Monica Quintal 07/08/2023
"Duas pessoas se encontram por acaso no Instituto de Arte de Chicago. A partir desse momento, Aldo Damiani e Charlotte Regan têm dificuldade de ficar longe um do outro.
Ele é um teórico antissocial que mantém a mente ocupada com cálculos sobre viagem no tempo e abelhas. Para Aldo, o mundo é caótico e perturbador. Então, ele constrói rotinas, regras e fórmulas. Sem isso, sua existência entraria em colapso.
Ela é uma falsificadora de arte que prefere mentiras a verdades. Para Regan, todas as pessoas são previsíveis e entediantes. Ela lida com o tédio da existência tomando decisões impulsivas, imaginando que uma nova linha do tempo é criada a cada ação.
Quando os caminhos dos dois se cruzam, eles ficam intrigados pela mente um do outro. Decidem ter apenas seis conversas, como as seis pontas de um hexágono, antes de se separarem outra vez. Porém, a colisão de suas personalidades leva a uma paixão que às vezes parece um encaixe perfeito e às vezes um desastre capaz de eliminar qualquer vestígio de estabilidade em suas vidas."
Fazia tempos que não lia algo que mexesse comigo desse jeito. A sensação é que com esse livro não basta ler, ele precisa ser sentido, vivido, ingerido, mastigado, dissecado, digerido.
Amo personagens humanos, imperfeitos, falhos, reais. E aqui temos dois, e um relacionamento amoroso, compulsivo, obcecado, que te faz questionar até que ponto é saudável a gente se perder no outro, mas também se achar em alguém. Amar uma pessoa, e amar a sua própria versão quando está com ela - mas essa é uma versão? Ou essa é você? Uma nova você, talvez? Ou uma farsa, e quem você é continua ali, escondida no fundo, esperando um momento de distração pra reaparecer?
É uma história sobre querer mudar, mas não saber o limite entre mudar porque quer, ou porque o outro espera, ou porque você achava que ele esperava, mas na verdade ele nem percebeu sua essência. Ou será que percebeu?
Sobre ter medo, muito medo, medo de reações inesperadas, medo do outro lhe fugir por entre os dedos, medo de uma expressão não lida, um pensamento não transmitido.
É um livro sobre Rinaldo e Charlotte. Sobre Aldo e Regan. Sobre ele e ela, ele-e-ela, ou talvez sobre você. E daí você lembra que são personagens, e que mesmo que não fossem, o relacionamento é deles, né? E quem somos nós pra julgar? Pra condenar? Pra admirar? Pra torcer e chorar e sofrer e sentir o coração aquecer e num segundo ser quebrado?
Enfim, eu amei. Fiquei com vontade de reler enquanto lia, faz sentido?
Não sei se é um livro pra todos os públicos, é bom conferir os gatilhos!
Mas recomendo DEMAIS, esse livro mudou alguma coisa na química do meu cérebro, acho.
"Foi um acontecimento forçado, uma intervenção divina, ou apenas faltava nela o mesmo que faltava nele e, assim, era inevitável que ambos buscassem ser preenchidos?"
"não era bem uma questão de quando tudo havia acontecido, e sim de se entregar quando já não havia como voltar atrás."
"Livros me levavam a lugares a que nunca poderia ir de outra maneira. Compartilhavam confissões de pessoas que eu nunca conheceria e vidas que jamais presenciaria. As emoções que não conseguia sentir e as experiências pelas quais não passara podiam ser todas encontradas naqueles volumes."
"Ele a beija, e pensa: Vá em frente, me arruine. Me destrua, por favor. Ela corresponde o beijo e atende seu pedido."
"Às vezes sinto que só estou esperando por algo que nunca vai acontecer. Como se eu só estivesse existindo dia após dia, mas que nada jamais vai ter importância. Eu acordo de manhã porque preciso, porque tenho que fazer alguma coisa, senão sou só um zero à esquerda, ou porque, se eu não atender ao telefone, meu pai vai ficar sozinho. Mas é um esforço constante, é trabalhoso. Todo dia eu preciso dizer a mim mesmo para sair da cama.
Levante-se, faça isso, se mexa assim com as pessoas, seja normal, tente socializar, seja legal, tenha paciência. Por dentro só sinto, sei lá, um vazio. Como se eu não passasse de um algoritmo que alguém determinou"
"Se ainda estou aqui, pai, então, por favor, deixe que tenha sido por um motivo."
"Não sei dizer do que você é feita, Charlotte Regan, mas eu venho da mesma coisa."
(Essa aqui é 100% Heathcliff-Catherine)
"Sem fé, a ciência é defeituosa, Masso, e a vida perde a alma. Ela é minha esperança e por isso é perigosa, sem dúvidas, mas também está viva, sem reservas. Levei esse tempo todo para finalmente entender."
"E qual é, pergunta ele, A Verdade?
Que ela vai continuar virando em esquinas até encontrá-lo."
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