spoiler visualizarQuel 11/05/2024
Quase um incesto entre irmãos
Eu estive e estou há uns anos afastada do universo literário, às vezes, realmente me deparo com algumas citação ou recomendação que me desperta, e desta vez, após ouvir "I Love You" de Billie Eilish - música ao qual gosto muito - me vi muito curiosa sobre o filme "O Fabricante de Lágrimas", que tem a música no repertório.
Atualmente, assisto mais a filmes que realmente leio livros, então decidi ler o livro só para saber se a narrativa literária era tão rasa quanto o filme. Não é realmente uma crítica, só uma observação, pois senti que o filme estava fatiado demais, o que é de esperar de uma adaptação, mas, ainda assim se tratando de Netflix e o público juvenil, tive muitas perguntas não respondidas e considero que o final é totalmente abrupto e incompleto, o que se comprova após o término da leitura.
"O Fabricante de Lágrimas" é uma FanFiction Italiana famosa, e traz uma atmosfera de contos de fadas, como a maioria, encantadora e sombria. A história é centrada em Rigel e Nica, dois jovens órfãos criados no mesmo orfanato. Ela perdeu ambos os pais em um acidente aos cinco anos de idade; e ele fora abandonado na porta do orfanato ainda quando recém-nascido, e nunca realmente soube quem eram seus pais.
Criados, embora no mesmo ambiente, ambos não poderiam ser mais diferentes, enquanto Nica é pura, doce e vivaz como uma borboleta em um jardim de flores; Rigel é solitário e sombrio, como uma estrela que ilumina um céu escuro. Então é uma surpresa para todos quando, após anos de espera, eles são escolhidos pela mesma família. Mas, algo intriga Nica: Por quê Rigel se deixou ser adotado quando até então qualquer família que tenha demonstrado interesse em adota-lo, propositalmente ele estragou tudo, então, o que tinha o mudado?
As aflições de Nica, a princípio, e até a metade da história, é que Rigel irá estragar a sua oportunidade, então seu maior medo é de ser devolvida, porque seu maior sonho é ter uma família.
É interessante perceber lendo o livro que Nica era muito jovem quando chegou ao orfanato, então não lembra muito dos pais, por isso a sua vontade sempre foi de ser adotada, algo que só veio a acontecer já no final da sua adolescência para a fase adulta. E ser escolhido por uma família, nessa fase, é extremamente raro no sistema adotivo.
No livro nós temos acesso a muitas informações que não estão no filme, principalmente da relação entre Nica e seus futuros pais, suas duas amigas na nova escola, e o seu pretendente, o Lionel. Como é narrado por Nica, temos uma profundidade maior dos sentimentos e pensamentos da personagem, que por alguns momentos se mostra um pouco sem personalidade diante de algumas situações, embora o contexto de vida da personagem e o que ela viveu de violência no orfanato seja justificada.
Nica é uma jovem que não amadureceu, é como se ela vivesse eternamente como uma criança, que se aproxima muito das descrições do próprio Rigel, muito solitária e com um sentimento de abandono e medo muito intenso.
No geral, a narrativa literária não é muito diferente, não há realmente muitas alterações, do filme para o livro, no entanto algumas coisas funcionam mais no filme que no livro, como entender mais o personagem Rigel. No livro, ele não tem muito desenvolvimento, porque a narrativa se prolonga demais e na há grandes mudanças no personagem, então nos pequenos e da como foi encurtada no filme supera o livro, mas, por muito pouco. Assim, como a primeira vez entre Nica e Rigel, porque há um romance entre os dois, inevitavelmente, não funciona no filme! No livro essa intimidade alcançada, entra em um contexto que está adequado a situação, por isso está bem melhor colocado no livro, sem dúvida a versão dos fatos do livro é melhor, assim como livro traz uma melhor parte final da história entre os dois, no qual há muito acontecendo após o acidente que deixa Rigel em coma. O filme deixa muitas perguntas, como a relação entre as amigas de Nica, totalmente esquecidas, o que acontece com Lionel, o próprio Rigel ao ter sua adoração rejeitada, etc...
No filme muita coisa foi cortada, o final é bem chulo. Algo que pode surpreender alguns leitores, embora eu tenha sabiamente percebido assistindo o filme, que decidiu apagar, é sobre a relação (íntima) entre Rigel e Adeline, que é a melhor amiga de Nica no orfanato.
Quando chegamos ao final, percebemos que Rigel e Nica não estão muito diferentes de como a história começa, narrando sobre dois jovens que tinham muitos pesadelos e inseguranças, a considerar que terminar revelando - muitos anos depois - sobre o relacionamento entre Rigel e Adeline no passado, embora signifique uma virada para uma nova fase na vida deles, onde estarão mais abertos a revelarem seus segredos um para o outro, ainda fica parecendo que eles ainda estão presos no orfanato e toda aquela escuridão os redoma, embora a tenham deixado para trás há muito tempo.
Há muitas citações belíssimas, mas repetidas com outras palavras, basicamente parafraseadas, então pode ser uma narrativa muito cansativa, e desmotivadora, mas, ainda assim encantadora para os apaixonados por contos de fadas e personagens quebrados, porque algo que fica evidente é: Nica e Rigel estão quebrados, mas eles se amam e se entendem.