Gabriel 04/04/2021
A angústia cotidiana de milhões de brasileiros.
Semana passada eu assisti no jornal uma notícia assustadora – 70% das famílias brasileiras se encontram em uma situação de endividamento em razão da pandemia. Os principais motivos para o endividamento são serviços básicos como energia elétrica, supermercado, gás e água. Por conta disso, milhões de brasileiros se sentem angustiados e sem saber o que fazer, e é exatamente essa angústia que é retratada no livro em questão.
Dyonelio Machado em "Os ratos" discute essa questão que perpassa a vida da maioria dos brasileiros - as dívidas. Naziazeno Barbosa é o personagem principal da narrativa e o seu conflito começa a partir do momento em que faz uma dívida com o leiteiro, e tem o prazo de um dia para pagá-la. A partir daí acompanhamos o dia de Naziano, e o modo pelo qual tentará conseguir o dinheiro para quitar essa dívida.
Esse livro demonstra como o dinheiro é algo determinante para as relações entre as pessoas. Fique sem dinheiro e você saberá realmente quem são os seus amigos...
Em alguns momentos Naziazeno demonstra que não sabe reagir ou se posicionar diante da situação, se sente completamente perdido. Às vezes ele quer apenas desaparecer, fugir. Eu me identifiquei muito nesse ponto, pois também não saberia o que fazer se estivesse em uma circunstância semelhante. Esse livro tocou em um medo muito profundo que eu sempre tive, crescer, assumir responsabilidades, cobranças... E agora José?
Nesse caos no qual estamos vivendo, milhões de brasileiros estão passando por esse drama, pais e mães de família que perderam os seus empregos, e se encontram desesperados e sem saber o que fazer. Por essa razão esse livro apresentou um contexto muito real e que, infelizmente, existe e existirá por muito tempo.
Em relação ao título do livro, ele se mostra muito sugestivo para compreendermos a narrativa. Assim como um rato que corre e gira naquelas rodas nas gaiolas, são os pobres trabalhadores com as suas dívidas, percorrendo um ciclo sem fim, pois ao fazer um empréstimo, paga-se uma dívida fazendo outra ainda maior. Talvez sejamos como ratos a roer as migalhas que nos dão.
Portanto, é um livro angustiante do início ao fim, o sofrimento de Naziazeno nos consome completamente. Chega uma parte da narrativa que é impossível abandonar a leitura, tamanha a vontade de saber o que acontecerá adiante.