Nica 06/11/2010O livro trata mesmo é de cicatrizes “Temos de ver todas as cicatrizes como algo belo. Combinado? Este vai ser o nosso segredo. Porque, acredite em mim, uma cicatriz não se forma num morto. Uma cicatriz significa: Eu sobrevivi.” ( pg 17 )
Quem se propõe a resenhar Pequena Abelha, do escritor inglês Chris Cleave, vê-se diante de um desafio, já que nos é sugerido para não contarmos o que se passa no livro. Além de dificultar a resenha, está atitude induz ao leitor uma expectativa de que irá encontrar na leitura muitas emoções e surpresas, mas isso não acontece tão intensamente assim, e a curiosidade que se instala provoca certa decepção. No entanto, em nenhum momento, achei que em saber o enredo anteriormente pudesse me desestimulado a seguir à leitura, nada disso, apenas acho que a propaganda é bem maior do aquilo o livro se propõe.
Apesar disso, Pequena Abelha é um livro instigante, com ideologia filosófica, isto é, delicadamente o autor quer nos propor uma reflexão sobre nossos atos e relacionamentos. Amor, medo, dor, amizade, traição, sexo, violência, morte, desigualdade social, racismo, são temas abordados no limite entre a sutileza e agressividade.
A história possui dois narradores e ambos se intercalam em suas narrativas e perspectivas: Pequena Abelha e Sarah. A primeira, uma adolescente e refugiada nigeriana e a segunda, uma jornalista inglesa. Duas mulheres de culturas diferentes vêem-se diante de suas vidas entrelaçadas e um mundo em comum, dispostas a lutar para vencer as dificuldades uma da outra. Abelhinha e Sara se mostram corajosas, fortes, independentes, decididas em todos os momentos que a vida lhes cobrou atitudes e escolhas.
Embora seja uma história triste e reflexiva ela nos encanta pela simplicidade da narrativa, a leitura fluir pelo estimulo alegre e pela naturalidade da escrita, já que as narradoras são bem humoradas e dão a devida atenção ao leitor. Mas entre as protagonistas, a Abelhinha se destaca pelo tom de crítica, ironia, bom humor e temperamento hilário. Por várias vezes me percebi rindo na leitura, como por exemplo, quando ela vai pegar o taxi com as outras três refugiadas:
“Queria mostrar que éramos inglesas, que falávamos a sua língua e compreendíamos todas as sutilezas da cultura de vocês. Também queria que ele ficasse feliz. Foi por isso que me encaminhei para a janela aberta e disse para o motorista do taxi:
- olá, estou vendo que você é galinha.
Acho que o motorista não me compreendeu. A Expressão na cara dele ficou ainda mais azeda. Ele sacudiu a cabeça de um lado para o outro bem devagar. E disse:
- Lá na selva não ensinaram boas maneiras para vocês, não, suas macacas? .
Arrancou o carro muito depressa e foi embora , ...” ( pg 64)
Apesar de toda essa alegria, o livro trata mesmo é de cicatrizes, físicas e emocionais, marcas que nos ensinam que a vida custa o quanto se cobra dela. Cleave, como uma esfinge, nos induz a desvendar os enigmas que se infiltram no momento das escolhas e das decisões e principalmente das consequencias.
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