ferreirareads 29/10/2023Voa, Britoca... O mundo é seu. Britney Spears passava em looping na minha TV sempre quando eu assistia MTV e MIX TV, mas, antes disso, nossa relação aconteceu meio que de geração para geração por causa das minhas primas mais velhas. Quando cheguei na adolescência, Britney lançou o álbum Blackout e os clipes continuavam rodando sem parar, mas, junto dos hits, lembro perfeitamente das polêmicas. Tanto na internet como em programas de TV, era possível acompanhar em tempo real os acontecimentos na vida da Britney e o que mais me choca nos dias de hoje é saber que todo mundo foi altamente manipulado a acreditar em uma narrativa completamente distorcida.
A Mulher em Mim é um relato cru e doloroso sobre a vida de Britney Jean Spears e confesso que não sei dizer qual parte foi mais difícil de ler. De família humilde — e conturbada —, a princesa do pop narra como foi o despertar do amor pela música e dança, os processos até conseguir um papel em O Clube do Mickey e ser reconhecida de alguma forma, até gravações de demo e a entrada de vez na indústria da música. Até esse ponto, o que mais me chamou a atenção foi a relação familiar que sempre, desde quando ela era criança, foi retratada como algo extremamente tóxico. O que senti é que a Britney queria sair daquele ambiente horrível, trilhar os passos sozinha e construir a própria vida e, como em muitos casos, o anseio pelo novo acaba sendo a maior ruína.
Britney já era muito fragilizada por causa da base familiar quando se envolveu romanticamente com o Justin e o resultado disso foi desastroso. É nítido que ela colocou em cima dele e do relacionamento muitas expectativas e, como toda garota apaixonada, jamais imaginou que ele pudesse destruí-la. Fiquei arrasada com os detalhes desse relacionamento e com a forma como ela deixa claro a inocência dela em acreditar que ele era o cara certo mesmo com atitudes terríveis da parte dele. Muitas pessoas foram negligentes com a Britney ao longo da vida dela, mas, na minha opinião, o Justin foi o responsável por desencadear um dos maiores traumas da vida dela.
Quando uma mulher — e veja só, ela era apenas uma garota de 21 anos — passa por esse tipo de situação, acho que é irreparável, mesmo com o passar dos anos. O choque e o trauma ficou evidente nas páginas seguintes e eu não consigo imaginar o que é estar tentando superar algo quando a mídia, incessantemente, volta a tocar no assunto além de fazer da Britney uma vilã por causa do discurso podre do Justin, que era tido como alguém traído e injustiçado. Sério, se algum dia ouvi músicas desse lixo, acho que só me resta deletar da mente e tentar fingir que nunca aconteceu. Se de alguma forma o comeback dele está sendo arruinado pelas escolhas macabras que ele fez no passado, eu confesso que acho pouco.
No meio de toda essa caca, uma das coisas boas de ler foi o amor da Britney pelo que ela fazia, que aqui ainda era evidente. A princess sempre deu tudo de si e entregou o melhor para os fãs, mesmo estando destruída por dentro, mas isso não parecia o suficiente para quem estava sedento por algum deslize dela. Sério, imagina estar se tornando uma pessoa consagrada no seu trabalho, ter êxito no que faz e a única coisa que parece importar são as suas escolhas na vida pessoal? Que não, nem sempre estarão certas, né? Não posso deixar de ressaltar que a mídia sempre foi muito cruel com ela e transformou a vida dessa mulher em um circo.
Bom, sobre Kevin Federline: no começo fiquei na dúvida se ele era o típico abusivo que coloca a mulher em pedestal e depois que usa e abusa acha conveniente descartá-la. No fim, tive certeza. Na época, acompanhei as notícias sobre o relacionamento deles, mas, de novo, lembro que a mídia tentava colocar ela no papel de "louca". Pelo relato dela, acho que a Britney foi muito feliz com ele no começo do relacionamento, principalmente por achar que nunca mais seria capaz de amar novamente e, de repente, se ver realizada ao lado de alguém. Fiquei pensando como teria sido a vida dela se o Kevin tivesse sido um cara bom que caminhasse ao lado dela e não fosse um estúpido egoísta, principalmente pela Britney estar grávida e com um bebê que não havia nascido há muito tempo. Foi doloroso ler as páginas sobre o fim do relacionamento e o jeito cruel que ele escolheu terminar. A Britney tentou lutar pela família dela, pelo que ela tinha construído com ele, ainda mais que os filhos deram um novo sentido a vida dela — inclusive, essa parte sobre o Sean e o Jayden também foi bem dolorosa.
Até aqui, acho que aquele meme "aguentou muito e ainda foi simpática" resume bem a vida da Britney. As páginas seguintes são marcadas pela briga da guarda das crianças e a curatela que foi o nível mais alto de tortura. Li um comentário em algum vídeo que falava que a Britney foi sexualizada quando criança e infantilizada quando mulher e concordo plenamente. Destruíram o amor dela pela arte, usaram o amor que ela tinha pelos filhos contra ela e acabaram com a Britney como mulher. Impossível que não restassem "sequelas" diante de tudo o que ela passou e penso que as coisas às quais ela foi submetida quando internada são passíveis de crime. Se ela achou que iria m.o.r.r.e.r, eu também me perguntei como isso não aconteceu e me emocionei demais quando ela disse que aguentou algumas coisas sabendo que ali, naquele momento, era Deus. Chorei algumas vezes, pausei a leitura e refleti muito sobre as confissões dela.
Cheguei ao fim dessa biografia sem o poder de fazer uma análise crítica e ficar procurando lacunas ou coisas que poderiam ter sido mais exploradas. Penso que a Britney contou o que se sentiu confortável e foi até o limite dela, ficar se questionando e pedindo por mais só seria mais uma forma de desrespeitá-la.
Torço e oro muito pela felicidade dessa mulher. Espero que ela encontre paz, que se encontre, que volte a amar o que fazia e que todo esse processo seja leve para ela. Quero que ela tenha a oportunidade de ser mãe do jeito mais sublime, que os filhos possam amá-la da forma como ela é e que um dia entendam todas as lutas dessa mulher que, em grande parte, foi apenas por esses dois meninos. Algumas narradas aqui são insuperáveis, mas espero que ela encontre uma forma de viver com isso e ressignificar. Voa, Britoca... O mundo é seu.