Queria Estar Lendo 11/07/2017
Resenha: A Queda dos Reinos
A Queda dos Reinos é o primeiro livro de uma série de fantasia escrita pela americana Morgan Rhodes e publicado aqui no Brasil pela editora Seguinte. Uma leitura um pouco diferente do que esperava inicialmente, mas não por isso ruim.
O livro conta a história de três reinos e quatro pessoas. Um dos reinos é governado pela mão de ferro de um rei religioso e duro; outro, sobrevive um dia de cada vez em terra ressecada, rochas e falta de alimento; o terceiro é um território sempre em abundância, verde e tocado o ano inteiro pelos dedos do verão e da prosperidade.
Eu gostei do livro. É um livro bom se você gosta de um pouco de fantasia e aventura. Tem partes engraçadas e partes excitantes, personagens bons, uma história com uma mitologia ótima, mas a narrativa não tem nada de especial. É bem simples, apesar de a autora até ter conseguido incorporar um pouco da personalidade dos personagens no capítulo que cada um narra. Ainda assim, se a narrativa fosse mais elaborada, a história ganharia um tom muito superior. De qualquer modo, como eu disse, gostei de ler.
"O que seu pai tinha pedido tinha relação direta com a conversa que Magnus havia escutado entre o Rei e Sabina na noite do aniversário de sua irmã. Sobre magia e mistério. E se aquilo comprometia o bem-estar de Lucia, ele sabia que não havia outra respostas para dar a seu pai.Ele concordou.- É claro que sim, pai."
Em se tratando dos personagens, há prós e contras. Começamos com Lucia, que é um pouco ingênua e foi a personagem dentro os quatro principais que menos teve atenção, como se servisse apenas ao propósito maior da história e só. Mas, é uma menina doce e inteligente, a perfeita (como claramente era a intenção da autora) princesa dedicada que possivelmente fará um povo amá-la por quem é. Fora isso, ela própria não teve uma história muito aprofundada.
Jonas me passou a imagem de somente ódio e vingança. Ele vive no Reino mais pobre e menos beneficiado, tem uma vida boa após um nobre do Reino de Cleo matar seu irmão, quem o criou e a quem ele admirava profundamente. Jonas é uma das faíscas que acende o fogo da revolução na história, ele quer lutar bravamente, se rebelar e tirar seu povo e terra da miséria. Suas intenções são as melhores para ele e sua família. Porém, isso poderia ter sido muito melhor explorado. Toda vez que o personagem aparecia, era apenas para mostrar o quanto sentia raiva de Cleo e seu povo, do quanto queria se vingar deles por serem negligentes quando seu Reino passava por necessidade. Esperemos que ele tenha mais desenvolvimento nos próximos livros, pois o final dá um fiozinho promissor para a história dele.
"Ele a queria. Mas não podia ceder àqueles sentimentos. Até mesmo admitir para si mesmo era perigoso. Por ora, a única certeza de Theon era que a encontraria e a traria de volta em segurança para Auranos. O futuro era incerto, mas aquilo estava claro. Ele não fracassaria."
Agora, Cleo. Cleo é a princesa de Auranos, o Reino mais privilegiado e próspero do continente. Ela poderia ser uma personagem fantástica, algo como uma princesa guerreira. Porém, Cleo é mimada, irritante e, na maioria das vezes, impotente. Ela age como se quisesse fazer algo, mas não faz, cedendo aos caprichos de um nobre do castelo com quem cometeu um erro certa vez, e por causa disso, e do medo de que as pessoas descubram. O medo é justificado, em se tratando das regras e cultura do lugar em que ela vive. Até aí tudo bem, o problema dessa parte é que ela não foi bem construída. Desde o início vemos como Cleo não quer ficar perto dele, como tem certa repulsa e não aprova seu comportamento, então a autora poderia ter explicado melhor porque aconteceu o que aconteceu e algo mais sólido do porque a Cleo escolheu fazer o que fez. Além de que, tudo ao redor dela acontece rápido demais, como se para direcioná-la de uma vez até o ponto que ela deve chegar para a história dela começar a ser interessante e ir em direção ao que o enredo completo será. No final do livro, temos alguma ideia do que virá a seguir, sabemos exatamente onde Cleo estará, e se ela não se tornar uma personagem melhor, fica um certo desânimo.
Magnus, é de longe, o melhor personagem. Ele sim foi bem explorado, seus sentimentos e personalidade estão ali nas páginas para serem absorvidos. Ele é um personagem acometido por demônios interiores, uma vida difícil devido ao tratamento que o pai dá a ele, junto do peso de herdeiro do Reino e futuro Rei. Além disso, ele acha que sofre de um complexo e acaba torturando a si mesmo por isso. Ele é sombrio, inteligente e sabe como agir da maneira mais esperta quando necessário. Magnus é, decididamente, meu preferido, e só por tê-lo no enredo, a história toda vale a pena.
"Quando a bruxa caiu no chão, Lucia estremecia dos pés à cabeça, com os olhos arregalados de terror que pelo havia feito. Ela odiava o suficiente para querer que ela queimasse. E ela queimou."
Em geral, com pouquíssimas exceções, os personagens secundários são pouco aproveitados e aprofundados, o que dá a impressão de que estão ali apenas para que a história siga certo rumo e para que os protagonistas possam prosseguir sua jornada.
Apesar dos pontos negativos, a história em si (ou que poderia ter sido) é boa, e como a pessoa curiosa que sou, fui buscar alguns spoilers e... acredito que a continuação da série superará a história primeiro livro em melhorias, e ouvi dizer que tudo se desenvolve para melhor. Então, estou otimista e apesar de querer ver o desenvolvimento e aprofundamento melhor do enredo no geral, não posso desistir do Magnus, porque, ah, como eu disse, a história toda vale a pena por causa dele.
É uma história de leitura rápida e simples, no máximo em dois dias você finaliza. Mesmo que não lhe agrade no início, o futuro dela é promissor, afinal, tem mais uns quantos livros pela frente para fechar a série. Vamos esperar que a expectativa seja superada.