A visita cruel do tempo

A visita cruel do tempo Jennifer Egan




Resenhas - A visita cruel do tempo


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Bacellar 08/02/2012

Teoria do tempo
"A visita cruel do tempo", da americana Jennifer Egan, é um dos melhores romances que li nos últimos tempos. A autora dissocia juventude de maturidade ao trabalhar a construção de seus personagens, sobrepondo na trama mosaico épocas distintas e dando a dimensão do abismo que separa ascensão, inconformismo e otimismo de decadência, resignação e desilusão. Munida de sutileza mordaz, Egan, com sua sensibilidade refinada e inteligência narrativa, entrelaça histórias para falar da inexorabilidade do fluxo da existência -- e seus reflexos no arco de formação psicológica dos personagens. Cotejar o antes e o depois é o mais assustador. Encarando duas verdades separadas pelos anos (o que é possível devido ao afastamento de seus objetos, benefício da literatura, possibilitando a visão do quadro maior), "A visita..." leva cada leitor a refletir sobre si mesmo da maneira que achar mais conveniente (ou menos dolorosa). Contrapondo expectativas e realizações, sonhos e realidade, promessa e concretização, a obra vencedora do Pulitzer de Ficção 2011 nos provoca ao estabelecer um antagonista que não podemos combater, o tempo. Livraço!
Sueli 22/05/2012minha estante
Adorei a sua resenha!!




Cesar Garcia 30/05/2022

Sobre o tempo e sobre pessoas
A visita do tempo, como as pessoas encaram a passagem dele, como os relacionamentos mudam, as pessoas mudam, o tempo muda tudo.
Belas reflexões em narrativas interessantes e personagens com muitas camadas.
Um belo livro.
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Caroline 25/03/2021

Seria uma antologia de contos sobre o tempo?
Eu achei um livro fluido e com escrita e estruturas bastante diferentes de outros livros - pois cada capítulo está em tempo diferente e possui um protagonista diferente e isso me faz achar que é quase uma antologia, rs. Apesar dessa condução diferente, eu achei fácil de ir me situando nas histórias, pois os capítulos vão as conectando por um fio (que sobre e desce e dá voltas, é verdade, mas ainda sim, você vai entendendo a conexão). É bem possível perceber que o título vai soando cada vez mais pesado, à medida que você vai entrando na vida dos personagens, pois o tema comum entre eles é justamente o impacto do tempo na trajetória de todas essas pessoas. É aí que esse livro te pega e te faz refletir sobre sua própria vida e sobre o que o tempo faz com você (e vice-versa).
Como um livro com tantas histórias diferentes, algumas agradam mais, outras menos. Sasha é uma das minhas personagens preferidas, enquanto a história sobre Dolly/Lulu etc, me pareceu meio chatinha (até curto o tema que envolveu a trama, mas não gostei muito dessa parte no livro). Mas todas te fazem refletir. Gostei bastante desse livro.
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Fabiana 12/06/2012

Um retrato da vida
Tomei contato com este livro através das resenhas que li aqui no Skoob. Fiquei intrigada pela falta de linearidade da narrativa, por ser um livro de histórias de pessoas comuns e por tratar de um assunto muito recorrente na minha cabeça há alguns anos (a passagem "cruel" do tempo)e finalmente por revelar certa ousadia em desafiar alguns padrões da literatura (um livro narrado na 2a. pessoa??).

Já no primeiro capítulo fui intimamente fisgada, seja por me identificar com alguns aspectos da vida de Sasha (também estou com 35 anos, vivendo uma fase meio intermediária a alguma coisa que já passou e outra que está por vir e em conflitos com a minha análise), seja pela narrativa ágil, franca, contemporânea e de muito boa qualidade.

Logo após o primeiro capítulo me deparei com sentimentos mistos, gostei muito de alguns capítulos, não gostei tanto assim de outros, mas uma coisa realmente inédita aconteceu: não consegui ler mais de um capítulo no mesmo dia! Capítulo após capítulo me ocorria um frase que li em uma das resenhas "não foi difícil lê-lo, mas também não foi fácil".

