spoiler visualizartisdamnath 03/06/2024
?Os meus anjos te amam, Dante? todos eles.?
Eu não sou uma entusiasta de Dark Romance, e penso que essa informação por si só justificaria minha nota para esse livro. 3,5 não é ruim, longe disso aliás, porque eu verdadeiramente gostei da escrita da autora, da ideia do enredo e outras coisas.
Mas há algumas ressalvas indispensáveis que fizeram Incipit não ser uma obra favoritada por mim, e é sobre elas que eu gostaria de comentar.
Uma das primeiras coisas que notei assim que a história começou foi os nomes escolhidos e o uso frequente de sobrenomes para se referir aos vários personagens. É uma opinião completamente particular, mas ?Rostos Vazios?, ?Domínio? e ?Fábrica? não me parecem atrativos e convincentes. Sobre os sobrenomes: é muito fácil de se perder na trama quando não se sabe identificar os personagens. Tive que ficar indo e voltando várias vezes para saber de quem se tratava ?Fish?, ?Van Dore?, ?Campbell? e afins. Mesmo que tenha sido um problema somente inicial, não pude deixar de dizer.
Sobre a escrita de Leanor, posso dizer que ela sabe fazer o leitor deslanchar na história como ninguém. É viciante, descritiva na medida certa e fluída. Porém, o uso desnecessário de muitas frases de efeito me incomodaram. Tive, muitas vezes, a impressão de que ela queria chocar alguém com suas descrições. Coisas como ?ele é o caos, eu sou a ruína? (não isso exatamente), foram colocadas, e essa tentativa extrema de deixar tudo poético e metafórico não funcionou. Eu senti vergonha alheia em vários momentos, assim como revirei os olhos de tédio em outros. Novamente, a escrita não é ruim, apenas precisa ser podada em alguns aspectos? isso faria com que a qualidade aumentasse e a autora não tivesse cara de amadora. Havia erros de concordância e gramática, também, mas sabendo que foi uma publicação independente, não vejo o motivo de criticar esse ponto; apenas destacar. Espero que nas próximas obras, isso melhore.
A Emília não me irritou tanto quanto achei que iria. Claro, nos flashbacks tive que me segurar para não chamar ela de burra e todos os sinônimos da palavra? fiquei me lembrando a todo instante que ela só tinha treze anos e nutria sentimentos por um rapazinho atraente. Assim, consegui relevar suas mancadas numa boa. E falando em flashbacks, Deus sabe o quanto eu me sinto ansiosa e patética quando a trama alterna tempos diferentes, mas me vi surpreendentemente apegada ao passado uma vez que, depois, tudo o que restou foram as narrações sem graça e repetitivas do presente. Elas deixaram a desejar em muitos pontos.
Assim, entro numa crítica (bem rasa, confesso) em relação ao enredo. Como disse antes, a ideia é legal, boa e chamativa. 🤬 #$%!& , os caras nutrem uma sede de vingança contra um sistema que iria acabar com eles da maneira mais desunama e nojenta possível. A base de tudo é realmente interessante? fiquei muito intrigada. Contudo, o livro se tornou enorme e com pouquíssima ação, de fato. Gostaria de ver as coisas desembolando com mais clareza e qualidade. A Emília diz diversas vezes que quer saber melhor sobre seus pais, mas chega no final, e nada disso fica esclarecido. Ela lida com diversas revelações chocantes conforme a história avança, mas simplesmente não reage de forma alguma. É desinteressante e chato, simples assim. Apesar de eu não desgostar dela. Muitas outras pontas também não foram amarradas, como por exemplo, o casamento do irmão do Asher, ou a morte da garota que Jaxon amava, mas até aí eu consigo entender que o livro de cada um vai servir como explicação (espero, pelo menos).
Achei todo o restante ? Daniel sendo da Fábrica ?, o tal do Angelo Wayne (tio dele), as amigas que de nada desconfiavam? sendo que a Kayleen, nos flashbacks, sempre parecia notar que havia algo errado com a Emília, muito inverossímil. Eu senti que nada foi explorado da maneira que poderia, tudo foi tratado com muita superficialidade enquanto o enredo poderia ser forte e mais alavancado. Estamos falando de um sistema de tráfico humano, 🤬 #$%!& , o mínimo que eu esperava era, de fato, cenas mais importantes e pesadas do que tivemos.
O acordo que Emília e Dante fizeram perdeu a funcionalidade ao longo do tempo. Quer dizer, posso estar enganada, mas desde o início ele fez muito sentido pra mim. Dante sabia que jamais conseguiria matar Emília, e Emília também sabia que jamais conseguiria matá-lo. Para mim, soou como um escape mais fácil para justificar outras coisas da trama e dos personagens. Antes mesmo do acordo ser quebrado, ele já não existia mais, e qualquer leitor que se preze consegue perceber isso.
