Brunna Brasil 12/06/2021
SOBRE COMO AS INTERPRETAÇÕES DE UMA MESMA HISTÓRIA PODEM VARIAR
O conto O Fim e o Começo de Todas as Coisas foi meu primeiro contato com a escrita de Karen Alvares. A história, dedicada a "todo mundo que já amou e odiou na mesma intensidade alguém da própria família", nos conta sobre Cecília e seu avô Zeca, um oficial da Marinha aposentado e que sofre de Alzheimer.
O texto caminha entre as memórias de infância e adolescência de Cecília e sua rotina atual, que inclui cuidar do avô, que vive numa clínica. Há um conflito pungente, mas não externalizado. O avô passou de herói da infância a figura opositora durante a formação da protagonista, e ela lida da melhor forma com essas visões tão opostas em prol de não abandoná-lo (e por uma outra razão, essa mais egoísta).
Com o desenrolar da trama, o avô fornece a ela um segredo nunca revelado a qualquer outro familiar, e a partir desse ponto a melancolia de Cecília ascende cada vez mais, até o clímax do enredo.
O conto tem um quê de lovecraftiano, ao mesmo tempo em que nos traz o contexto brasileiro (mais especificamente o do litoral de São Paulo). Talvez por isso eu o tenha interpretado de maneira tão literal, no contexto do fantástico apenas. Mas conversando com uma amiga que também já havia lido o conto, soube que ela compreendeu-o de maneira mais metafórica (não entrarei em detalhes para não gerar spoilers).
Considero essa uma das grandes belezas da ficção: que diferentes pessoas mergulhem (para usar um termo atrelado à história) em diferentes histórias, apesar de estarem lendo exatamente as mesmas palavras. Seja lá qual for a sua interpretação, certamente o conto será um desses que nos olham nos olhos e também assimilam de nós o humor do momento, assim como assimilamos a experiência dele.
"Quanto mais sabemos, mais queremos saber e mais perigo corremos. A ignorância é segura. Confortável. Às vezes é melhor não saber."
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