Amada

Amada Toni Morrison




Resenhas - Amada


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Sarah 22/05/2020

Que livro!
Se você ouviu falar que esse é um livro complexo, as pessoas estão certas. Amada é um livro denso, com passagens pesadas sobre a escravidão, mas que te faz ler até o final.
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Debora 28/11/2021

Uma leitura necessária
Para alguns livros é muito difícil escrever uma resenha. E Amada é um deles. O livro tem tantas nuances, alternância de narrativa, acontecimentos e sensações misturadas, delírios, que muitas coisas que eu senti ao ler só vieram a se confirmar - ou negar - 10 ou 15 páginas depois. Isso fez com que eu lesse ele mais devagar, absorvendo o que Morrison queria nos dizer.
No fim, minha conclusão é que, em Amada, a escritora quis nos apresentar e discutir os legados da escravidão, a dor que fica desta violência, a dificuldade de seguir em frente com o peso das amarras, as marcas físicas e as dores emocionais.
A história se ambienta em 1873 (e isso eu sei por causa da 4a capa, em nenhum momento está dito no livro). Para fazer um resumo, deixo aqui o registro da orelha para vocês:
"Qual o sentido da memória numa existência marcada pelo horror? Como reconstruir afetos em meios aos tormentos do rancor e da culpa? São questões como essas que perpassam este livro, vencedor do Pulitzer de 1988.
Amada gira em torno de Sethe, ex-escrava que, alguns anos após o fim da Guerra Civil, vive com uma das filha em uma casa nos arredores de Cincinnati. Sua família já foi bem mais numerosa: o marido, Halle, devia ter escapado com ela, mas desapareceu; os filhos mais velhos fugiram de casa; a sogra, Baby Suggs, principal liderança familiar, morreu há algum tempo, deixando Sethe e a caçula, Denver, às voltas com a desconfiança dos vizinhos e, dentro de casa, com assustadores fenômenos.
A verdade é que as duas não estão sozinhas. Com elas, vive o fantasma de um bebê, responsável pela atmosfera atormentada que paira sobre a casa: trata-se de outra filha, morta há 18 anos (esta é Amada).
(...) Amada é uma jovem misteriosa, que carrega como nome a única palavra gravada na lápide do bebê de Sethe. (...) aos poucos, inicia um processo de imersão na vida de Sethe, num movimento que conjura doses iguais de afeto e vingança".
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enjuadona 17/05/2020

toni morrison, minha filha, que OBRA DE ARTE
gente, vão ler esse livro!!!!

acabei de acabar ele, sofrendo com a proximidade do final, na angústia, no desejo.
toni morrison, mulher genial! que escrita FODA (tradução muito boa), fluida, pesada, leve, importante, bonita. algumas coisas eu não entendi por serem ditas de uma forma não-explícita, e eu, que tô bemmmm enferrujada na leitura, perdi o jeito de sacar. mas não desisti e marquei tudinho pra reler depois, pra pesquisar.
eu tô fascinada. de verdade! já vou achei "o olho mais azul" e vou ler.
esse livro me sacudiu a mente, apertou umas feridas e abriu novas.
depois do começo, que é de fato embolado mas que não me desanimou em NADA (logo eu, a mais confusa e desistente), comecei a marcar algum trecho em TODA página. as vezes mais da metade da página.

antes de terminar o ebook eu já tinha comprado o livro físico.

enfim, tô falando aqui no TOTAL calor do momento, na empolgação de uma leitura foda terminada!!!

livro necessário
importante
bom mesmo
difícil em muitos momentos
mas necessário
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Andre 06/06/2023

Em todos esses anos de leitor, pouquíssimos livros conseguiram me deixar sem palavras. Amada foi um deles. E não só o fez, como o fez mais de uma vez. É um livro obrigatório pra todo mundo que gosta de ler. Lindo, lindo, lindo.
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nocca 09/02/2022

