spoiler visualizarLeticia.Knabben 19/05/2024
Baita romance de estreia!
Obrigada, Pinterest, por essa recomendação. Fazia tempo que eu não desejava um livro só por causa da capa. Que capa linda. Ganhei ele de amigo secreto da minha prima e esperei o mês de março pra poder ler junto com o grupo de leitura. Infelizmente, eu estou em um fuso horário diferente e não tenho conseguido acompanhar muito bem as reuniões, além de ter pego um trabalho que demanda muito do meu tempo (o restante que eu tenho livre, eu uso pra poder conhecer a cidade), então ao invés de escrever as resenhas desses últimos dois meses, eu só embarquei em outra leitura e pronto. Fui digerindo a narrativa, porque nossa, essa precisava ser digerida aos poucos mesmo.
Para quem for ler o livro: atenção ao aviso de conteúdo sensível nas primeiras páginas.
Eleito como o melhor livro de 2022 pela Stylist Magazine, Cleópatra e Frankenstein é um livro sobre pessoas que vivenciaram traumas e que tentam se relacionar apesar de toda a bagagem que elas carregam. A gente percebe, ao longo da narrativa, que embora os personagens cometam uma série de erros, eles não podem ser resumidos a pessoas ruins. Eles não são pessoas ruins... São só pessoas.
O livro é narrado inteiramente em 3ª pessoa, exceto por dois capítulos que são narrados pela Eleonor e tem um formato um pouco diferente, são comentários sagazes daquilo que ela vivencia no cotidiano. Bem interessante. Li que a maioria dos leitores achou a quantidade de vozes e personagens um dos pontos fracos do livro, mas pessoalmente eu adorei ter me visto não somente no lugar da Cleo e do Frank, mas também aos pés da Zoe, do Quentin, do Anders e, claro, da Eleonor.
Dá pra viver muitas vidas só nesse livro, dá pra fracassar e se reerguer em cada capítulo, dá pra morrer de ódio e ainda assim ter empatia. Eu tive muitas reações com essa leitura e foi uma supresa, porque fui ensinada a não colocar expectativas quando a capa do livro é bonita.
A primeira impressão que se tem da Cleo é de que talvez ela seja uma pessoa muito sociável, inserida em um circulo social muito amplo e distinto, só 24 anos, festeira, linda, jovem, interessante. Ao longo da narrativa vemos o contrário disso, na verdade, ela é uma personagem cheia de melancolia. Ser muito doce e gentil faz com que ela exercite uma paciência que a torna cada vez mais triste e a afunda mais e mais no buraco que é o Frank.
Para entendê-lo, talvez, é preciso ver o alcoolismo de perto e a falta de autoestima. Aos 44 anos, o Frank ainda é uma criança.
Os dois são como uma bomba relógio.
Um dos pontos altos do livro, senão o ponto mais alto dele, é o capítulo treze. Acho que consegue ser um dos melhores diálogos de conflito que eu já li na literatura. Foi tão intenso, pareceu tão real. Saí machucada como se aquele relacionamento fosse o meu.
"Naquele momento, ele aprendeu que tinha capacidade de odiá-la".
"Ela se virou para encará-lo novamente e se sentiu esvaziada de todo o amor por ele".
Quão danificado o seu relacionamento precisa estar para enxergar ódio e deixar de sentir amor no outro?
"Quando a parte mais sombria de você encontra a parte mais sombria de mim, ela cria luz". O que eu entendi de tudo isso é que só o amor nunca será o suficiente. É preciso se amar primeiro para depois amar o outro. Entendi que esse é o retrato mais verossímil de que gente machucada, vai machucar. De que a luz só veio quando os dois se deram a chance de serem livres um do outro.
O final me fez refletir muito sobre o que restou ali. E eu achei bonito.
Para além de todo o drama, é um livro repleto de referências culturais, principalmente porque a Cleo é uma artista e o Frank é dono de uma agência de publicidade de sucesso, então o circulo que eles frequentam, embora extremamente problemático, é cheio de intelectuais e de gente bem-sucedida ou que ainda está galgando um lugar naquele cenário caótico de Nova York no início dos anos 2000.
Por fim, a autora levou mais de 7 anos para que o livro fosse concluído e, para um romance de estreia, eu achei surpreendentemente muito bom. E com a capa linda, é importante frisar mais uma vez.
O livro tem 445 páginas, mas ele parece muito menor depois que você termina. Dizem que é uma ótima recomendação para quem gostou de Normal People, que já está na minha lista para os próximos meses.