JCarlos 28/07/2019
Uma FC da China! E surpreendentemente fantástica!
O FIM DA MORTE, de Cixin Liu
Remembrance of Earth?s Past #03
Sinopse:
Meio século se passou desde a Batalha do Fim do Mundo, e a Terra conquistou um frágil acordo para manter os invasores trissolarianos encurralados. Com ele, uma nova era de paz e prosperidade tem início, e Luo Ji ? o homem que elaborou o acordo, agora conhecido como Portador da Espada ? tem que carregar nas costas a vida de duas civilizações. Enquanto isso, Cheng Xin, uma engenheira aeroespacial do início do século XXI, desperta da hibernação nessa nova época. Luo Ji está velho, e um novo Portador da Espada deve tomar seu lugar. Será que Cheng Xin é capaz de suportar a responsabilidade de manter a Terra em segurança? E por que um antigo projeto, da época da Crise Trissolariana, não sai de sua mente? O destino da humanidade está em jogo ? estará nosso destino nas estrelas, ou permaneceremos no berço de nossa civilização até o fim?
Impressões:
Em O Problema dos Três Corpos a humanidade descobre não se encontrar sozinha no Universo.
?Quando a humanidade enfim descobriu que o universo era uma floresta sombria onde todos cassavam uns aos outros, a criança que antigamente gritava junto à fogueira em busca de contato apagou o fogo e ficou tremendo na escuridão. Até uma faísca a apavorava.? - p. 103
Em A Floresta Sombria todas as forças são reunidas para combater a invasão e domínio da Terra pelos habitantes de Trissolaris.
?O universo todo é escuro, mas continuamos iluminados. Somos um pequeno pássaro preso a um galho na floresta sombria, iluminado por um holofote.? - p. 267
E agora, na épica conclusão O Fim da Morte, Cixin Liu apresenta um desfecho de perfeição astronômica e de uma construção narrativa ímpar. Sua abordagem cósmica o faz digno de se assentar ao lado dos grandes romancistas de ficção-científica.
?O destino final de todos os seres inteligentes sempre foi tornar-se grandiosos como seus pensamentos.? - p. 576
Quem iniciou a trilogia já se acostumou com a linguagem técnica. Devo dizer que nesse terceiro livro só aumenta. E muito. Alguns podem achar cansativo até. E às vezes é. Mas não desencanta. Ao contrário, só aumenta a sensação de maravilhamento.
Sem spoillers, posso dizer que o autor oferece uma conclusão longe de ser esticada ou desnecessária, onde somos brindados com dilemas políticos e filosóficos, bem como conceitos cosmológicos e astrofísicos e sociais futurísticos.
?A criança que era a civilização humana abrira a porta de casa e olhara para fora. A noite sem fim a deixara tão apavorada que ela tremeu diante da vasta e profunda escuridão e fechou a porta com força.? - p. 393
Dividido em eras (Comum, Crise, Disuasão, Transmissão, Casamata, Galáxia e Domínio Negro), o enredo traz temas como universos tetradimensionais, bidimensionais, buracos negros, hibernação, progressos tecnológicos e apresentação de camadas de sociedades e suas mudanças entre gerações, naves de ciclagens, genocídio de raça, perpetuação da espécie, nascimento e fim de universos, vida e morte de nosso sistema, êxodo planetário...
De fato, não é pouca coisa. Tanto o é que esse final da trilogia até poderia se desdobrar em uma pluralidade de novos livros, novas obras tal o conjunto de linhas narrativas abordadas. Contudo, tal como uma grande tapeçaria, onde a partir de um fio se forma uma peça final perfeita e intrincada, a ficção de Liu nos envolve em perplexidade e imprevisibilidade, tornando difícil imaginar para onde a história nos conduzirá. Mas, como um exímio xadrezista, ele sabe utilizar cada peça e situação para lá na frente nos surpreender em um capítulo onde, muitas das vezes, a passagem do tempo poderá se encontrar séculos infinitamente adiante.
Um dos melhores livros de FC que li em minha vida, isso posso dizer hoje.
?A morte é o único farol que não se apaga. Aonde quer que a gente vá, no fim, sempre vamos acabar indo na direção dela. Tudo no mundo desaparece, mas a morte persiste.? - p. 364