Bruno 28/02/2010
intérprete do Brasil
'Esaú e Jacó' não é um livro dos mais fáceis. Para um sujeito que tem escasso conhecimento de mitologia grega, como eu, notas de rodapé são indispensáveis. Nesse sentido, a edição da L&PM é bem razoável, pois além de oferecer um panorama do Rio antigo nas páginas iniciais, fornece também um bom apoio durante a leitura. Para alguém que tem pouco conhecimento de História do Brasil, o livro, imagino, deve tornar-se ainda mais difícil. Aliás, para quem não conhece um mínimo sobre política do Segundo Reinado, diria que a leitura de 'Esaú e Jacó' é quase sem sentido, pois Machado parte de uma análise política da transição entre Monarquia e República para, mais uma vez, divagar sobre a condição humana, seu tema predileto. Cada personagem representa uma alegoria, embora nem todas estejam tão explícitas, como em Pedro e Paulo. De fato, Machado não deseja ser explícito. O seu narrador, lá pelas tantas, fala o seguinte: "O leitor atento, verdadeiramente ruminante, tem quatro estômagos no cérebro, e por eles faz passar e repassar os atos e os fatos, até que deduz a verdade, que estava, ou parecia estar escondida".
Até hoje 'Esaú e Jacó', bem como 'Memórias póstumas...' e outras obras da fase realista de Machado permanecem abertos a novas interpretações. Para quem já leu o primeiro, recomendo o capítulo sobre o mesmo em 'Machado de Assis: Ficção e História', do britânico John Gledson. Ele ajuda a compreender algumas partes obscuras do livro, permitindo, assim, que contemplemos de forma ainda mais nítida a genialidade de Machado.