolo de um Estado democrático; este se preocupa com questões em longo prazo, como conseguir abrigo caso ocorra uma tempestade e, essencialmente, em manter a fogueira acesa: sua única chance de conseguir resgate.
Entrementes, Jack, seu opositor, que até então estava cooperando, preocupa-se com questões em curto prazo, como a questão da caça – não só para sobreviver, mas por satisfação pessoal em ter poder sobre outro animal-. É ele que traz um discurso eurocêntrico, coisas como “nós somos ingleses e não selvagens”, e acredito que essa foi a intenção do autor; uma crítica a nação que se diz civilizada e, por intermédio dos meninos que fingem fazer parte de um exército, conseguiu demonstrar as barbáries que são capazes de cometer. Assim, a vida na ilha passa a ser marcada pela disputa visceral pelo poder e pela presença de um possível monstro na ilha (não é spoiler se eu falar somente isso haha).
O que eu mais amei no livro foi poder interpretar de muitas formas o papel de cada uma das crianças perdidas; a obra é magnífica e a narrativa de Golding é brilhante, detalhada, perfeccionista até; tiveram vários momentos em que a visão da ilha ficou extremamente clara na minha imaginação. Mas o que eu mais gostei, e deixo aqui o questionamento para os que chegarão ao final desse livro é: eles serão salvos da selvageria?
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