JPHoppe 19/02/2013
"Você pode"
Ah, o famoso livro azul de Dawkins. Talvez seu livro mais criticado fora da esfera biológica ("O Gene Egoísta" cumpre seu papel nesse caso), e também um dos menos lidos. Não é raro encontrar pessoas que não querem ler a orelha simplesmente devido ao título: afinal, quem é esse cara pra chamar minha crença de "delírio"?
O prefácio (ao menos da versão de bolso) é, basicamente, uma lista de réplicas à críticas que o livro sofreu entre sua publicação original e essa edição. Entre elas, VÁRIAS que estão comentadas nas resenhas aqui do skoob. Claramente, são pessoas que não leram o livro, ou não o leram da maneira apropriada. Por tal, me refiro à capacidade de questionar tudo, até a crença pessoal e o que figuras de autoridade e tradição fixaram talvez por tempo demais.
É inegável, no entanto, que Dawkins tem um tom um tanto mais irônico e direto que outros autores, mas a mensagem principal do livro poderia ser a mesma que de "Quebrando o Encanto", de Danniel Dennett: questione. Tire a tag de "Inquestionável" da religião. E já que citei o livro de Dennett, que busca mostrar que a religião pode, sim, ser alvo de pesquisa científica, Dawkins aborda em "Deus, um delírio", o que ele chama de "A Hipótese de Deus": não um ser abstrato, panteísta, como o chamado "Deus dos filósofos", mas um criador pessoal, que ouve as preces e intercede, além de ser um tremendo vigião.
Dawkins não afirma provar a inexistência de deus. Mas, assim como não provamos a inexistência do éter luminífero (ou de bules voadores), não é esse o foco. Analisando o esperado da existência de deus, o mundo natural e as teorias que temos sobre seu funcionamento, e aplicando a Navalha de Occam, chega-se à conclusão de que um universo sem deus é uma hipótese preferível contra a hipótese de um universo com deus.
Aliás, seria bom prestar atenção nos trechos sobre Einstein, Hitler e Stalin pra uma desconstrução dos mitos acerca da religiosidade desses homens!
O livro também aborda os pontos médios e extremos da religiosidade. Em suma, mesmo que traga conforto, é possível obter tal sentimento de outras fontes - além de não dizer nada sobre a veracidade ou não de deus. Também, a aura de "Inquestionável", do relativismo cultural ("devo respeitar") e mesmo da religiosidade moderada é que abre as portas para a realização de atos tenebrosos, em nome de Deus.
Consigo entender porque há muita gente que não abre esse livro, mas não concordar.
Há muita gente por aí que não questiona suas crenças por um motivo simples: não sabia que podiam. E deixo a mensagem principal:
"[E]spero que ninguém que tenha lido este livro ainda possa dizer: 'Eu não sabia que podia'".