Jeff.Rodrigues 01/08/2018Resenha publicada no Leitor Compulsivo.com.brA morte provavelmente é a maior inquietação dos seres humanos. Obviamente por ser o ponto final de tudo, mas também por ser desconhecida. Ela chega sem avisos, não tem critérios bem definidos e pode levar qualquer um a qualquer segundo. Independentemente do quão tranquilo ou desapegado alguém seja, certamente já teve aqueles momentos íntimos em que se pegou pensando nessa finitude, o imponderável que em um piscar de olhos muda perspectivas, abre lacunas, traz dor e vazio. O antigo ditado sentenciava que para tudo se encontra um jeito, menos para a morte.
Em toda essa inquietação, talvez o fato de ninguém saber a data da morte seja o ponto mais incômodo. Por mais doloroso que possa ser, acredito que muitos desejariam não só saber a data exata da morte, como também programar esse fim. Em um primeiro momento soaria confortável ter a oportunidade de partir deixando para trás tudo organizado, com despedidas e demonstrações de carinho feitas. Mas numa análise fria, mais racional que emocional, saber o dia de sua morte seria mesmo uma benção?
Nas páginas de Os Imortalistas, acompanhamos as vidas de quatro irmãos cuja data de falecimento foi apontada por uma misteriosa vidente. Ainda crianças, com todo um futuro aberto pela frente e sem a menor possibilidade de preocupação com a tal senhora da foice, receber um conjunto de números que carregam a sentença final resulta em comportamentos diversos. Acreditando ou não na mulher, o fato é que aquele futuro aberto vai acabar sendo moldado minuciosamente pela data fatídica.
Partindo dessa situação, Chloe Benjamin percorreu as idas e vindas de vidas humanas à sombra de um imponderável que, mesmo sem receber importância, permanecia ali. Os quatro irmãos construíram suas trajetórias influenciados por aquela previsão, e a todo momento nós nos perguntamos se as escolhas tomadas poderiam ter sido outras caso eles não soubessem do fim. O caçula, Simon, por exemplo, se entrega de corpo e alma a realizar todos os seus desejos, rompendo quase totalmente os laços familiares. De todos os personagens, ele talvez seja o que mais traga reflexões aos leitores. Sua vida teria sido diferente se não houvesse uma data pairando acima dela? Viveu-se mais perigosamente ou aproveitou-se melhor?
Os Imortalistas é também um livro sobre relações familiares, e neste aspecto a família Gold é um microcosmo perfeito de toda a agitação que foi movendo, influenciando, moldando e modificando as pessoas da metade final do século passado para as primeiras décadas do atual. Através de seus personagens, mergulhamos nas transformações que impactaram a sociedade e a vida de cada um. E no mundo que empurrou (ainda empurra) as pessoas para o individualismo e para as conexões virtuais, a falta de contato, de apoio, de ouvir e ser ouvido fez muita diferença no destino de quem foi e de quem ficou.
Com uma trama que se resume a narrar histórias de vida, Os Imortalistas foge do óbvio para no fim das contas passar a mensagem mais simples (e clichê?) de todas: a vida foi feita para ser vivida. Se o fato de saber a data da morte influenciou totalmente nos rumos de cada personagem, obviamente o livro não deixa claro. Quem vai saber, afinal? Evidentemente houve ali vidas vividas até as últimas consequências e cabe ao leitor decidir se poderiam ter sido diferentes. Se quisermos buscar alguma conclusão, fica a velha máxima de não deixar para amanhã absolutamente nada. No fim das contas, viver a vida como se cada segundo fosse o último!
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