Biga 16/01/2022
A experiência de leitura se torna difícil porque a gente sabe que é uma história real.
Esse provavelmente é um livro que muitos que já ouviram por alto sabem os principais spoilers dessa trágica história. Uma coisa que eu acho engraçado é sobre a idealização de pessoas, principalmente de famosos, como é o caso do Kurt. Essas idealizações às vezes são tão errôneas que sim, é engraçado. Bem, falando sobre a minha experiência com o Nirvana, Kurt e com esse livro, eu terminei essa leitura ontem cheia de revolta, a gente quer achar culpados e tentar cria possíveis soluções que poderiam ter mudado o percurso dessa história. Mas não é ficção, é uma história real de um humano tão real. Enfim, voltando a minha experiência com a banda e o Cobain foi bem vaga só conhecia por alto, tanto que tinha as minhas próprias idealizações sobre ele sem de fato ter pesquisado, achei que ele era um tipo de personalidade quando na verdade ele era muito mais profundo do que eu ousei imaginar.
Não vou mentir, às vezes lendo esse livro eu fiquei com tanto medo que eu dormia de luz acessa e tinha que dá umas pausas de dias, porque é muito angustiante a história de vida dele e quanto aos pensamentos que ele possuía sobre ele mesmo.
Bem, agora aqui vai as minhas divagações sobre tudo o que eu achei da história, porque sim, eu posso estar errada, mas eu tenho que por isso para fora. Gente, como uma família que começou razoavelmente bem conseguiu chegar aquele ponto? Diversos momentos eu me revoltei tanto com a Wendy, sério, que tipo de mãe ela foi ? Eu não sou mãe e nem ao menos casada, mas pelo amor de Deus, eu nunca agiria daquela forma. E o que o Don fez para ela para que até 5 anos depois da morte do filho ela não convidar ele para aquela cerimonia ? Eu não prestei atenção em alguma parte da história que explique isso ?
Ok, refletindo agora sobre o período do divorcio deles, eu até entendo. Eles casaram cedo e em seguida tiveram um filho, não deve ser fácil arrumar um emprego que pague muito bem remunerado se você não tem um nível superior, ainda mais com um filho. Tanto no documentário quanto no livo ela (Wendy) diz que se casou com Don porque no momento achou o correto, não porque o amava e achava que ele era o grande amor da sua vida, na verdade ela casou sabendo que ele não era. E uma opinião minha eu acho que ele a amava apesar das dificuldades financeiras, contudo aquele ditado é verdade: o amor não enche barriga. E sim, como mulher eu super compreendo que chegando na sua idade madura ela percebeu que não construiu nada e o sentimento que ela sentia pelo esposo se transformou num eterno ranço. Ela casou muito cedo, não aproveitou sua juventude porque teve um filho, se teve algum sonho ela não o realizou, imagine o quanto isso deve ter sido frustrante, uma vida que tu acha que perdeu tempo em um relacionamento que não preencheu as coisas que faltavam e o tempo perdido que nunca mais voltará. Aqui que vai o meu julgamento em relação a ela, ao invés de depois de todo esse discurso, até aceitável, para se divorciar ela desse uma repaginada na sua vida, ter sei lá, feito universidade comunitária, arrumar um emprego e ir se aperfeiçoando cada vez mais nisso, não se contentando com a mesmice, já que a mesmice do casamento a fez infeliz, tentar fazer dessa nova oportunidade se transformar numa mulher que se orgulhe de si mesma, o que ela fez ? Arrumou um namorado 10 anos mais novo que ela, do nada começou a beber demais, depois arrumou um homem que tinha dinheiro e a dava uma vida confortável, porém, a agredia fisicamente. Depois namorou com outro, chegou até a casar e ter uma filha com ele, e esse cara vivia pegando no pé do filho dela ? O livro realmente não relata a relação dela com a Kim, irmã de Kurt, mas o que retratou com o próprio Kurt, pelo amor de Deus, que mãe ela se tornou para ele? Eu, em vários momentos até pensava que era melhor ela ter continuado com o Don, pelo menos ele não batia nela e pensei, meu deus, largou o Don que não era de tão ruim para viver esse tipo de vida ?