Ganhei "Amada" de presente de aniversário em 2019. Já havia lido "O olho mais azul", o que me dava uma vaga ideia do que seria a leitura do novo presente. Iniciei Amada e foi difícil me encontrar em meio às ondas de passado que se misturavam ao presente de cada personagem. Desisti, tentei novamente, desisti. Algum tempo depois, retomei a leitura decidida a tentar entrar naquele mundo que parece te empurrar pra fora, a princípio, mas que depois de convida e você já não consegue mais sair. No entanto, a história me fez interromper a leitura mais uma vez. Era difícil: Toni não impõe um julgamento moral aos fatos que (d)escreve, mas nos empurra tudo que acontece de forma crua e natural, e sempre joga com todas as nuances possíveis que um ser humano pode ter. Em certos momentos, ficava como Paul D., perguntando "até que ponto um negro tem que aguentar?". Amada é um livro duro, difícil. Não por ser ruim, mal escrito ou irreal. É tão real que machuca, mas ao mesmo tempo compele, mexe com coisas adormecidas, abre aquela lata enferrujada no peito de todos os leitores. Ainda assim, é belo de um jeito que fez valer as diversas tentativas de terminá-lo. Mais do que um livro sobre horrores do passado e luto, Amada é sobre o que nos humaniza: amor, liberdade e a perspectiva de "algum tipo de amanhã".
Paulinho 09/02/2022minha estante
Nossa! Amei a sua resenha.


leiturasdabiaprado 18/03/2022minha estante
Perfeita sua resenha! Terminei agora o livro e ainda estou com um nó na garganta... levei 1 mês lendo e lutando em muitos momentos para não parar... é uma obra linda, mas de muita dor!




Danielle 20/08/2023

Uma obra prima, que eu não gostei
Me desafiei a escrever resenhas para todos os livros que lesse esse ano. Todas estão escritas, a maioria não foi postada, e o motivo é a minha preguiça de digitar.
De todas as resenhas que eu fiz, essa é a mais complexa, talvez por ser também um dos livros mais complexos do meu ano. Como expressar tudo que senti?
Mas vamos falar de Amada da Toni Morrison.
Amada, uma das obras da grande Toni Morrison, nos apresenta Denver e sua mãe Sethe, nos EUA poucos anos após o fim da escravidão e da Guerra de Civil americana. Desde a morte da avó de Denver, Baby Suggs, elas vivem isoladas em um casarão, assombrado pelo fantasma da irmã mais velha de Denver que morreu bebê. Tudo começa a mudar quando Paul D. Garner, um conhecido da época de escrava de Sethe, aparece em sua porta.
Não é um livro que eu tenha gostado. A história não foi feita para ser gostável. Ela é dura, violenta, às vezes absurda, geralmente revoltante. Além disso eu não sou a maior fã de histórias de fantasmas.
O livro é difícil de ler pela sua narrativa desconjuntada, é como ler os pensamentos fora de ordem de uma pessoa, indo e voltando. Precisei por atenção extra a história para conseguir acompanhar. Ainda assim, a escrita nos ajuda a passear pelos traumas dos personagens, com analogias poéticas. Confesso que tive que ler duas vezes algumas passagens.
O livro cumpre seu propósito em gerar incômodo ao falar de liberdade, maternidade, e vida para pessoas que só conheciam os horrores da escravidão, em falar dos anseios, sonhos, e vontades dessas pessoas, que estavam aprendendo a ser pessoas mesmo sendo livres a alguns anos. É interessante ver como questões de humanidade, vida, são colocados. Mesmo quando não de forma aberta, há vários momentos em que os personagens são descaracterizados como humanos, e o modo como eles vão se descobrindo como capazes de serem sociáveis, de amarem, de sentirem, de se apaixonarem, e como no meio da dor, muito é projetado nos filhos que muitas vezes são inocentes. Até onde uma mãe poderia ir para proteger seus filhos? Essa é uma das questões principais no livro.
No entanto.... Eu realmente NÃO gostei desse livro. Eu consigo ver a escrita genial, mesmo que confusa e um pouco exagerada em alguns pontos. Consigo ver o porquê dos horrores, mas acho que a autora cumpriu bem demais o viés de horror da história. É uma história de HORROR.
Sim, vou ler outros livros da Toni Morrison, a genialidade dela não é apagada pelo livro, consigo ver porque é aclamado como uma das obras primas dela.
Mas por ser confuso demais em alguns pontos, e por eu não ter gostado, não consigo dar uma nota maior que mediana. Mas posso afirmar que o embrulho no estômago e o quão impressionada fiquei com o livro, são sensações que vão durar bastante, mesmo após dias, semanas e meses da leitura.