Não tive dificuldades em entender a estrutura do livro, seus diversos protagonistas (ou subprotagonistas como muitos chamaram), narradores, tempos que vem e vão, mas existia alguma coisa ali que me incomodava e ao mesmo tempo me atraía profundamente. Tamanha foi minha conexão com as personagens que eu não achava "respeitoso" ou "natural" migrar da individualidade de um pra outro, de um tempo cronológico para outro, na mesma noite. Era como se eu tivesse que aceitar tacitamente a "passagem cruel do tempo", uma coisa de cada vez...são pessoas diferentes, em momentos diferentes. Acho que não só mergulhei na história de cada um, como também mergulhei na lógica do livro intimamente conectada com o tema que ele aborda. Eu vivi, não fui só uma expectadora (daí ser fácil e difícil ao mesmo tempo...daí "viver" uma coisa de cada vez).

Gostei de muitas coisas, muitas coisas mesmo...Mas tiveram coisas que eu vou escrever aqui para que num futuro próximo (ou não!) eu venha constatar se eu me esqueci ou ainda lembro delas:
(SPOILER) - De A a B - o que passou pela cabeça de Stephanie quando soube que Bennie a traía, em especial a passagem de Noreen, a vizinha que tudo vivia, menos a sua própria vida (aparentemente imune à "visita cruel do tempo"?)
- Como vender um general - Amei, adorei!! A narrativa, os personagens são tão reais e irreais ao mesmo tempo. Fiquei fascinada com a obstinação de Dolly em sobreviver à "visita cruel do tempo".
- O Power Point de Alison Blake - num primeiro momento sem sentido, sem profundidade, mas tão cheio de significados. Ironicamente, é o capítulo que te dá mais respostas em comparação aos demais. A inserção do universo autista de Lincoln também faz toda a diferença e se mescla com a narrativa: se o livro trata da avassaladora passagem do tempo, do seu impiedoso movimento contínuo e incessante, o que dizer da obsessão de Linc pelas pausas?
- Um almoço em quarenta minutos: KJ revela tudo sobre amor, fama e Nixon - texto formidável. Parece a expressão "o tempo escorre pela suas mãos" em forma de texto. Tem todas as características da instantaneidade, esmorecimento, volatilidade da "passagem do tempo"
- O destino dos filhos de Lou: Charlie e Rolph
- A conversa no bar entre Alex e Lulu no último capítulo
- Por fim, uma passagem: "seu novo livro versava sobre o fenômeno dos invólucros das palavras, expressão da sua própria lavra para se referir às palavras que não tinham mais significado fora das aspas. A língua inglesa estava cheia dessas palavras vazias - "amigo", "real", "história", "mudança" -, palavras que tinham sido esvaziadas de seus significados e reduzidas a meras cascas."

Um livro extraordinário. Me fez pensar sobre minha própria vida ao mesmo tempo em que me vi tragada pela vida das personagens. Produziu em mim o efeito de um filme adorado (amo cinema!): dormi, acordei pensando no livro, mesmo não estando o lendo, e isso quando acontece é fantástico, é raro, dá até para driblar (parar?) mesmo que por 1 segundo a "visita cruel do tempo".
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Karen 14/02/2022

Temos nosso próprio tempo
Impossível ler esse livro e não pensar na música da Legião Urbana;
"Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo"

Um bom livro, mas sem os exageros do hype em torno da autora, pois tem muita autora contemporânea melhor.
"Seus amigos estão fingindo ser todo tipo de coisa, e o seu dever é chamar sua atenção quanto a isso."
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Robson Souza 16/06/2012

