@jaquepoesia 19/09/2023
É um livro magnífico, como tudo que já li da Allende!
A narrativa se inicia em Viena no ano de 1938, e nos apresenta a família Adler, justamente quando os nazistas estabeleceram o controle do território.
Logo acompanhamos o terror vivido pelas vítimas do regime nazista, ao viverem a repressão, que começou os proibindo de entrar em certos restaurantes e lojas, gerou demissões, confisco de comércios e propriedades e etc. A eminente violência crescente a cada novo decreto nazista, atormenta os Adler, por isso Rufolf busca convencer a esposa a fugirem dali.
Mas quando a violência chega a essa família a amizade é a única coisa que pode lhes oferecer certa segurança.
Já tinha lágrimas nos olhos ao iniciar a leitura do segundo capítulo, onde um dos membros da família Adler é deportado para um campo de concentração em Dachau.
O que os Adler farão para se manterem vivos e tentar salvar uns aos outros, é um drama a parte em meio a todo o caos instaurado pelo nazismo.
Isabel Allende nos entrega uma história rica em detalhes, onde o desespero ecoa em cada página nos fazendo através dessa ficção tentar supor o verdadeiro terror vivido pelos judeus.
Ao findar do segundo capítulo já estava banhada em lágrimas, como Rachel Adler ao se despedir do filho, que partia para Inglaterra, para que fosse mantido em segurança.
Se por um lado havia a dor dos pais separados de seus filhos, do outro havia a dor dessas crianças por estarem distantes de seus pais, passando de família em família, até muitas vezes irem parar em abrigos e orfanatos. E é nessa terrível angústia que de fato o foco dessa narrativa vem a tona.
A obra retrata através de Samuel (filho de Rachel) e Anita os efeitos da guerra na vida das crianças que viveram um inferno para sobreviverem.
Samuel carregará pra sempre após tudo o que viveu muita solidão e uma visão bastante triste da vida, e leva muitos anos para aceitar que sua mãe fez o que fez para o seu bem. Já Anita Díaz, de sete anos está exilada nos Estados Unidos, para fugir do iminente perigo em El Salvador. No entanto, sua chegada coincide com uma nova política que a separa de sua mãe. A criança cega, conta apenas com a ajuda da assistente social Selena Durán e o advogado Frank Angileri, que lutam para leva-la até sua mãe.
Existe um clima de romance na história que se dá através da relação inicialmente profissional entre Selena e Frank. Já a mágia tão marcante na escrita de Allende, acontece através da reputação de videntes das mulheres Durán, das visões do fantasma da esposa morta (Nadine) vista por Mister Bogart e da forte imaginação da menina Anita, que cria em sua mente um novo mundo. Em Azahabar, Anita é uma princesa, humanos, seres mágicos e animais são iguais, todos são dignos de reverências, a cidade é de cristal e há piscinas cheias de sorvete por lá. E é neste o mundo que Anita busca se abrigar, para fugir da solidão.
O livro é uma denúncia sobre a realidade dessas crianças, indo da Viena de 1938 ao Arizona de 2019 (enquanto o tempo avança), aqui o leitor(a) se depara com duas difíceis situações que exigem dessas crianças muita resiliência e esperança. Em certo momento ambas as histórias se entrelaçam, chegando aos recentes anos de pandemia.