Escrita 1 ?
Ambientação 1 ?
Desenvolvimento de personagens 0,5 ?
O livro compre o que propõe, há pontas sintas não intencionais? 0,5 ?
O que achei pessoalmente? 0 ?
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Viquetoria 06/07/2021

O livro exige bastante a atenção do leitor. Para não se perder, e entender melhor a intenção da autora, leia a introdução mais de uma vez.
Depois de um tempo (e costume com a narrativa), a leitura flui melhor.
Livro marcante de uma autora incrível.
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DIRCE 23/12/2022

O sobrenatural (literal) ou como representação dos “fantasmas” de um passado violento.
Recordo-me que quando li “O Morro dos Ventos Uivantes” da Emily Brontë, fiquei atônita como uma escritora tão jovem conseguiu mostrar interior do espírito humano e os mecanismos que desencadeiam as paixões. Como ela pode abordar de forma tão dramática o confronto entre o amor e a vida, tudo dentro de uma atmosfera densa, sombria, com a presença de ser sobrenatural - o famoso gótico ? Pensei: Nossa! Esse livro foi psicografado. Essa impressão se manteve nas várias releituras que fiz dessa obra.
Mas porque estou dizendo tudo isso? Toni Morrison era uma jovenzinha quando escreveu Amada? Ela também foi tomada por um espírito e psicografou a obra? Não. Ela não era uma jovenzinha, e tampouco foi tomada por um espírito que a levou a psicografar Amada. Porém, Toni Morrison estando sentada em um píer em frente da sua casa, à margem do rio Hudson, teve uma espécie de epifania e deu voz a sessenta milhões e mais , nesta obra magistral.
Embora eu tenha achado uma leitura difícil, devido a alternância do foco narrativo, da narrativa complexa e dos diferentes pontos de vista, que me obrigaram , inúmeras vezes, voltar às páginas anteriores para relê-las , Toni Morrison conseguiu seu intento: (...) levar o leitor a percorrer o terreno da escravidão e percorrer a paisagem repelente (oculta, mas não completamente deliberadamente enterrada, mas não esquecida (...) pag.12.
Bem, eu disse que no Morro dos Ventos Uivantes, havia presença de um ser sobrenatural, e não é que “Amada” se abre com as frases : "O 124 era rancoroso. Cheio do veneno de um bebê"(...). O ano que se inicia a narrativa é o ano de 1873 – 10 anos após a abolição da escravatura no Estados Unidos.
Até a chegada do Paul D. Seth e Denver (mãe e filha) viviam em um ambiente domestico que abrigava segredos sombrios, porém Paul D. consegue afugentar o bebê fantasma, mas a partir de então, torna-se impossível soterrar o passado.( gente, isso se passa bem no início da trama, portanto, acredito que não é spoiler).
Há tanto o que se falar sobre esse livro, mas eu não quero me estender. Entretanto, preciso dizer que aquela música: levanta sacode a poeira e dá volta por cima ( nem sei o porquê de ela vir a minha mente, mentira: sei sim) , se aplicada como um incentivo para seguir em frente , não passaria de um tremendo insulto diante de todo o cenário da obra. Lembrei-me da música porque considero que muitas vezes, "jogamos poeiras debaixo de um tapete", entretanto, quando resolvemos sacudi-lo, veem à tona todos os traumas, todas as dores, toda as chagas que tentamos esquecer, e no caso aqui em questão, soma-se a tudo isso as privações, a negação da humanidade e a condição de sujeito tolhida.
O final do livro, apesar dos pesares, a solitária e ávida de amor – a jovem Denver – consegue uma espécie de Redenção, quando sai em busca de ajuda e de trabalho, e finalmente ela compreende a noção de liberdade.
Encerro por aqui certa de que, em breve, farei a releitura desse livro, pois sei que tenho muito a desvendar.
AMEI. AMEI. AMEI.

Caio.Bonazzi 08/02/2023minha estante
Terminei hoje esse livro incrivel! Adoro suas resenhas Dirce.


DIRCE 08/02/2023minha estante
Oi ! Caio, fico muito lisonjeada. E que bom que você gostou também da obra .