Falando mais sobre algumas pontas soltas, quero dizer que o mapa (o motivo do sequestro e a existência do acordo) simplesmente deixou de ser citado em algum momento da história. No final, Dante diz que agora eles irão buscar outros caminhos, mas droga, isso foi frustrante, porque mesmo sabendo que tudo vai ganhar uma continuação (ainda que os protagonistas não sejam eles), o mapa foi a razão principal para tudo no presente ter acontecido. Como disseram no livro: ele foi o Incipit de tudo. O (re)começo (e reencontro) de Dante e Emília. Senti que a autora já não tinha domínio suficiente para inserir ele na história de maneira mais profunda e convincente. Às vezes, tive a impressão de que faltou planejamento.
Assim como falei no início, não sou uma entusiasta de Dark Romance ? esse, inclusive, é o primeiro que dei uma chance. Vi uma parte de um diálogo no TikTok e quis conferir se Dante era mesmo tudo isso. A resposta que fica é que: sim! Apesar dos pesares, eu adorei o Dante. Acho que as perspectivas dele sobre algumas coisas são muito valiosas e realistas, então, ele foi um bom personagem. É claro que o enredo dele e de Emília é baseado naquela coisa de ?não toque nela?, ?eu odeio todo mundo menos ela?, mas eu não me vejo no direito de reclamar sendo que abri o livro esperando justamente esse tipo de conteúdo. Eu poderia citar como ele é esquisito em alguns momentos, sempre fazendo coisas grandiosas ? como incendiar o bloco dela na faculdade apenas porque ela não a responde no celular ?, mas mais uma vez: eu procurei por um conteúdo assim, então consigo relevar. Achei algumas coisas fofas, até. Como a maneira que ele defendia ela (mesmo sem precisar) dos caras, ou da sua obsessão por seu cabelo? coisas assim. Em relação à ética das atrocidades que ele e o restante dos Rostos Vazios fazem, minha opinião é a mesma que de Emília em certo ponto da história: não acho correto mas também não julgo cem por cento (no caso, acho que ela disse ?não o perdoo mas também não o condeno?, ou algo assim).
O casal tem química. Eu gostei das provocações que tiveram, mesmo os diálogos sendo bem infantis em alguns quesitos. Para mim, é inegável o quanto ela o ama e vice-versa, mesmo que os dois tentem dizer que não a todo tempo. A única coisa na dinâmica deles que me tirou do sério foi a necessidade de estarem envolvidos em uma transa sempre que um problema aparecia. Já sabia que teria cenas de sexo e elas não são um problema, mas precisava dessa quantidade toda? Às vezes, nem foram a quantidade em si, mas os assuntos? os diálogos sempre haviam coisas relacionadas a isso? como Dante bateria em sua bunda caso não o obedecesse? enfim, penso que quem leu Incipit sabe muito bem do que estou falando. Talvez essa parte devesse ter sido melhor aproveitada? talvez pudéssemos ter cenas melhores e mais sentimentais caso os protagonistas não agissem como dois coelhos no cio. Essa síndrome de resolver tudo com fodas me irrita bastante. Sinto muito.
O fim, assim como todo o desenvolvimento da Fábrica e etcetera, foi uma grande incógnita. Não acho que tenha sido Cole que atirou em Emília até porque ficaria muito óbvio? e mesmo sabendo que há grandes possibilidades de realmente ter sido algum deles, por algum motivo não acredito nisso. Não vou mentir, fiquei encabulada para ler o próximo volume e provavelmente assim que lançar, lerei. Fiquei com um pé atrás sobre a relação de Cole e Kayleen ? porque ficou claro que eles já se envolviam ?, mas mesmo que ele não me interesse tanto, quero ler Oblívio, até mesmo pra me certificar se as pontas soltas serão amarradas. Em relação ao fim de Emília e Dante, a única coisa que posso dizer é que achei fraco e previsível. Depois de tantas emoções, altos e baixos naquilo que mantiveram, pensei que teríamos algo melhor a se agarrar.
Nem de longe eu me arrependi de ler Incipit. Fiquei viciada, talvez até tenha me posto em uma ressaca literária, visto que passei quase dois dias sem conseguir largar o livro, então, eu recomendo! Mas recomendo ir sem expectativa nenhuma, com calma, e com a certeza de que vai precisar relevar alguns detalhes. Acredito que assim, a experiência possa ser boa assim como a minha!