É isto um homem?

É isto um homem? Primo Levi




Resenhas - É Isto um Homem?


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juresenhas 24/05/2021

duro e muito necessário
acho importante ver a visão de pessoas que passaram por situações como essas, porque muito conhecimento q adquirimos na escola não necessariamente é condizente com o que aconteceu.
ler sobre o campo de concentração na visão de alguém que vivei nele é algo triste mas muito interessante de se ler.
indico muito se você tiver estômago, pois não é algo fácil
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Adamastor Portucaldo 26/07/2023

O que é o Homem?
No que pode se transformar um homem? Esse italiano sortudo conseguiu sobreviver a Auschwitz. Os alemães terceirizaram boa parte da maldade, encontrando milhares que se venderam por uma nódea de pão. A que condições podemos chegar se a coisa ficar ruça, russa, prêta ou (...) mesmo. Dôr profunda. Como eles conseguiram que toda uma nação compactuasse com tal genocídio!! Imagino agora, que o marketing e os meios de comunicação evoluíram tanto... o que se faz, se tem feito e o que farão!
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Ivan de Melo 23/12/2020

Memória que urge: Primo Levi e os dias de sobrevivência em meio ao horror da Shoah
Todo mundo tem algum livro que ainda não leu, mas conhece tudo a seu respeito, sua sinopse, sua história e por aí vai. “É isto um homem?” de Primo Levi era um destes livros para mim. Durante minha formação como historiador fiz muitos trabalhos e pesquisas as quais o título era referência, sobretudo em estudos sobre literatura de testemunho, memória e a Segunda Guerra Mundial. Esses encontros esparsos acabaram me distanciando da leitura da obra por completo, um atraso que pude tirar este ano.

Como você provavelmente já sabe, Primo Levi foi um químico e escritor italiano que sobreviveu ao encarceramento em Auschwitz-Birkenau. Em 1944 e aos seus 24 anos, Levi foi capturado pelos alemães enquanto lutava junto a partisans contra a ocupação nazista do território italiano. Sua descendência judia o separou de seus companheiros e determinou seu encaminhamento aos campos de concentração. O que temos nesta obra é então o relato dos onze meses em que Levi sobreviveu aos trabalhos forçados e a degradante condição a que era submetido junto a outros milhares de judeus cativos. São descrições das rotinas extenuantes em que homens caíam mortos na neve invernal, das instalações precárias em que homens dormiam amontoados, da má nutrição e das torturas físicas e psicológicas que sofreram homens reduzidos a números, assim como das instalações do complexo Auschwitz-Birkenau, das hierarquias e relações entre prisioneiros e dos meios de resistência em tal realidade.

Separados em textos curtos, suas memórias não seguem uma cronologia especial, mas parecem obedecer a uma espécie de urgência de memória que fizeram deste o primeiro livro escrito pelo autor em 1946, um ano após sua libertação. O valor de suas memórias integra um momento inaugural para a literatura de testemunho, uma vez que Levi descreve sua imersão em um espaço completamente apartado do contexto em que se desdobrava a guerra fora das cercas de arame farpado, o que acrescenta um caráter documental importante para seus textos que passaram a ser lidos desta forma para a compreensão do trauma da Shoah.

Os textos são pesados e é comum terminar cada um deles com um embrulho no estômago (eu li este livro bem devagar, por sinal). É estarrecedor perceber a série de fatores que envolveram a sobrevivência de Levi em Auschwitz. Fatores externos como a sua chegada “tarde” aos campos já nos estertores da guerra, e fatores internos como seu comportamento acautelado que não chamava a atenção das autoridades, mas que era útil para a manutenção de uma rede de amizades, e também o uso de suas faculdades em química que lhe renderam mais tarde uma função “mais confortável”; mas também golpes de inestimável sorte marcaram o caminho de Levi que pegou escarlatina nos dias que antecederam a invasão do Exército Vermelho e graças a isso foi poupado da grande evacuação de Auschwitz conhecida como “marcha da morte” pelo número de prisioneiros assassinados durante o deslocamento. O relato de Levi sobre os dez últimos dias em que ficou preso na enfermaria em pleno inverno congelante com uma série de outros doentes, muitos em pior condição, sem aquecimento e alimentação à espera do resgate soviético desafia qualquer peça de ficção.