Ana Aymoré 20/07/2020

Porque vidas negras importam
Quinto e mais conhecido romance de Toni Morrison, vencedor do prêmio Pulitzer de 1988, Amada (1987) é, sem dúvida, uma das obras de ficção mais extraordinárias da literatura norte-americana. A própria Morrison nos conta que a fábula foi inspirada pela história de Margaret Garner, uma escrava fugitiva que, acossada por seus perseguidores, matou um dos filhos (e tentou matar os demais), para impedir que a criança fosse restituída ao latifúndio do homembranco - essa é a grafia que se inscreve na mancha tipográfica do romance - e à condição de escrava. Na época, a lucidez e a aparente ausência de arrependimento por seu ato levaram a história de Garner a todos os jornais, o que inflamou a luta dos abolicionistas contra as Leis dos Escravos Fugitivos e contra a própria permanência do escravismo no sul dos EUA.
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Essa matéria-prima histórica é, entretanto, apenas o primeiro passo na construção de uma obra grandiosa. Em termos estilísticos, apresenta a característica prosa poética, extremamente plástica e versátil de Morrison em seu auge, que, desde a abertura (em que somos literalmente empurrados para a atmosfera sufocante e assombrada do 124) até o desfecho (que nos devolve à "solidão que vaga"), não cansa de nos surpreender em lances quase mágicos de alternância de registros, vozes narrativas, pontos de vista, modos, gêneros, dicções. Ao mesmo tempo, sua substância nos devolve à força do mito trágico de Medeia, o qual, antes de ser cristalizado pela tragédia clássica, compreendia o infanticídio perpetrado pela feiticeira da Cólquida não apenas como o ato de vingança de uma mulher rancorosa, mas como uma prática de imortalização e um enfrentamento à ordem patriarcal dos tiranos. Em Amada, essa dupla potência ancestral do mito reverte-se para o destino desumanizador das escravas ditas "parideiras" nas sociedades escravocratas, responsáveis pela perpetuação da mão-de-obra cativa, e consequentemente, impedidas de terem em sua companhia e em liberdade, suas amadas e seus amados: "Ele sabia exatamente do que ela estava falando: chegar a um lugar onde você podia amar qualquer coisa que quisesse - sem precisar de permissão para desejar -, bom, ora, isso era liberdade."
.
E é justamente porque precisamos, ainda hoje, afirmar e reafirmar que vidas negras importam, apesar de já tão distanciados no tempo da escravidão institucionalizada, que Amada, para além de sua inegável qualidade literária, precisa ser um romance sempre lembrado. Até que os olhos de Sethe se iluminem novamente, que ela possa ter, que ela possa ser (sua) Amada.
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Gabi 15/09/2020

Desde o começo do ano que queria fazer a leitura desse livro, mas sabe quando você nunca se sente preparado para determinado tipo de história? Eu estava assim com Amada, acabei lendo mesmo sem estar no clima, e isso afetou a leitura. Tive um pouco de dificuldade de me envolver no livro, mas já estava esperando por isso. A história é boa e provavelmente merece uma avaliação mais alta do que a minha, mas eu li no momento errado e acabei não me sentindo cativada. Apesar disso, o livro ainda me ensinou muito, talvez um dia eu faça uma releitura quando me sentir no momento certo para o livro.
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Mari.Alves 31/12/2022

Que livro!
É difícil de falar sobre ele, uma história triste mas linda, um texo duro mas sensível, em alguns momentos poético.
Entrou como um dos meus favoritos da vida!
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Julinhafox 06/10/2020

"Para Seth, o futuro era uma questão de manter o passado à distância"
Descrição que melhor resume o livro, na minha opinão:
"Amada tem uma força e uma simplicidade inusitadas." A.S. Byatt, The Guardian

Que livro.
Primeiro que li da Toni Morrison, espero ler mais dela.
A história é impactante, envolvente, doce e dura ao mesmo e, o que é mais impressionante, é que ela é contada de uma forma que te prende, mesmo quando você (ainda) não compreendeu exatamente o que ela quer dizer naquele momento ou até o que está acontecendo. Se isso acontecer com você, siga e insista, logo todas as peças se encaixarão e tirarão seu fôlego.
Livro lindo. Recomendo muito.

"Fazia sentido por uma porção de razões porque em toda a vida de Baby, como também na de Sethe, homens mulheres eram deslocados como se fossem peças de xadrez. Todo mundo que Baby Suggs conhecia, sem falar dos que amou, tinha fugido ou sido enforcado, tinha sido alugado, emprestado, comprado, trazido de volta, preso hipotecado, ganhado, roubado ou tomado. Então, os oitos filhos de Baby eram de seis pais. O que ela chamava de maldade da vida era o choque que ela recebia ao saber que ninguém parava de jogar as peças só porque entre as peças estavam seus filhos." Amada, Toni Morrison.
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Izabella.BaldoAno 31/05/2023

Que tarefa difícil a de escrever sobre um livro que se torna favorito da vida, né?

