Andreia Santana 13/02/2011
Garotas querem mais que apenas diversão
Cindy Lauper que me perdoe, mas as garotas querem mais do que apenas diversão. E no caso de Lizzie Nichols, uma das personagens cinematográficas de Meg Cabot, a moça quer casar e não há nada de demodé nisso! Em A Rainha da Fofoca em Nova York (Ed. Galera/Record), a personagem está de volta mais adulta e, ainda assim, mantém a ingenuidade e expectativas de adolescente recém-saída da High School.
O livro trata do universo feminino americano, mas, guardadas as devidas proporções, se encaixa na vida de jovens na faixa dos vinte e poucos por aqui também. Primeiro, porque vivemos tempos de Globalização e a cultura de um país, em certa medida, é apropriada e pertence a vários. Além disso, casadoiras cândidas, atrapalhadas e cheias de boas intenções, que de vez em quando pagam mico ou pisam na bola, não são uma prerrogativa exclusiva de uma cultura, ou país, em particular.
Nessa continuação do bombado A Rainha da Fofoca - e qual livro de Meg Cabot não cai nas graças da mulherada? -, Lizzie se muda para Nova York para realizar o sonho de abrir um ateliê de reforma e customização de vestidos de noiva. E aqui um parêntese para as páginas do Manual de Casamento de Lizzie, que intercala os capítulos, com seus deliciosos textos e desenhos em estilo “passo a passo para o altar”. Além das divertidas dicas, o “manual” não fica devendo em nada aos melhores consultores de uma fina maison para noivas. Sinal de que a autora pesquisou esse mundo dos cerimoniais, tornando sua personagem convincente e cativante.
Fashionismo, ironia inteligente e uma divertida combinação de comédia romântica com humor pastelão são elementos que nunca faltam às obras de Meg Cabot e podem indicar porque a escritora é queridinha global. As leitoras se vêem nas histórias – mais uma vez guardadas às devidas proporções – e num mundo tão narcisista, em que mostrar-se ganha cada vez mais importância, obras que traduzem o comportamento da geração atual são um estudo antropológico, mas sem o peso do academicismo.
A verdade é que, com o perdão do lugar comum, a danada da autora sabe falar com suas leitoras e mais, consegue cativar até quem não era muito afeita ao Chick Lit. O estilo narrativo inconfundível, ágil e pontuado por situações tanto prosaicas quanto improváveis, fazem de A Rainha da Fofoca em Nova York mais um Meg Cabot na essência, sem que com isso a autora esteja se repetindo.
Lizzie fala demais e quase sempre sem pensar nas conseqüências, é sonhadora e em paralelo a abrir sua loja e vencer na “cidade grande”, fugindo do previsível futuro classe média do american way of life, quer o que boa parte das mulheres querem - e aquelas que não querem é porque ainda não admitiram -: encontrar o príncipe encantado. Ou pelo menos um parceiro confiável – e amável – com quem tocar a vida.
A capacidade da escritora se reinventar abordando sempre os mesmos temas “de mulherzinha” (ao menos nos seus romances femininos, já que ela também tem obras com outros estilos), mas sem a antropofagia de consumir suas próprias criações por falta de ideias novas, é estarrecedor e ao mesmo tempo um alento às suas leitoras.
Lizzie Nichols não se parece com Heather (Tamanho 42 não é gorda) e muito menos lembra a fofa Mia da saga Diário da Princesa, só para citar algumas das heroínas inesquecíveis da escritora. Embora as três personagens tenham em comum a pegada cosmopolita nova iorquina (essa é a cidade por excelência do Chick Lit) e tragam a “essência Cabot”, são mulheres em estágios da vida diferentes, que vivem situações compatíveis com suas faixas etárias, mas que trazem traços em comum a todas as mulheres, na vida ou na ficção: a necessidade de planejar o futuro, a capacidade de amar incondicionalmente (ou quase), as inseguranças com a balança, a cumplicidade com as amigas... Isso só para citar alguns exemplos.
Não se trata aqui de uma literatura de grandes e dramáticos conflitos, ou de recursos estilísticos e narrativos revolucionários. É pura e simplesmente a delícia do cotidiano miudinho e cor de rosa. Novelinha leve, descompromissada e com seu charme de espelho de Alice em que todas se vêem e sentem-se devidamente representadas.