Queria Estar Lendo 28/04/2018
Resenha: Asiáticos Podres de Ricos
Asiáticos Podres de Ricos, do autor Kevin Kwan, é a aposta do Grupo Editorial Record para o mês de Maio - e chegou para a gente na caixinha V.I.B. (Very Important Books). O livro é uma história satírica e muito divertida sobre os problemas de gente rica vividos por algumas famílias em Cingapura.
Rachel é convidada por seu namorado Nick para viajar até Cingapura para o casamento do melhor amigo dele; até aí tudo bem. É chegando lá que ela percebe que a vida simples e pacata de Nick nada tem a ver com a realidade na qual ele cresceu, cercado por famílias podres de ricas - incluindo a dele. Nessa desesperadora imersão em uma realidade com a qual não está acostumada, Rachel vai conhecer algumas pessoas maravilhosas e outras nem tanto assim - principalmente a mãe de Nick, que parece estranhamente determinada a livrar-se da futura nora, custe o que custar.
Este é um senhor livro, já começo dizendo isso. São 490 páginas e Kevin Kwan não economiza em descrições; eu diria que Asiáticos Podres de Ricos é quase um Crônicas de Gelo e Fogo do romance satírico. São dezenas de personagens e famílias e nomes e lugares e eu me perdi bastante por pelo menos cem páginas até me acostumar com todo o ambiente.
Acredito que tenha sido intenção do autor. O mundo de glamour e riquezas estratosféricas ao qual somos apresentados é de deixar qualquer pessoa deslumbrada e assustada. São futilidades atrás de futilidades, discussões acaloradas por causa do tom de um vestido de grife, brigas porque o filho de fulana está saindo com a filha de ciclana e ciclana vem de uma família que não tem 6 dígitos na conta bancária para gastar toda semana.
Sério. As preocupações das ricaças são cômicas de tão inúteis. É interessante ver como o autor humanizou todas as características das suas personagens, mesmo as mais bobas e desnecessárias, para equilibrar com a sátira.
E é engraçado como isso incrementa ainda mais a crítica bem fundada. O autor mostra as diferentes realidades entre asiáticos nascidos em diferentes cantos do mundo. O foco da narrativa está nisso; a protagonista é a única personagem que veio um lugar diferente e por isso é julgada e condenada. Dentro dos círculos dos ricaços, inclusive, tem muito julgamento. Uma chinesa que veio do norte não é bem-vista pelas que vieram do sul e por aí vai. É um choque de realidade muito interessante de acompanhar.
Uma coisa que foi negativa para mim é que depois de 200 páginas a quantidade de descrições, nomes de marcas famosas, números de saldos bancários e de veículos caríssimos e de cômodos nas mansões das personagens se tornou enfadonho. Kevin manteve o tom do começo do livro, mas acabou pesando. Sim, eu entendi que as inutilidades são a vida daquelas mulheres e homens, mas depois que ele estabeleceu isso, ficou chato de acompanhar. Eu me vi pulando algumas descrições porque os diálogos eram muito interessantes, mas se perdiam no meio delas.
"- Não faço a menor ideia de quem essas pessoas são. Mas uma coisa eu posso garantir: essa gente é mais rica do que Deus."
Rachel é o que pode-se chamar de protagonista. Por ter tantas personagens e tantos pontos de vista, o livro acaba não estabelecendo uma personagem principal, mas a jornada da Rachel é que guia todos os outros, então vou colocá-la com destaque aqui.
Ela é uma mulher independente, professora simpática de uma universidade e "de boas" com a vida. Ama seu namorado e o que eles têm ali em Nova York. Quando confronta a verdade sobre Nick - uma vez que a família dele e o status lhe eram desconhecidos - acaba com a sensação de ter caído de paraquedas. O choque das culturas e das diferenças de vida é muito bem pautado na narrativa, como a Rachel encara todo aquele dinheiro gasto em coisas tão superficiais - e como essas coisas superficiais são importantíssimas para quem as tem.
"- Seja bem-vinda a Cingapura, Rachel, onde discutir por causa de comida é o passatempo nacional."