Amada foi uma leitura muito desafiadora pelos mesmos motivos que considero o livro apaixonante. trata-se de uma história contada através de uma narrativa não linear, em que cada informação importante é conquistada aos poucos. por isso mesmo, Amada é um livro pra mergulhar de corpo inteiro.

baseada em uma história real, a narrativa se passa nos Estados Unidos do fim do século XIX, num contexto de recente abolição da escravidão. aqui estão expostas camadas e mais camadas de feridas e traumas transgeracionais causados por toda a violência transferida por séculos aos povos afroamericanos. sobretudo, conhecemos de perto a história pessoal de personagens afetadas diretamente por essas violências e temos uma amostra das intersecções delas quando imputadas sobre mulheres, crianças, idosos, mães...

uma das grandes reflexões presentes na história é a que toca no direito de amar. o quanto podemos amar quando, a qualquer momento, tudo - nossos companheiros, nossas famílias, nossas próprias vidas - nos pode ser tirado? como lidamos com essas limitações e em que medida, através de que ações, podemos demonstrar amor num contexto onde a violência é a máxima?

tudo em Amada tem significados muito bem plantados. todas as temáticas são muito bem trabalhadas. todas as personagens são cuidadosamente construídas. tenho certeza de que esse é um livro que ecoará dentro de mim por meses, anos (quem sabe a vida toda)...
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Amanda Teles - Livro, Café e Poesia 16/05/2020

Gente, no início Amada demora pra engatar, é meio confuso mas depois pega no tranco e a leitura flui, vai com paciência mas vai.
É uma história incrível e dolorida que permeia o racismo, o preconceito, a escravidão, as relações familiares e a culpa, muita culpa.
Um passado tão vivo e presente que dita os sentimentos de cada um que vive em volta ao 124 e nas lembranças da Doce Lar.
É sem dúvida uma experiência de leitura intensa .......

Resenha completa no perfil literário @livrocafeepoesia no Instagram
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 22/08/2018

Toni Morrison - Amada
Editora Companhia das Letras - 368 Páginas - Tradução de José Rubens Siqueira - Relançamento: 16/07/2018.

Após o lançamento de seu romance Paraíso em 1997, a chamada de capa da edição de 1998 da revista Time não poderia ter sido mais elogiosa: "The Sound and the Fury of Toni Morrison", em uma referência ao clássico "O som e a fúria" de William Faulkner. Poderia existir honra maior para um(a) autor(a) do que ser comparado(a) a Faulkner, mesmo já tendo recebido o Nobel de Literatura em 1993? E ainda mais, na mesma matéria o subtítulo declarava: "The Great American Storyteller", sabemos que existe uma verdadeira obsessão da mídia nos Estados Unidos em encontrar o próximo "grande romancista norte-americano", até mesmo Jonathan Franzen já foi capa da Time em 2010 com essa mesma chamada mas, exageros à parte, não há dúvida de que, depois da morte de Philip Roth, é Toni Morrison que ocupa a posição de maior escritor(a) vivo(a) nos EUA, também por resgatar a história, muitas vezes esquecida, das mulheres negras que sofreram com a escravidão e suas consequências em uma sociedade que, assim como a nossa, ainda procura se libertar da herança de um passado racista e patriarcal.

Em seu quinto romance, Amada, lançado em 1987, prêmio Pulitzer de literatura de 1988 e escolhido pelo New York Times como “o melhor livro de ficção norte-americano dos últimos 25 anos”, Toni Morrison nos faz lembrar da força do texto de Faulkner em romances como O som e a Fúria e Luz em Agosto ao utilizar, assim como ele, sofisticadas técnicas narrativas que revolucionaram a literatura moderna ocidental, tais como a polifonia e estruturas de tempo não lineares, para descrever a violência de um passado racista na região sul dos Estados Unidos, mesmo após a Proclamação de Emancipação de Abraham Lincoln em 1863, assinada durante a Guerra Civil Americana. Além do Nobel, a lista de prêmios recebidos pela autora é considerável, culminando em 2017 com a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais alta honraria civil da nação, recebida das mãos do presidente Barack Obama e igualando-se a outros escritores do passado como: T. S. Eliot, John Steinbeck, Tennessee Williams e Maya Angelou, outra grande escritora e ativista da causa da integração racial.

