Kei 14/12/2009
Justiça (Pode conter spoilers)
Mais um dos intrigantes romances (por convenção, acho difícil usar a palavra 'romance' para um livro chamado A Maldição do Cigano, mas tudo bem) do universo existente na mente de Stephen King. É uma leitura agradável em palavreado e vocabulário, uma leitura típica do gênero dele, descritivo na medida certa - nem mais, nem menos -, mas que em cada palavra, carrega uma ambientação densa, como uma floresta fechada.
Contando a história de Billy Halleck, um gordo e proeminente advogado de uma cidade do Maine, que após uma infeliz 'aventura' (não é a palavra mais exata, acreditem) sexual acabou por atropelar uma velha cigana, a história mostra, primeiramente, um pouco da sujeira que existe por debaixo dos panos. Não nos livros, mas debaixo dos panos de toda a realidade ao nosso redor.
Inocentado de qualquer culpa por um crime que, no íntimo, Billy sabia ser culpado, tudo que a mente dele podia raciocinar, depois de algum tempo, era naquela palavra e no nariz esburacado do velho cigano: "Emagrecido", ele disse.
Ao redor do singular (ou nem tanto) Billy Halleck e dos ainda mais singulares acontecimentos sobrenaturais que passam a ocorrer com ele e com outros que foram envolvidos na investigação e julgamento do seu caso, a história se desenvolve e, mais do que vários outros livros, mostra traços facilmente reconhecíveis da nossa realidade. A culpa - interna e externa -, a raiva, a sujeira, a vingança e a justiça, com diversas faces e perspectivas.
Justiça, por fim, é um conceito com o qual é inevitável se confrontar ao entrar na pele de Billy, ou mesmo na pele de muitos outros personagens. O que ela é, o que visa e, no fim, quem é o certo.
Alguns, como Billy, dirão que "é como tem que ser", outros, como Ginelli, acreditarão em uma espécie de fatalismo consequente e, por fim, aqueles como Lemke, acreditarão apenas que a justiça foi feita. Talvez.
Ou, talvez não.