Seu relacionamento com o Nick é saudável e fofo porque o Nick é muito fofo. Ele ama a Rachel incondicionalmente e tem um pouco de ingenuidade quando a leva para conhecer sua família; para Nick, as problemáticas são menores porque ele está acostumado ao deslumbrante, ao exagero, à riqueza absurda. Para Rachel é aquele momento de "por que diabos uma pessoa colocaria uma fonte de água no meio da sala de estar?".
Eu me identifiquei com a Rachel nesse quesito, apesar de tê-la achado muito boazinha para alguns sapos que foi obrigada a engolir. E tudo isso porque a família do Nick é insuportável.
A mãe, Eleanor, é uma megera controladora; a avó, Su Yin, é quase a comandante de um exército de tão obcecada em manter a linhagem e a disciplina e principalmente o legado da família. Seu pai foi o único personagem distante de todo aquele cenário bizarro.
Eleanor, aliás, foi um esteriótipo desagradável. Eu entendo que a realidade explorada pelo livro é diferente e que exista toda a questão de nome de família, status e dinheiro, mas foi enfadonho ler uma personagem feminina tão vilã de novela das 9 em um livro tão atual. Eleanor é aquela mãe chata que quer controlar cada passo do filho e vê na namorada dele uma inimiga mortal, alguém que quer destruir tudo "pelo que lutou" - mas aqui, considere que Eleanor é uma mulher mimada e obsessiva, extremamente ligada à imagem e ao dinheiro. Ela é tóxica, do início ao fim, e meu lado feminista que me desculpe, mas eu queria ter visto ela cair num tanque de petróleo e sujado algum casaco de grife no fim de tudo.
A gama de personagens é até difícil de mesurar. Cada família tem seus membros detalhadamente apresentados ao leitor; alguns nunca voltam a aparecer, outros participam de momentos importantes da trama principal. Colin, por exemplo, melhor amigo de Nick, foi um dos coadjuvantes com cenas legais e um desenvolvimento rápido, mas interessante. E Peik Lin, amiga de longa data da Rachel, é a personagem mais gentil com a qual a protagonista cruza lá em Cingapura; quase um pilar para as loucuras que Rachel está vivendo ali.
"- Não fui criada para acreditar que o casamento deveria ser o objetivo da minha vida."
Outra personagem que tem bastante participação e uma trama paralela interessante é Astrid. Ela é casada e tem um filho e a vida ia muito bem, obrigada, até uma situação tensa aparecer em sua família. Os dramas e a maneira com que sua história foi trabalhada junto à principal me agradaram bastante; e Astrid, por si só, é carismática e simpática e uma ricaça bem menos fútil que as matronas das outras famílias. Ela é um amorzinho com a Rachel e com o Nick e merecia um final menos corrido que o que teve.
Aliás, final corrido. Para um livro desse tamanho, a trama avançou de tal maneira nas últimas 50 páginas que deu até dó. Muita coisa foi resolvida abruptamente e eu só fiquei "ué, mas já?" porque depois de tanta enrolação, esperei mais desenvolvimento. Não é ruim, só achei que merecia um pouco mais de páginas para manter o nível que a narrativa tinha trazido até então.
A edição da Record está maravilhosa; a diagramação é ótima para leitura, não tem erros de revisão e, mesmo com as falhas, o livro é extremamente divertido.
Ah, interessante ressaltar que a obra vai para os cinemas em breve! Já tem elenco e trailer. Eu tô louca pra assistir porque acho que vai enxugar bastante a história e, convenhamos, uma comédia romântica/satírica com um elenco 100% asiático é sempre bem-vinda nesse mercado sem representatividade.
Asiáticos Podres de Ricos é uma história engraçada e irreverente sobre todos os grandes problemas de pessoas milionárias; com o botão do sarcasmo ligado, deixa a nossa vida até mais leve, porque coitadinhos desses ricaços tendo que escolher entre um Land Rover ou um Lamborghini enquanto a gente fica aqui sofrendo pra pagar boletos, né?
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