No prefácio de Amada é a própria Toni Morrison quem explica o contexto de criação do romance quando, após abandonar o seu antigo emprego de editora, sentiu um "choque de liberação" que ela imaginou como um sinal do que poderia significar ser "livre" para as mulheres nos anos 80 e o evidente contraste com a história das mulheres negras no seu país, mulheres para quem o casamento era "desestimulado, impossível ou ilegal" só sendo permitido ter filhos com a finalidade única de reproduzir mais escravos, sem o verdadeiro sentido de maternidade que era uma aspiração "tão fora de questão quanto a liberdade". Foi então que Morrison conheceu a história real de Margaret Garner, uma jovem que, após fugir, foi presa por matar um de seus filhos (e tentar matar os outros), para impedir que fossem devolvidos ao regime de escravidão. Essa foi a inspiração brutal para escrever um livro sobre a escravidão e o direito à liberdade, a história de gerações de mulheres negras que tentaram sobreviver e esquecer o passado.

No início do romance, ambientado em 1873, uma época portanto já posterior ao final da Guerra Civil e a proibição oficial da escravidão nos Estados Unidos, encontramos Sethe, ex-escrava, que vive com a filha Denver e a sogra Baby Suggs em um casarão, chamado simplesmente de 124, no subúrbio de Cincinatti, Ohio. O isolamento das três e os estranhos fenômenos paranormais que ocorrem na casa, assombrada pelo fantasma de um bebê, passam a ser explicados em uma narrativa que oscila todo o tempo entre o presente e o passado, e por meio de diferentes pontos de vista de cada personagem, de forma que a história completa vai sendo revelada de forma gradativa, exigindo atenção redobrada do leitor.

Sethe e o marido, Halle, eram escravos em uma fazenda chamada Doce Lar no Kentucky a qual, depois da morte do proprietário, passa a ser administrada por um homem cruel, conhecido como professor pelos escravos remanescentes: Paul A, Paul D, Paul F, Halle, Seiso e Sethe (grávida na ocasião), além dos três filhos ainda pequenos de Halle e Sethe. O grupo de escravos, esgotado pelos maus-tratos, planeja uma fuga da fazenda e Sethe consegue, com muito sofrimento, alcançar o objetivo de chegar no casarão em Cincinatti, onde já vivia a sogra Baby Suggs. No caminho, ela passa por inúmeras dificuldades e se perde dos antigos companheiros da Doce Lar, inclusive do marido Halle. Os traumas vivenciados por Sethe na fazenda e também durante a fuga, quando ela dá à luz uma menina que irá se chamar Denver, fazem com que ela lute para esquecer o passado.

"Sethe abriu a porta e sentou na escada da varanda. O dia tinha azulado sem o sol, mas ela ainda conseguia divisar as silhuetas negras das árvores no campo adiante. Balançou a cabeça de um lado para outro, conformada com seu cérebro rebelde. Por que não havia nada que seu cérebro recusasse? Nenhuma miséria, nenhuma tristeza, nenhuma imagem odiosa detestável demais de se aceitar? Igual a uma criança gananciosa, seu cérebro agarrava tudo. Uma vez só não poderia dizer: não, obrigada? Detestei e não quero mais, não? Estou cheia, droga, de dois rapazes com musgo no dente, um chupando meu peito, o outro me segurando, o professor leitor de livros olhando e escrevendo. Ainda estou cheia disso, droga, não posso voltar atrás e juntar mais coisas." (Págs. 103 e 104)

De todas as lembranças e traumas, a mais difícil de esquecer é a morte violenta da pequena filha, ainda bebê, que havia chegado a salvo, juntamente com os outros dois filhos mais velhos, no casarão em Cincinatti. Essa filha é conhecida apenas pelo nome de Amada, como foi gravado em sua lápide. Dois novos personagens trazem de volta o passado que Sethe tanto precisa esquecer. O primeiro é um antigo companheiro da fazenda Doce Lar, Paul D, que também passou por muito sofrimento depois da fuga e oferece para Sethe a possibilidade de ainda encontrar um amor tardio em sua vida. Finalmente, surge a misteriosa e bela jovem negra que diz se chamar coincidentemente Amada e irá provocar novas revelações, fazendo renascer os sentimentos reprimidos de ódio e culpa que ainda permanecem na memória de todos.

A Editora Companhia das Letras presta uma merecida homenagem a essa obra-prima da literatura mundial com o relançamento do romance em um novo projeto gráfico que valoriza a obra de Toni Morrison pela simplicidade da capa. A tarja com o título e nome da autora é removível ficando apenas a imagem do perfil da mulher em negro contra o fundo branco. Um livro difícil de esquecer e muito recomendado para todos que se interessam por literatura.
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