Regis 23/12/2023
Histórias comuns com elementos inexplicáveis
Com Sangue foi o livro de número sessenta e seis de Stephen King e foi publicado em abril de 2020.
Nele encontramos quatro contos que abordam temas como: amizade, amor, existência, família e justiça. Com elementos que consegue se inserir de maneira inexplicável em um cotidiano simples e tranquilo corrompendo a ordem das coisas e modificando destinos.
No primeiro conto O telefone do Sr. Harrigan o clima de amor e companheirismo entre Craig e seu pai me passou uma sensação tão boa. E o fato de Craig fazer leituras para o milionário excêntrico da cidade, tornando-se seu amigo, me lembrou filmes sobre lembranças de momentos da infância que eu adorava ver.
A simplicidade da história e o ambiente familiar e de amizade criado por King na primeira metade do conto me fez relembrar por que gosto tanto da escrita do autor: Mesmo a história mais simples tem o poder de nos envolver. E adoro os personagens crianças que ele escreve; nunca são maçantes e nunca são retratados como tolos.
No segundo conto King cria um momento mágico com um jovem (Jared) tocando bateria na rua enquanto Chuck dança com uma desconhecida (Janice) e eu pude sentir o entusiasmo de um momento aleatório e maravilhoso que acontece uma ou duas vezes apenas na vida, mas que talvez será lembrado para sempre.
Esse conto trata de um assunto muito interessante e que eu realmente gostaria de ver melhor desenvolvido em uma novela ou romance.
Esses dois primeiros contos têm histórias simples, sem muito suspense e terror, mas são escritas de um jeito que é impossível não se sentir envolvida por eles. Adoro isso no King: seus personagens são vivos e vívidos, fazendo com que até o acontecimento mais insólito pareça possível de ocorrer no mundo real, tornando tudo mais vibrantemente expressivo em seus livros.
Os outros dois contos: Com Sangue e Rato, são mais impactantes sem deixar a premissa simples, que com certeza foi a abordagem, propositadamente, pretendida nesse livro.
Com Sangue traz a personagem, cada vez mais querida por mim, Holly, desenvolvendo mais traços do relacionamento familiar dela, de seus pensamentos íntimos e um crime hediondo; que exemplifica bem o jeitinho dela de desvendar os mistérios nesses casos.
Ratos traz Drew: um escritor de contos que pela segunda vez tenta escrever um romance e que recebe uma ajudinha nada convencional para conseguir seu intento. A história do romance de Drew é tão bem apresentada que tive vontade de lê-la por inteiro e continuo pensando nela após o final do conto, pois adoro histórias do Velho Oeste e Rio Amargo me lembrou de Westerns como: Bravura Indômita e Onde os Velhos Não têm Vez. Adorei esse conto.
As narrativas curtas de Com Sangue não deixam nada a desejar aos livros grandes do autor. Possui temáticas atuais com personagens comuns que lidam com elementos sobrenaturais tornando momentos simples em momentos inexplicáveis e memoráveis.
Diferente de muita gente eu consegui apreciar demais cada conto a seu modo e tive uma leitura maravilhosa.
Recomendo para todos esses quatro contos que fazem parte do experimentalismo do Rei.
Obs.: A nota do autor ao final do livro é interessantíssima; e o que ele fala da Holly é exatamente o que sinto sobre essa personagem maravilhosa e cativante.