Agora, criticando ela como mãe do Kurt, porque o livro não fala da relação dela com a Kim. O Kurt na separação decidiu viver com o pai. Acredito que para qualquer criança que ainda não entenda os sentimentos dos pais e perceba que aquele relação já não é saudável e o melhor mesmo e se separar para o bem de ambos, deva ser o fim do mundo. Algo que ficou nítido que ele nunca superou, ai ele que pelo visto levava as promessas das pessoas que amava muito a sério, teve uma grande decepção com o pai que se apaixonou outra vez. Não sei como a Wendy aceitou o filho viver longe, normalmente as mães são contra esse tipo de coisa e querem seus filhos debaixo de suas saias, mas pelo visto ela aceitou e virou a mãe de final de semana. Nesse ponto, achei que os dois foram irresponsáveis, óbvio que um divorcio é muito difícil, ao invés de sei lá conversar bastante com o filho, aconselha-lo, ok a relação deles não deu certo mas não deveriam ficar jogando um contra o outro. Com isso, fica claro que os problemas de depressão e baixo auto estima do Kurt começaram a se deteriorar. Nesse sentindo, eu vou sim passar pano pro Don e a Jenny, para mim ele foram os mais normais no pós-divorcio. O pai do Kurt conseguiu estabelecer uma nova família normal, a Jenny já tinha dois filho do seu relacionamento anterior e teve mais um bebê com o Don, e eles sempre demonstraram querer incluir o Kurt nessa família, porém por razões próprias ele cada vez foi criando barreiras com o pai e a Jenny. O Dom, não o julgo como um pai ruim, ele foi o que para mim mais ajudou o filho, mais que a própria mãe, no episódio que por exemplo a Wendy expulsa Kurt de casa e ele vive nas ruas e o pai e a Jenny o acham vivendo em uma espécie de caixa bem perto da casa da Wendy. Nesse momento eu chorei sim, imagine o sentimento de encontrar o seu filho que supostamente deveria estar vivendo com a mãe e descobre pela boca de terceiros que ele foi expulso de casa e estar vivendo na rua como um sem-teto quando o pai tem uma lar, um quarto, cama e comida para ele. Foi uma cena muito dura, mas como eu disse ele não era perfeito, acho que ele queria que o filho se adaptasse a ele e não o contrário. O Don também era um homem fechado, e algo que o Kurt herdou dele, ele guardava as coisas para si ao invés de sentar com o filho e conversar. Ser honesto, pelo menos no aniversário dizer que o ama apesar de não dizer sempre e o que ele fazia, que o Kurt julgava errado, na verdade era o que ele considerava ser o melhor. Infelizmente esse tipo de relação pai e filho tem que abrir mão do orgulho, até da auto preservação, mas é necessário, se talvez o Don tivesse se dando conta disso e tentar entender o filho talvez, não sei o futuro poderia ter sido diferente ? Esse tipo de suposição e tão difícil. Continuando, ele incentivou o filho a terminar a escola, mas o Kurt não quis, ofereceu a oferta dele se alistar. Acho que naquele momento ele foi o que mais estendeu a mão para tentar ajudar o filho de alguma forma. É uma pena que tudo o que o Don fazia o Kurt via como a pior das atitudes. Meu deus, acho que estou escrevendo um livro hahaha. A parte da infância e adolescência do Kurt foi o que mas me revoltou, a partir do momento que ele virá maior de idade e os seguintes acontecimento da vida dele foram consequências disso.
Minha impressão sobre o Kurt é que o mundo perfeito dele da infância e segurança dos pais foi destruído e ele nunca conseguiu lidar com isso. Fica muito claro que como muitos jovens ele não sabe exatamente o que quer fazer da vida qual seria a sua motivação, depois ele encontrar essa motivação na música. Eu acredito fielmente, que quando possuímos um sonho, apesar das dificuldades, quando acordamos de manhã essa motivação nos dá força que nem sabíamos que tínhamos. Creio que isso tenha o motivado nesse período que ele colocou na cabeça que iria virar um astro do rock. O Kurt mais do que qualquer um queria ser feliz, penso eu que ele achou que quando conseguisse ser um astro do rock, famoso, rico e reconhecido e ter sua própria família ele achou que seria feliz. Infelizmente, ele conquistou tudo isso, porém o que ele acreditava ser o que lhe traria a felicidade e plenitude de espírito não aconteceu. Então ele se revoltou com tudo isso, tanto que o cara de 88 que não perdia nenhum ensaio e fazia shows de graça apesar das dificuldades financeiras não via impedimento e isso de certa forma o fazia feliz e o impulsionava no seu sonho comparando com o cara de 93/94 que não ia aos ensaios, mesmo tendo cachês altíssimos recusava e dizia que odiava tudo aquilo. Da para fazer esse panorama dele.
Queria expor minhas críticas a personalidade dele como eu fiz enquanto lia, mas não vou fazer. No final ele foi o resultado de muitas irresponsabilidades dos país, que não fizeram seu papel de guiar uma criança e posteriormente o adolescente, não pararam para conversar como pais mesmo. E o Kurt era um paradoxo total, algo que agora ele julga amanhã ele tá fazendo, e associava a sua felicidade a coisas e pessoas, quando na verdade eu acredito que a felicidade é um estado de contentamento consigo mesmo, algo que ele não possuía.
Eu poderia ficar horas aqui divagando sobre minhas opiniões sobre essa história, tentar criar teorias que poderiam ter ajudado o Kurt a ter seguindo um outro caminho. Mas não é uma ficção que podemos tentar criar nosso próprio final para que ele seja feliz, é uma história real e como isso é triste, uma vida de luta interior. Eu até orei pelas pessoas ao redor do mundo que vivem assim, meu deus, como é difícil aguentar esse tipo de vida e sentimentos por tanto tempo, com toda essa revolta, raiva e tristeza do que amor próprio. E os poucos que realmente quiseram ajuda-ló, infelizmente não conseguiram porque as suas muralhas invisíveis estavam tão impenetráveis naquela altura.
Espero que lá do outro lado ele tenha conseguindo encontrar a paz de espírito que é algo que ele precisava tanto. E fica o alerta para nós, de como tratamos as crianças e adolescentes ao nosso redor. Vamos sair do nosso egoísmo do qual só nos preocupamos com nós mesmo e olharmos com olhar humano para essas pessoas e tentar ajuda-las, pois depressão não é algo que acontece de repente e nem é bobagem ou uma fase, ela é gradual e precisa de todo auxilio possível. Vamos ser humanos e gentis com essas pessoas que precisam de uma mão amiga não um olhar acusador.