Brilhante mosaico sobre a vida e o tempo
Este foi o livro mais impressionante que eu li nos últimos tempos. Absurdamente bem escrito e estruturado, a escritora Jennifer Egan monta um brilhante mosaico sobre a vida e o tempo, com passagens da história de diversos personagens, interligados de alguma forma.
Usando a música como pano de fundo, a autora passeia por cinco décadas sem ordem cronológica, focando em cada capítulo numa pessoa diferente, mas voltando às vezes aos mesmos, em outras épocas. Percebe-se aí o brilhantismo do texto, pois cada capítulo é como um conto, forte e independente, com pontos de vista e estilo narrativo próprios. Mas colocados juntos, montam uma história inteligente, complexa e sensível.
No livro, alguns personagens têm mais destaque e acabam servindo de referência temporal por aparecerem em diversas fases da vida como: Bennie Salazar, executivo da indústria musical; a cleptomaníaca Sasha, sua assistente em certo período; Lou, famoso produtor musical dos anos 70 e mentor de Bennie; Jules, desequilibrado jornalista, cunhado de Bennie; Scotty, talentoso guitarrista, amigo de Bennie na juventude; Dolly, experiente assessora de imprensa novaiorquina; entre vários outros. Como o sistema de busca em "nuvem", os personagens passam de primeiro a terceiro plano, de capítulo a capítulo.
O livro na verdade extrapola o título "A Visita Cruel Do Tempo". Jennifer Egan consegue criar uma pintura do que é a vida e a ação do tempo, e provavelmente, apenas os leitores com mais de três décadas poderão captar isso.
Quando se observa o que vivemos com distanciamento, e as pessoas próximas de nós, é possível perceber que nem tudo o que foi planejado foi cumprido e nem todos sonhos se realizaram. Mas também, nem todas as tragédias e frustrações foram intransponíveis. Tudo que vivenciamos, ou deixamos de fazer, faz parte do que somos. Boa leitura!

Mais em robsonbatt.blogspot.com
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Jader 27/02/2020

Cada decisão tem uma consequência e o tempo chega para todos...
Bassotto 27/02/2020minha estante
Tinha tanta expectativa com esse livro, não gostei.




Tiago 21/08/2012

A Volatibilidade do Tempo...
Que livro incrível esse. Olha que eu não sou muito fã de livros com histórias não lineares (acho que funciona melhor no cinema), mas esse é um caso totalmente a parte.

Cada capítulo em si funciona sozinho e consegue de forma discreta ou por vezes gritante expressar o sentimento da passagem do tempo, de como somos imunes ao tempo e as marcas que ele vai deixando pelo caminho.

As histórias viajam no tempo e por vezes se cruzam de forma tão discreta que você demora a notar. Tudo permeado por um humor sagaz e situações verdadeiras.

Realmente um grande livro! Digno dos elogios da capa, ao contrário de tantos outros.
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gleicepcouto 03/04/2012

Uma incrível desconstrução do paradigma do tempo
www.murmuriospessoais.com

***

Logo na capa e contracapa me senti intimidada pelo livro A Visita Cruel do Tempo, da autora norte-americana Jennifer Egan. Em letras grandes o suficiente para conseguirmos ler a uma distância considerável, está escrito: Vencedor do Pulitzer (prêmio mais que prestigiado, que abrange as áreas de jornalismo, literatura e música), além de várias declarações positivas de veículos de imprensa renomados como The New York Times, Time, The Washington Post, The Guardian, dentre outros.

Geralmente tenho duas reações quando vejo tantas críticas positivas acerca de um livro, e, por mais estranho que seja, elas sempre são opostas. Ou me sinto obrigada a gostar do livro, e se não o fizer me sentirei uma burra - alguma coisa deve ter passado despercebido. Ou então, só pra ser do contra e mostrar como a mídia constantemente exagera em adjetivos para algumas obras que não passam de medianas, decido não gostar do livro.

Bem, em A Visita Cruel do Tempo nenhuma das duas reações funcionou. Primeiro porque entendi sim o livro, e o li minuciosamente; e segundo porque não tem como ser do contra, e achar que os adjetivos estão sendo exacerbados por críticos/editoras sedentos por achar o próximo sucesso editorial.

A Visita Cruel do Tempo é genial. Ponto.

A história tem diversos personagens, mas dois como principais: Bennie Salazar e Sasha - que são de gerações diferentes. Bennie é um empresário da indústria musical, e Sasha, sua assistente cleptomaníaca. O maior feito do Bennie, que teve Lou (empresário viciado em cocaína) como mentor na década de 70, foi ter descoberto a banda Conduits, cujo guitarrista Bosco é usado pelo jornalista Jules (cunhado de Bennie) para reerguer sua carreira que foi destruída quando atacou uma atriz americana em um passeio pelo Central Park e foi preso.

