Abduzindolivros 03/09/2023
Poxa, eu direto sinto saudades de casa ??
Não tinha expectativas em relação a esse livro, mas engajei rápido na leitura. Traz referências à ?Alice no país das maravilhas? e à ?Crônicas de Nárnia? para contar a história de Nancy, uma adolescente que sempre se sentiu desajustada até encontrar uma porta impossível que a levou para o Submundo: um lugar de mortos, silêncio e imobilidade. Pela primeira vez em sua vida, ela se sentiu em casa.
Até o dia em que o Senhor dos Mortos enviou-a de volta para nosso mundo, para que ela tivesse certeza de que gostaria de passar o resto da vida lá. Desolada, Nancy se vê de volta em um mundo onde não se encaixa e, incompreendida por sua família, vai parar em um internato para crianças desajustadas, onde conhece outros adolescentes que também estiveram em outros mundos, foram expulsos de lá e agora precisam de ajuda para superar a tristeza até encontrarem suas portas outra vez.
A vida no internato é abalada por uma sequência de crimes brutais, revelando medos e preconceitos daqueles jovens perdidos.
Gostei da fantasia, dessa ideia de encontrar portas para outros mundos com criaturas fantásticas, cores, configurações e culturas diferentes do que conhecemos. Eram lugares feitos sob medida para a personalidade dos personagens, lugares onde se sentiram em casa, com seus talentos e interesses sendo apreciados.
Por trás, há reflexões sobre aspectos que podem tornar difícil a tarefa de se encaixar em uma sociedade que exige um padrão, e ser aceitos por familiares que nem sempre aceitam bem quando as expectativas que têm sobre os filhos são frustradas.
A Nancy, por exemplo, é assexual, e nunca se sentiu compreendida pela família e/ou encaixada na convivência com outros jovens. Quando encontrou o Submundo, se sentiu confortável consigo mesma pela primeira vez. Os outros jovens também têm questões semelhantes. Eu, como pessoa demissexual, me identifiquei bastante. Sempre me senti (e ainda me sinto) deslocada, alienígena, e não é à toa que vivo falando que sinto saudades de casa, pois não me sinto pertencente a esse mundo. Eu gostaria de encontrar uma porta mágica, também. E, de certa forma, encontrei: nos livros.
Outro aspecto abordado que me chamou a atenção, foi ver como o preconceito também se manifesta entre aqueles que são rejeitados. Os adolescentes também se estabeleciam na escola segundo uma hierarquia de quem era ?menos estranho? ? quem tinha visitado mundos mais bonitos, leves e coloridos considerava-se melhor do que quem visitara portas mais sombrias. E, de forma bem escancarada, um dos personagens sofreu preconceito por ser um menino trans.
É uma história básica, simples, gostosa de ler. Não traz nada de explodir a cabeça, não se aprofunda nessas questões que citei, o mistério e a solução dos assassinatos não chega a ser uma reviravolta estupenda, e eu achei a narrativa apressada em vários pontos. Maaaas nada disso tirou o encanto do livro, para mim. Eu curti a leitura, achei gostosinha para intercalar com algo mais pesado.
Esse é o primeiro livro de uma trilogia, mas, como a história acaba bem fechada, não é necessário ler os outros para entendê-la. Pelo que vi, o segundo livro conta sobre duas personagens que apareceram neste aqui; o terceiro é que tem mais cara de continuação. Talvez um dia eu leia, não sei, mas já fica aí a indicação de uma história para curar ressaca.