Nery 25/10/2010
Resenha: Pequena Abelha
Pequena Abelha, do autor Chris Cleave, se torna um desafio para quem possui a missão de resenhá-lo. A pedido do próprio autor, não se pode comentar muito sobre o livro, o que até mesmo o próprio evita fazer, pois a trama se torna única para cada um de nós.
"Não conte para ninguém o que acontece". Dessa forma o livro se apresenta para todos os leitores; imagina uma história em que você começa de forma totalmente cega, porém a curiosidade do ser humano faz com que qualquer um desista de tentar saber a trama antes de terminar de ler o livro e parta para o mundo da Abelinha. Com uma escrita simplória e com um fácil, porém adorável ritmo, a leitura de "Pequena Abelha" se torna ótima e a sua vontade em virar folha após folha para se emocionar cada vez mais, faz com que se torne algo mecânico até a última página do livro.
Sem estragar o livro, pois todos devem começar a ler sem imaginar a trama, o que podemos adiantar para você é que a história se dá entre duas personagens: Sarah. Inglesa e editora de uma revista feminina. A outra é Pequena Abelha, nigeriana. Em algum momento das suas vidas essas mulheres tão diferentes se encontram. Nesse momento uma delas deve fazer escolhas que mudam a vida de ambas. Em outro momento, elas voltam a se encontrar.
O livro se inicia com os relatos de Pequena Abelha, uma jovem nigeriana, e suas dificuldades a aprender o que ela mesmo chama de "língua da rainha", ou seja, uma metáfora para as dificuldades entre as línguas de sua origem e a do país de Sarah. Aos poucos começamos a visualizar a história de forma completa, conhecendo mais da corajosa Sarah e da "frágil" (não se enganem, ok?) Abelinha. Alternando as narrativas entre as duas personagens, Chris Cleave faz com que a história ganhe um ritmo agradável de leitura e nos proporciona o conhecimento de como suas personagens vivem, inclusive as mudanças acontecidas após o encontro de uma jovem ilegal que acaba saindo do Centro de Detenção de Imigrantes de Black Hill, ou seja, nossa Pequena Abelha.
De forma sutil, o autor nos emociona ao mostrar as dualidades de duas personagens fortes, porém suas histórias e passados fazem com que possamos ver um pouco de amor e crueldade, sexo e violência, reservada para as partes mais fortes do livro, além da desigualdade. Mesmo se tratando de dualidades e de duas culturas diferentes, mostradas com certo humor ao compará-las durante o livro, Chris Cleave constrói Pequena Abelha após visitar um centro de detenção de imigrantes e perceber que existem pessoas que estão presas sem ao menos cometer algum tipo de crime. Não se engane achando que a burocracia e a história da política inglesa se tornam o tema central da história, mas sim um pano de fundo que margeia a história de Abelinha.
Diferente de um romance com seres fantásticos ou uma ficção científica, Pequena Abelha é uma história que vai além de muita literatura fantástica, se torna um mundo em que o leitor pode se emocionar página por página. Com suas reviravoltas e trechos em que somos obrigados a parar a leitura para refletirmos, o livro termina e se mostra como uma grande metáfora da vida. Uma metáfora de quase 300 páginas para lermos rapidamente, porém guardarmos cada trecho em nossa cabeça, pois, em nosso dia-a-dia não pensamos em quantas Abelinhas devem existir em nosso mundo, porém não nos preocupamos, muito menos nos deixamos ser fortes como Sarah, ou até mesmo corajosa como Pequena Abelha, para entender cada uma das histórias emocionantes que possam existir nesse mundo.