Tá confuso? Então a culpa é minha. Porque Jennifer descomplica tudo no livro.

A narrativa é caracterizada pela não linearidade cronológica do tempo. Ora o capítulo que você está é o presente, ora é o passado, aí volta pro presente, e depois vai pro futuro, e assim por diante. A autora não se comunica conosco apenas por palavras, mas por emoções, realidade e (pasmem) até slides e gráficos!

São treze capítulos e cada um é focado em um personagem que apareceu no capítulo antecessor. As vozes utilizadas são diferentes também. Às vezes, está na 3ª do singular, outras na 1ª e até há um capítulo na 2ª pessoa. Isso gera um desconforto surpreendente e uma aproximação com o personagem que chega a ser surreal. A cada "você" que eu lia nesse capítulo, ficava incomodada, mas de um jeito bom. "Gente, poderia ser eu ali."

E de alguma forma todos estamos representados no livro.

Tempo é um assunto que assusta (na mesma medida que fascina) a muitos. Ninguém quer ficar velho. Ninguém imagina como é ficar velho. Como será sua vida ao envelhecer. Se isso não mexe com você, parabéns! Deixa a fórmula que você usa no comentário do post, até fiquei curiosa.

Jennifer apresenta a história de forma tão crua e real, que beira o melancólico. Aqui não há espaço para o romance idealizado - estamos falando de vida. Pessoas que cometem erros, que não pedem perdão, e que continuam a viver. Mas nem tudo é sombrio. Há os momentos de humor e de beleza encantadora, quase ingênua.

Essa é a dosagem perfeita do livro - que não te deixa deprimido, mas te faz refletir, não sobre o tempo futuro e sua ação desenfreada, mas pelo o que você está fazendo exatamente neste instante. O mundo está em constante mudança, as pessoas idem, de forma que nada acaba sendo como planejamos – então chega de desperdiçar tempo pensando no futuro que não vai acontecer. É a incrível desconstrução do tempo. Só existe o agora.

O grande atrativo do livro, certamente, é a sua estrutura perfeita por ser completamente fora dos padrões. Posso ser repetitiva? É genial.

Dá gosto de ler um livro assim, que foi pensado antes de ser escrito, analisado, pesquisado. Egan não sentou na sua cadeira em uma tarde de tédio para escrever qualquer coisa a esmo. A autora queria contar uma história de vida, que afetasse e tocasse o coração de qualquer pessoa. Queria algo que provocasse mudanças. Em mim, ao menos, ela conseguiu.

A Visita Cruel do Tempo também foi vencedor do prêmio National Book Critics Circle Award. Já foi confirmada a presença de Jennifer Egan para a Flip 2012, a ser realizada entre os dias 4 e 8 de Julho, em Paraty, RJ.

A Visita Cruel do Tempo (A Visit From The Goon Squad)
Autora: Jennifer Egan
Editora: Intrínseca
Ano: 2012
Número de páginas: 333
Valor: $20 a $30
Avaliação: Genial (adoro ser enfática)
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Laryssa Barros 06/12/2020

Devastador
Com uma habilidade genial a autora nos faz viajar pelos acontecimentos de diferentes períodos da vida de vários personagens. Com uma trama que se entrelaça e nos aguça a memória para recordar quem é aquela pessoa ou a quem está relacionada, o livro nos inunda com relatos crus da vida dessas pessoas, e de que forma a passagem do tempo transformou suas vidas. Sonhos, desejos, talentos, vícios, decadência, angústias, tudo que aflige essas pessoas sendo mostrado da forma mais densa. Enfim, acho que ficou claro o quanto eu gostei desse livro. Cinco estrelas e favoritado.
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Valentina.Gianola 16/08/2021

Divertidinho, mas esperava mais.
O livro começa muito bem com histórias instigantes e que deixam o leitor curioso e com expectativas sobre os detalhes mencionados e não esclarecidos, mas conforme os capítulos vão passando a narrativa vai perdendo o gás. Como cada capítulo traz um narrador/personagem/ponto de vista diferente, apesar de todos estarem entrelaçados e se complementarem, chega em um ponto que o livro abre histórias que não levam a lugar nenhum. Não que os livros precisem ter um propósito específico, mas parece que a história promete muito para então se perder em rumos não muito interessantes. A melhor parte da narrativa são as conexões entre os personagens e a maneira como um capítulo às vezes "responde" as questões de outro, mas nem sempre isso ocorre e se torna cansativo.

