liaentrelivros 11/03/2024Cham cham cham"Você está sempre imerso em um pensamento, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana? E se esse pensamento for uma memória cheia de dor?"
Uma senhorinha perde sua bolsa na estação de metrô de Seoul e se surpreende ao descobrir que a pessoa que a encontrou é um morador de rua que acaba apanhanhando de outras pessoas que querem levar sua bolsa e a comida dele. Em forma de agradecimento, a Sra. Yeom o leva até a sua pequena loja de conveniência e oferece a ele uma refeição de graça, enquanto tenta descobrir a história por trás daquele homem que falava com dificuldade, mas não parecia ter sido criado na rua, pois sua dignidade falava mais alto que o próprio instinto de sobrevivência.
Aí, a gente vai abrir uma garrafa de soju pra continuar essa história, pois, se ele mesmo soubesse sua identidade, também daria uma refeição pra Sra. Yeom! Ele conta que sofre de demência por causa da bebida e não sabe há quanto tempo, nem o motivo de estar na estação, só sabe que o chamam de Dok-Go. Então, esse livro conta a história de um desses improváveis encontros do destino que mudam a nossa vida pra sempre, pois ali nasce um elo de solidariedade entre os dois, ela querendo ajudar nem que seja com uma refeição por dia e ele preocupado com a segurança dela numa loja 24h.
"Se não tratar bem seus funcionários, seus funcionários não vão tratar bem seus clientes"
A loja de conveniência Always não dava muito lucro para a Sra. Yeom, pois não era localizada em uma rua principal - como costuma ser esse tipo de loja - e os vizinhos preferiam fazer compras no mercadinho do bairro, onde sempre dava pra pechinchar. Isso era uma preocupação para a senhora, não pelo faturamento, mas por conta do filho, que vira e mexe insistia na venda da loja para que ele usasse o dinheiro em outro negócio, enquanto, para ela, era mais importante manter o emprego de seus três funcionários.
Aconteceu que o funcionário do turno da noite pediu demissão e ela precisou ficar no lugar dele até encontrar outra pessoa, ou seria a desculpa perfeita para o seu filho por o plano de se livrar da loja em prática. Mas, durante uma tentativa de assalto por adolescentes baderneiros, Dok-Go consegue detê-los até a chegada da polícia, ganhando a confiança da Sra. Yeom e a vaga de vendedor do terceiro turno. Logo, ele começa a cuidar da loja fora do seu horário de trabalho (afinal, não teria para onde ir após o expediente) e aos poucos, sua gentileza incômoda e ambígua começa a atrair o olhar repulsivo, mas curioso de todo tipo de cliente, desde as vovózinhas mão abertas até os jinsang ou js, como são chamados os clientes abusados.
Muitas histórias vão se passando tendo uma cotidiana loja de conveniência como pano de fundo. Desilusões, problemas familiares e até clientes famintos na madrugada, hahaha. Mas quem diria, aquela loja que nunca tinha uma boa variedade de produtos, não tinha muitos eventos, não dava para pechinchar, tinha como principal incoveniente dar atenção às pessoas que nem imaginavam precisar de uma palavra de acolhimento!
A trama é simples e gira em torno do mistério sobre o passado de Dok-Go, mas, traz muitas reflexões sobre como tratamos as pessoas invisíveis à sociedade, o abandono de idosos e a responsabilidade afetiva dentro do âmbito familiar. Tem muito tapa na cara disfarçado de gimbap fofinho nessa história! É um quentinho pro coração pensar como a vida pode nos surpreender quando estendemos a mão! Não esqueçam de ler os agradecimentos!
*Cham cham cham - Ramyeon de gergelim, Gimbap de atum e soju Chamisul - o trio inconvenientemente perfeito da loja de conveniência perfeita!
"Os membros de uma família também são como clientes; na verdade, são convidados na nossa jornada da vida, não são? Sejam eles convidados de honra ou convidados indesejados, se os tratarmos como clientes, ninguém sairá machucado."