Marcella.Martha 20/12/2019
Atenção: isso é um enorme RANT
Eu estou extremamente inconformada com esse livro. É com certeza o pior livro que eu li em muito tempo e estou aqui descobrindo que ganhou o prêmio de melhor ficção do ano de 2014 no Goodreads. Quase todo mundo na minha lista de amigos deu 4 ou 5 estrelas, e eu juro, não consigo entender.
Pode ser que tenha spoilers aqui, mas eu não me incomodaria com spoiler, porque a verdade é que Landline é um livro de 350 páginas sobre rigorosamente nada.
Atenção: ISSO É UM RANT. Se você ama muito Landline, é melhor não ler essa review. Porque, antecipo: eu ODIEI rigorosamente tudo.
A premissa é ótima: a mulher descobre que o telefone da casa dela liga para o passado, meio A Casa no Lago vibes. Mas o que ela faz com essa mágica é totalmente inútil. Uma mulher de 37 anos vira uma maníaca que não toma banho, não troca de roupa, não sai de casa, pra ficar falando 24 horas por dia com o marido dela no passado, quando ele era namorado. Ou seja: um cara de 19, 20 anos. Ela tem 37. TRINTA E SETE. E o pior: as conversas não servem para NADA no contexto da história. São totalmente desinteressantes, do tipo "Nossa, lembra quando a gente foi naquela festa e você deu um ataque de piti porque você na verdade é um babaca?", "Nossa, lembro. Como o passado era demais."
Um livro machista, com personagens detestáveis cheios de white people problems.
A mulher é uma roteirista bem sucedida de televisão que trabalha muito, chega tarde em casa, às vezes acorda no meio da noite para trabalhar quando tem ideias geniais do nada, etc. Ela ganha bem o suficiente para a família ter uma vida super confortável com o marido ficando em casa para cuidar das duas filhas do casal - uma menina de sete anos que tem a atenção de um esquilo e outra de quatro que só fala 'miau'. Por que eu tive que ler várias conversas no telefone com essas crianças mesmo? O marido, um homem de 30 e tantos anos, nunca decidiu o que queria fazer da vida, odeia tudo e tava incrivelmente infeliz no emprego dele. Aí resolveu ficar ser um stay-at-home dad. E isso é um problema. Porque que mulher malvada que ousa ter uma carreira enquanto o marido fica frustrado em casa cuidando das crianças sendo que ele não é nada na vida e não sabe o que quer.
Se a situação fosse o oposto, não seria um problema, não seria uma questão. Mas como é a mulher que ousa ser bem sucedida, então ela deveria obviamente se sentir culpada.
Eu tenho horror, HORROR, por histórias que romantizam parceiros que são incapazes de apoiar a carreira dos seus respectivos. No mundo real, ninguém pode abandonar um trabalho, por pior que seja, enquanto tenta construir alguma coisa da vida. Ninguém vive de amor, a não ser que você seja um herdeiro ou ganhador da Mega Sena. O Diabo Veste Prada, LaLaLand e, mais recentemente, Yesterday, são filmes que eu tenho vontade de explodir por esse motivo. E Landline e só mais um grande expoente da babaquice dos relacionamentos com gente estúpida. E o pior de tudo: em vários momentos da história, temos histórias totalmente chatas sobre a Georgie (a protagonista) indo para Omaha (a cidade natal do hermitão do marido dela) só pra deixar ele feliz. Então sequer é verdade que ela ignora completamente a família em favor do trabalho.
O que acontece é que, quando o livro começa, ela recebe uma proposta irrecusável que vai permitir que ela realize o sonho de uma vida inteira, que é ter a série que ela escreve há 20 anos com o melhor amigo optada para a TV. Mas para isso ela precisa abdicar de passar o natal com a família em Omaha para conseguir terminar de escrever os primeiros roteiros. O marido dela torce o nariz, não fala nada, e vai para Omaha com as filhas, sem ela, e passa a 100% ignorar os telefonemas dela. Ela surta e vira uma batata de sofá por causa disso, fica a semana inteira em casa sem trabalhar, na esperança de que o marido, que está completamente ignorando ela, ligue.
E a grande questão aqui é: eu deveria achar que o marido dela é uma ótima pessoa? Ele não ri, não acha graça de nada, fala mal do trabalho dela, resmunga e nunca se comunica. Nossa, que sonho! O cara é literalmente um picolé de chuchu, e eu não entendi o amor louco dela por ele. O Neal e a Georgie do presente não se falam, não resolvem os problemas dele, não trabalham no casamento. ENTÃO QUAL É O PROPÓSITO DESSE LIVRO? Não sei. Se você é casada há 15 anos e o seu marido de quase 40 é incapaz de conversar com você como um adulto sobre os problemas do seu relacionamento, então você vai me desculpar, mas o problema é ele.
Em vários momentos o Neal age como um completo babaca, tendo crises de ciúmes do melhor amigo da Georgie, que é parceiro de trabalho e bestie dela ANTES deles se conheceram, dando altos ataques de piti simplesmente porque escuta a voz dele do outro lado do telefone. E ela se sente culpada! O melhor amigo é tipo a única pessoa nesse livro que eu não odiei, e de alguma forma ele é o vilão. ???? O Neal dá ataque de piti e fica puto com ela porque ela não quis ir no enterro do pai ausente dela e diz que não sentiu falta de ter um pai, tendo sido criada inteiramente pela mãe. E ela se sente culpada!!! ?????????
ARGH.
Uma não-história horrorosa sobre uma pessoa oprimida (e com sérios problemas de limpeza pessoal) tentando salvar um relacionamento com um marido bosta. Eu detesto falar isso sobre a Rainbow Rowell, porque em geral eu gosto muito dos livros dela, mas a Marcella de 30 anos não tem a menor paciência mais.