Gostei do capítulo dos slides, mas esperava BEM mais dele. Slides feitos por um personagem irrelevante que não traz praticamente nada de novo e não impacta de nenhuma maneira a história. Me parece que a autora tentou revolucionar pela forma mas esqueceu o conteúdo desse capítulo.

Os personagens parecem ser baseados em estereótipos e não chegam a ser muito profundos, mas isso também não é um problema. Todos eles tem um problema de não aceitação da passagem do tempo, que é um tema comum, mas às vezes o tema era tratado de forma boba, fazendo alguns personagens parecerem apenas imaturos.

No geral, achei o livro divertido de ler, mas promete mais do que cumpre. A melhor parte de fato é o formato e entrelaçamento de narrativas, isso eu achei muito legal e me manteve até o final, mas acredito que isso poderia ter sido feito de uma forma mais interessante.
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Marcelo 19/08/2021

Viver por quê?
A visita cruel do tempo reflete sobre a inevitabilidade da vida e da existência humana, por mais difícil que ela se mostre, discutindo sobre como nossas tragetórias moldam quem somos, mesmo que inconscientemente.

O fato é que, por mais imprevisíveis que nossos caminhos sejam, ninguém jamais pode deixar de exercer o autocuidado, seja consigo, seja com o próximo. Mesmo na dor ou na incerteza, a existência continua e nada nem ninguém vai controlar isso.


O livro propõe um grande quebra cabeças, trazendo em cada capítulo recortes de uma trama maior que, ao longo da leitura, vai sendo descortinada. Cada capítulo possui um foco em um personagem diferente (são uma espécie de mini contos) que aos poucos se tornam recorrentes dentro da história, com constantes autorrefêrencias.

Uma mulher de meia idade cleptomaníaca, um ex-astro do rock fracassado, um agente musical em declínio, uma assessora de imprensa confusa, crianças em crise parental... São diversos os pontos de vistas explorados, cujas vozes se alternam entre primeira, terceira e até a incomum segunda pessoa, além de capítulos simulando reportagens jornalísticas e outro contado inteiramente por meio de slides de Power Point.

Isso exige de quem lê uma predisposição à dúvida, ao questionamento, à perguntas sem respostas e, principalmente, ao desprendimento da estrutura tradicional dos romances, já que as características e o desenvolvimento dos personagens vão sendo aprofundandos aos poucos, gerando uma persistente sensação de que algo está incompleto. Na minha opinião, ao terminar o livro, não houve problema algum quanto à isso.

Para além da estrutura, a grande força da obra reside na escrita da autora, que é minuciosa, densa, meticulosa e profunda. Com grandes passagens bonitas e elegantes, ela se mantém sempre no domínio da história, mesmo que às vezes exista a sensação de um aprofundamento excessivo em personagens não tão interessantes, tornando a leitura arrastada em algum momento, comprometendo o ritmo. Mas nada que estrague a experiência.

Não acho que o livro funcione para todos, levando em consideração que não há um grande clímax, mas uma narrativa que, a todo momento, buscar se bastar por si ali mesmo.

Mas a quem gosta de sair da zona de conforto, vale a pena ler. O tempo não vai ser cruel com quem enfrentar Jenifer Egan.
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Júnior 04/05/2012

Cruciante, lírico e amedrontador.
Eu tenho uma teoria meio absurda meio plausível, mas que deve ser levada a sério, claro, de que a própria Egan é o tempo em forma de gente ou vice-versa. Não importa, o que realmente merece sua atenção são as deliciosas trezentas e tantas páginas deste pequeno (apenas em tamanho mesmo) livro. Não leia nenhuma destas críticas de marketing barato que há na contra-capa e no interior, elas são apenas um desdém do que realmente lhe reserva nos treze capítulos constituintes do vencedor do Pulitzer do ano passado.

