Luis0501 17/04/2023
De Volta ao Medo Clássico
Faz muito tempo desde que li Lovecraft pela última vez. Foi gostoso relembrar de alguns bons contos. Mas a experiência não foi tão boa quanto eu esperava (por isso a nota 3/5). A maior crítica que eu faço é pelo estilo do autor. Lovecraft não é um escritor de livros, ele é um escritor de contos. Todas as suas histórias são feitas da mesma forma: o protagonista que sobreviveu a algum tipo de terror e escreve uma carta ou depoimento relatando o ocorrido. Nenhuma história tem diálogos. São todas muito descritivas e narrativas. Isso funciona muito bem em uma história curta, mas em algo longo fica extremamente maçante e difícil de ler. Feita a crítica, vamos aos pontos positivos. Essa edição em especial tem seus pontos fortes, como uma introdução exclusiva da editora, um relato mostrando o quanto o autor influenciou (e ainda influencia) a cultura pop no geral, uma descrição de uma viagem pela cidade natal de Lovecraft, numerando os lugares que serviram de inspiração para diversas de suas histórias e, o mais importante, uma capa gloriosa que fica linda na estante.
Já que o livro é uma coletânea, vou fazer uma breve resenha de cada conto, sem spoilers:
Dagon: Uma das primeiras histórias escritas por Lovecraft. Conta sobre um náufrago que acaba em uma ilha recém criada pela ação na natureza e lá se depara com a criatura que dá nome ao conto. Ela me parece um protótipo do que seria o horror cósmico do autor, com criaturas horrendas que enlouquecem uma pessoa apenas aparecendo diante delas e civilizações mais antigas que a história como conhecemos hoje. Eu gostei.
A Cidade Sem Nome: Um pesquisador vai até ruinas no meio do deserto, lugar esse considerado amaldiçoado pelos nativos da região. É uma história simples. E sabe disso. Ela entrega o que promete: mistério e o horror causado pelo desconhecido na medida certa.
Herbert West - Reanimator: Um dos mais famosos contos do autor (já virou trilogia no cinema) conta sobre um cientista que tenta descobrir a fórmula da ressurreição. Obviamente sem sucesso. Esse é um pouco longo, mas é bom do começo ao fim. Só não gosto muito de como ele termina, o final é meio fraco depois de toda a expectativa que a história gera.
O Depoimento de Randolph Carter: Esse eu não conhecia. É um relato de um pesquisador sobre o desaparecimento de seu parceiro quando ambos foram investigar algumas ruinas. Meio lento no começo, mas o terror escalona rapidamente, tendo um final que pode dar pesadelos.
O Cão de Caça. Também não conhecia. Dois jovens idiotas fazem besteira e pagam o preço por isso. Sendo sincero ele nem parece um conto de Lovecraft. Ao invés de criaturas cósmicas ele fala sobre uma maldição. Mas é bom.
O Chamado de Cthulhu: Sem dúvida o mais famoso conto do autor. Marinheiros encontram uma cidade no meio do mar e nela mora nosso cabeça de polvo preferido. Eu gosto dela. Mas não consigo imaginar Cthulhu sendo derrotado da forma como ocorreu no conto. É estranho.
Nas Montanhas da Loucura. Um grupo de arqueólogos investigando o solo do Ártico descobre estranhas ruinas de uma civilização muito antiga. O ponto baixo do livro é esse conto. Ele é gigantesco (tem quase 130 páginas) e muito, mas muito arrastado. O autor fica muito tempo descrevendo a escavação em si, os pormenores e o funcionamento dela. E ele tenta fazer um suspense que em momento algum funciona, porque fica óbvio desde o começo do que vai acontecer. Mas ela não é inteiramente ruim. Aprofunda (pouco, mas aprofunda) sobre as diferentes raças cósmicas que habitavam a Terra.
A Sombra Vinda do Tempo: Um homem sofre uma estranha amnésia perdendo alguns anos de sua vida e tenta investigar o que ocorreu nesse período. Também é muito longo, mas não tanto quanto o anterior. Ele não fede nem cheira. Tem uma premissa muito boa, mas a ideia logo se perde na clássica "investigação de ruinas antigas".
A História do Necronomicon: O título é autoexplicativo. Não é bem um conto, é uma carta que Lovecraft enviou a um amigo relatando a história do Necronomicon, um livro maldito que aparece em diversas histórias do autor.