Kel Costa 06/06/2011Se eu fosse resumir Pequena Abelha em uma única frase, seria: uma grande jogada de marketing. Não fiquei satisfeita com o livro. Ele não é ruim, lógico que não, mas é um livro que criou muito estardalhaço, causou muita expectativa e… não correspondeu.
“Depois de ler este livro, você vai querer comentá-lo com seus amigos. Quando o fizer, por favor, não lhes diga o que acontece. O encanto está sobretudo na maneira como esta narrativa se desenrola.”
Lamento, mas contarei sim, da forma como eu conto sobre todos os outros livros que resenho. Pequena Abelha é narrado por dois personagens: Pequena Abelha e Sarah. Cada capítulo é pelo ponto de vista de uma das duas mulheres (na verdade, uma mulher e uma menina de, acho eu, uns 16 anos). Pequena Abelha é uma nigeriana que cresceu em sua vila e de repente se depara com todo o caos causado pelo petróleo que existe em sua terra (e pelos homens que o querem). Depois de fugir de sua aldeia e escapar da morte, em um determinado momento crucial, ela cruza com o casal inglês Andrew e Sarah. Ali, naquela praia, Pequena Abelha, Andrew e Sarah passam por uma situação inesquecível e então eles se separam.
Pequena Abelha consegue fugir da Nigéria, mas ao chegar na Inglaterra é descoberta e levada para um centro de detenção de refugiados. Lá ela fica durantes dois anos e passa pelo pão que o diabo amassou. Por tudo que ela já sofreu em seu país, ficar trancada ali naquele lugar, sem saber se um dia irá ser solta, só piora seu estado mental.
E é com esse medo intenso presente em cada fio de cabelo, que Pequena Abelha, é solta dois anos depois. A primeira coisa que passa por sua cabeça é procurar pelas únicas pessoas que ela conhece na Inglaterra: Andrew e Sarah. Daí em diante, Pequena Abelha se vê numa enrascada por estar como ilegal no país e saber que a qualquer momento pode ser levada de volta para a Nigéria. A única pessoa que parece disposta a ajudá-la é Sarah, que na verdade não consegue ajudar nem a própria família. O que aconteceu naquele encontro na praia, na Nigéria, foi devastador e seria para sempre uma âncora capaz de afundar a vida de qualquer uma das pessoas envolvidas.
Não me entenda mal pelo que disse logo no início da resenha. O livro, realmente não tem absolutamente nada de ruim. A história da Abelhinha é emocionante e já no final foi capaz de me arrancar lágrimas. Uma criança que passa pelo que ela passou e presencia todas aquelas coisas (que você descobrirá ao ler o livro) não é de se admirar que fique marcada por toda a vida. O fato dela sempre pensar em se matar assim que pisa num lugar novo é apavorante, senti vontade de botar a menina no colo e dizer que estava tudo bem.
Mas, por outro lado, eu detestei a outra mulher da história. Não posso citar o motivo, pois aí sim estaria dando spoiler, mas diante do que Sarah faz, num momento como aquele pelo qual ela estava passando, se torna uma bela “bitch”. Também detestei o Lawrence. Só pensa no próprio umbigo e não faria falta alguma ao livro. Se a idéia do Chris Cleave era fazer o leitor sentir imensa repulsa por esses dois, então ele me acertou em cheio! Charlie é um amorzinho vestido de Batman e eu sentia pena dele pela mãe que tem. Andrew… bem, fica difícil defini-lo.
O ponto forte do livro é que ele tenta mostrar a situação totalmente desumana que ocorre com milhares de pessoas. Em países que habitam nossa mente apenas quando vemos alguma matéria falando sobre, mas que logo depois esquecemos. Nigéria, Jamaica e outros lugares onde coisas desse tipo (as narradas no livro) acontecem frequentemente e que não chegam ao nosso conhecimento. Eu esqueci de fazer a anotação de um determinado trecho do livro, mas vou tentar usar outras palavras. Em um momento, Abelhinha sugere algo como: “no meu país somos assassinados para que você tenha gasolina para seu carro”. Te faz fechar o livro e ficar pensando, revendo seus conceitos.
Enfim, o livro tem uma história forte e possui uma boa narrativa. Eu poderia dar 4 corujinhas a ele, mas dei 3 pelo fato de que me senti enrolada pelo marketing do livro. Não há nada que eu disse aí acima que não pudesse ser colocado na sinopse. Então a meu ver, foi criado todo esse mistério apenas para vender um livro que é bom, mas não é ótimo. E o pior, é que a maioria das resenhas que eu li antes de pegar o livro, realmente mantinham esse segredo. Sério, qual é o problema em dizer sobre o que se trata o livro? Eu teria lido mesmo que não houvesse todo esse mistério e aí sim teria dado 4 corujinhas, pois saberia o que me esperava e não teria criado uma história completamente diferente na mente.
Leia, vale a pena, mas não vá esperando encontrar nenhuma revelação impressionante.
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