Enquanto penso o que escrever uma ideia surge: eu poderia muito bem fazer esta resenha igualmente dissecada quanto uma das reportagens sinistras (e geniais) do queridíssimo - por mim, é óbvio - Jules Jones, um de vários personagens que são rondados e cruelmente atacados pelo tempo. Ou eles atacam-no. Confesso que em alguns pontos eu fechei o livro, por hábito já, e não quis mais ler o dia inteiro, faltava apenas umas cem páginas e queria prolongá-las pelo maior tempo possível. Tempo, engraçado como agora em tudo que vejo percebo-o.

Jennifer Egan é impiedosa, astuta e não tem medo de brincar com as palavras, seus personagens são verdadeiras marionetes de um ciclo que envolve música, música e mais música. Ela predomina desde os anos 80, quando Flaming Dildos é apenas um delírio de adolescentes numa garagem, até os anos 202- quando um garotinho irritante é uma verdadeira máquina descobridoras de pausas do rock. Houve uma passagem que até mesmo eu gritei fazendo eco com seu pai: Muda de assunto! É inevitável, o livro tem este aspecto assustador, ele lhe aproxima tanto da história e dos pseudoprotagonistas que em um determinado capítulo - narrado na perversa segunda pessoa (!) - você imagina-se lá, fazendo, dizendo, pensando exatamente o que a autora lhe obriga a pensar. Mas isto tudo são apenas apetrechos pra deixar esta reunião de vozes e perspectivas - desculpe a paráfrase Intrínseca - um pouco mais suculenta, pois o que realmente vai lhe prender e fazer você pedir bis, tris e afins após ler a última frase é Sacha. A personificação apavorante de uma garota simpática, uma cleptomaníaca cínica, uma mulher amorosa e esperta, em suma, alguém que queremos pra nós, não é mesmo? Com defeitos, com qualidades, mas que o tempo consegue marcá-la em nossa mente - mesmo que seja lá no fundo do fundo...

A capa desta obra - Raphael Pacanowski: aplausos de pé - retrata as múltiplas faces que o tempo aflige à vida dos personagens enquanto eles são guiados pela música, pelas escolhas, pelo desejo jovem de querer viver o agora. A pilha de livros ao meu redor cresce exponencialmente enquanto eu continuo a fitá-lo mesmo depois de tê-lo terminado à três dias, os impulsos de arriscar-me a lê-lo novamente cronologicamente - o que seria estranho e irresistível - são muitos e não cessam, mas eu canso só de pensar em rever Sasha, em ouvir Bosco, observar Bennie e vivenciar ser Rob, o tempo lhes sufocaram tanto em suas visitas, em minhas leituras, acho que teria pesadelos imaginando-me num futuro hostil e cercado por pausas de músicas de mais de um minuto.

Ler A Visita Cruel do Tempo foi uma tortura apaixonante, o virtuosismo de Egan é contagiante, este tornou-se um livro atemporal, é leitura obrigatória pra quem foi e não foi visitado pelo tempo, é a realidade crua de um mundo que não para.

http://6h05min.blogspot.com.br/
Renata CCS 12/09/2014minha estante
"(...) é leitura obrigatória para quem foi e não foi visitado pelo tempo (...)", adorei isso !!!


Júnior 12/09/2014minha estante
Muito obrigado, Renata! Esse livro é apaixonante! ;)




Marcola. 13/11/2016

O tempo e os humanos
O Tempo e seu poder transformador. O Senhor da Razão como personagem principal em um livro nada linear, onde você é obrigado a encaixar cada pedaço na dança dos anos. Vários personagens têm suas vidas cruzadas, mostrada sobre vários pontos de vista, tornando fácil conhecer melhor cada um e entender como o tempo foi cruel com eles. É difícil não se colocar no lugar deles, sentir o saudosismo dos tempos antigos onde você tinha todo o mundo para descobrir, a tristeza pelas coisas que deveria ter feito e que poderiam ter te deixado num presente melhor e com menos frustrações. É impossível não colocar a própria vida numa balança de coisas boas e ruins e tentar saber pra qual lado ela pende.
Gisele672 13/11/2016minha estante
lendo e qse terminando.


Alex 10/07/2023minha estante
Essa é uma resenha, de uma época em que o Marcola, tinha tempo pra resenhar livros.




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