debora-leao 25/02/2024
É a minha primeira vez lendo Dunker. Já o acompanhava no canal do YouTube há alguns anos. A linguagem do livro é diferente da de sua fala: segue ilustrativa, rica em exemplos, coerente e concisa, mas comparativamente perde muito em acessibilidade. O livro parece, por (várias) vezes, ter sido escrito por um especialista para outros especialistas ou no mínimo estudantes, com pouquíssimas elucidações de conceitos psicanalíticos e uma linguagem mais acadêmica/formal, gerando prejuízo para o público mais amplo. Os temas acabam voltando em si mesmos, circunvoluindo, o que não é totalmente deletério, já que ajuda a reforçar o entendimento, previamente prejudicado pela questão linguística e didática que acabei de pontuar.
Aliás, esta questão da linguagem me parece algo de tradição psicanalítica; quase que um clube que sente necessidade de diferenciar-se por seu jargão, mais um dentre outros tantos nos quais isso também ocorre. Há, porém, uma observação que se fazer: aqui, neste livro "biográfico", também encontramos referências múltiplas a muitos produtos artísticos, da pintura à literatura, inclusive um capítulo inteiro sobre Brás Cubas. Achei isso extremamente profícuo, ajuda um leitor leigo na área - mas com repertório minimamente razoável, como julgo-me ser - a "visualizar" melhor do que o autor está tratando.
A estrutura dos capítulos e do pensamento do autor é um pouco ensaística (do que, geralmente, desgosto), mas são todos profundamente conectados (ponto positivo). Com isso, quero dizer que os temas vão progressivamente evoluindo, começando do background histórico do objeto do livro para umaa descrição sintomática e então para um prognóstico e alguns "casos de estudo" - logo, uma trajetória que se dedicado a partir do teórico ao aplicado. Algumas partes do livro foram bem truncadas para minha leitura, especialmente os capítulos 4, a partir da metade, e 5. Já o capítulo 10, de entrevista com a depressão, foi ótimo. Se ele tivesse sido posicionado no início do livro, mudaria meu julgamento, mas, onde está, consegue entabular resgate eficiente do que já foi dito previamente no livro e consolidar de forma rápida e resumida as respostas para o leitor.
Apesar de curto, achei o livro denso além da conta e necessidade, mas bem trabalhado. É nítido que este é um autor que está acostumado a falar (de forma difícil) para um público amplo (um pouco mais leigo ou iniciante). Demorei mais a ler a obra do que imaginava, em suas 240 páginas, mas foi proveitoso tê-lo feito, caso contrário, o livro não teria "assentado" em mim. Ainda assim, sinto que não aproveitei tudo que o livro poderia oferecer, por não ser estudante ou conhecer de psicologia/psicanálise, mas sim apenas uma pessoa interessada. Talvez tenha absorvido entre 60 e 70% do conteúdo do livro. Quem sabe venha a reler no futuro, mas não tenho certeza. Não é minha prioridade e sinto que apenas poderia reter os 30% não mediante uma releitura, mas mediante um real letramento no campo psicanalítico.