Rê 30/11/2017Te deixa desconfortável de um jeito ruim. Muito ruim. Adiei por muito tempo esta leitura, mas resolvi fazê-la um pouco antes do ano acabar por motivos que não vem ao caso. Gosto muito de Cross e realmente admiro seu trabalho como biógrafo. O empenho e dedicação de organizar um livro como esse, colhendo informações através de inúmeras fontes e ao longo de tantos anos, é admirável e por si só merece crédito. Portanto, discordo com veemência das acusações de que seja um livro tendencioso que tenta "limpar a imagem" de Courtney e eximi-la de qualquer culpa. Sinceramente, essas teorias da conspiração já encheram o saco.
Devo dizer que fiquei chocada ao tomar conhecimento de tantos casos de suicídio numa mesma família. Kurt possuía um sentimento de conformidade muito bem definido em relação à própria morte, como se, de algum modo, ele soubesse que seu destino não poderia ter sido diferente. Os últimos capítulos são permeados por conflitos de natureza violenta e muita agonia. Os árduos esforços da família para impedir esse desfecho catastrófico, embora bem-intencionados, só pioravam a situação. Lamentável perceber que este, também, é um retrato daquilo que passam muitas outras famílias em relação ao drama de lidar com um viciado em drogas que está num grau perigosamente alto de dependência. Foi interessante descobrir o quanto Kurt se interessava pelas artes plásticas. Ele tinha uma curiosidade demasiadamente mórbida sobre o corpo de pessoas e animais, misturada ao deleite de deformar bonecas e uma certa obsessão por matéria fecal. Com a piora de seu quadro depressivo e suicida, outros comportamentos bizarros foram desenvolvidos. Em diversas entrevistas, ou melhor, na maioria delas, Kurt estava drogado, ou tinha acabado de ter uma overdose, ou estava sem tomar banho e escovar os dentes há semanas, ou tudo isso junto. Me chamou a atenção o fato de que todos os que o conheciam pessoalmente diziam que ele tinha uma aparência muito frágil, parecia muito mais velho do que era e nem de longe lembrava um jovem de vinte e poucos anos de idade. Acho que o único ponto negativo a ser ressaltado, é a quase ausência de Dave Grohl ao longo das quase quinhentas páginas; mas acredito que não comprometa a credibilidade da obra, uma vez que é sabido que ele e Courtney nunca se relacionaram bem. Para mim, particularmente, não foi um problema, pois tudo que eu queria saber sobre a amizade dos dois eu já havia lido na biografia não-autorizada do próprio Dave, escrita pelo Paul Brannigan.
Enfim, livro de incontáveis méritos para os entusiastas da banda e aficionados pela figura enigmática do garoto de Seattle.