Flávia Menezes 10/01/2022
APOSENTE-SE, MAS NÃO SE AUSENTE!
?Mr. Mercedes?, o primeiro livro da trilogia Bill Hodges de Stephen King, lançado em 2014, é o verdadeiro retrato de como, para algumas pessoas, a tão esperada aposentadoria, e o tempo de descanso e tranquilidade merecidos, nem sempre é algo tão belo e tão apreciável assim. E Bill Hodges é um excelente exemplo de como essa transição, quando não bem trabalhada, pode ser muito mais um martírio do que uma recompensa pelos anos de dedicação, pelo simples fato de que, quando o propósito falta, a vida perde o sentido.
E nesse sentido, Mr. Mercedes, o psicopata doentio, foi uma verdadeira tábua de salvação na vida do ?Detetive Aposentado? Hodges, trazendo-lhe não apenas um novo propósito pelo qual continuar vivendo, como devolvendo a ele a capacidade de amar e de se relacionar, abandonando todo um futuro de lamentações pelos fracassos do passado. É aquela velha história: às vezes aquele que mais te desafia, é aquele que mais contribui para que você evolua e prospere. Controverso, não é mesmo? Mas a vida é assim!
Nesse clima de mudança de vida e de energias renovadas, a história conta com personagens cheios de carisma, nos fazendo criar empatia não apenas com um, mas com vários personagens ao mesmo tempo. O que torna mais difícil vivenciar os momentos em que o autor dá um passo totalmente ousado, atingindo fortemente um que tanto amamos.
E para ser honesta, isso só não me fez desistir de continuar lendo, porque eu já estava tão envolvida com a história, que eu queria mesmo era ver o Hodges se vingar do ?bendito? por mim. Essa é a mágica do King. Ele conduz tão bem as desgraças, que esses atos extremados nos deixam com ainda mais disposição de ver o que vai acontecer, porque queremos a reparação. Em um português claro: o King nos deixa, é com sangue nos olhos!!!
De fato, é impossível não mencionar o quanto King estudou muito bem para criar os seus personagens, e Brady é uma construção perfeita do psicopata, não falhando um centímetro sequer em mostrar como eles são extremamente doentios e zero empáticos. Além disso, outro fato que me faz apreciar ainda mais o King é que não existe louvor algum para esses personagens. Possivelmente o King se divirta bastante os criando e desenvolvendo, mas de forma alguma eles se darão bem até o fim. Sempre serão falhos, até porque para o King, o mal sempre atrai o mal.
Ainda faltam mais dois livros para encerrar a trilogia, então... não é preciso dizer muita coisa agora. Até porque é chover no molhado ficar aqui, me repetindo e falando o quanto King é brilhante em criar personagens tão bem construídos, e de toda a sua genialidade na escrita, com suas idas e vindas do passado, seu narrador com uma voz tão cheia de emoção, que nos prende e nos fascina.
Enfim, Hodges, melhor seguirmos logo para o segundo da trilogia, porque pelo visto, a coisa vai esquentar de novo!