Não é apenas a contundência do período histórico de que Levi nos lega um testemunho - e que deveria calar a boca de qualquer teoria negacionista sobre o que foi a Shoah – que faz deste um bom livro, mas a escrita de Levi guarda um requinte que também impressiona e durante sua vida pós-Auschwitz, o autor tentou contornar sua imagem de memorialista e sobrevivente em prol de sua literatura de ficção. Apesar do esforço, ainda conhecemos melhor sua obra pelos escritos sobre a experiência nos campos que marcou toda a sua produção, mas já podemos ter acesso a outras de suas facetas, como a de poeta a partir da coletânea “Mil Sóis: Poemas Escolhidos” publicado por aqui em 2019 pela Todavia. A leitura de “É Isto um Homem?” é fundamental, sobretudo se seu maior conhecimento sobre a Shoah (ou o Holocausto fora do contexto judeu) é baseado nas muitas produções de ficção histórica que existem por aí, e se as palavras de Levi não forem suficientes, sugiro que assista o média documentário “Noite e Neblina” (1956) dirigido por Alain Resnais em uma visita aos campos de Auschwitz dez ano após sua desativação em uma colagem de imagens de arquivo e ruína. Prepare-se para imagens muito fortes.
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Ligia.Carvalho 21/03/2021

O holocausto
É isto um homem?? é o título de um dos livros mais tocantes sobre o holocausto. O seu autor é Primo Levi, um judeu-italiano, preso em Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial.

Um relato duro e necessário. Um testemunho de profunda sensibilidade e reflexão sobre o comportamento humano em um contexto de extrema violência, caos e desumanização. A inspiração neste primoroso texto é o da tentativa de compreensão da perda conceitual da vida humana.

?Cedo ou tarde, na vida, cada um de nós se dá conta de que a felicidade completa é irrealizável; poucos, porém, a tentam para a reflexão oposta: que também é irrealizável a infelicidade completa. Os motivos que se opõem à realização de ambos os estados-limite são da mesma natureza; eles vêm de nossa condição humana, que é contra qualquer ?infinito?. Assim, opõe-se a esta realização o insuficiente conhecimento do futuro, chamado de esperança no primeiro caso e de dúvida quanto ao amanhã, no segundo. Assim, opõem-se as inevitáveis lides materiais que, da mesma forma como desgastam o tempo toda a felicidade, desviam a cada instante a nossa atenção da desgraça que pesa sobre nós, tornando a sua percepção fragmentária e, portanto, suportável? (pg 18)
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Andrei.Mazzola 08/05/2021

De gente a coisa, de coisa a gente
Uma obra em caráter de urgência, de quem escreve em gritos após a imposição da mudez, após a tentativa de lhe retirarem a humanidade. São estes sentimentos que percebemos ao entrarmos em contato com a obra de Primo Levi: É isto um Homem?

Obra de um Químico italiano e judeu que busca firmar relatos, memórias como um homem que sentiu sua humanidade ser arrancada de si, que viveu as mais degradantes humilhações no Campo de Concentração de Auschwitz na Polônia, um dos maiores símbolos de referência do extermínio humano no século XX e que marcou a história humana, assim como, sua capacidade de dobrar um homem a ponto de se tornar coisificado, algo que ao fim se descarta como pó ao vento. Os judeus no campo eram para Levi ?bonecos de ossos?, moldados nas piores condições existentes para uma pessoa.

Separados de suas famílias desde a viagem ao campo, ao chegar eram escolhidos entre os aptos, ou seja, úteis ao trabalho e rentáveis aos negócios alemães (normalmente homens jovens e saudáveis) ou os que iriam direto as câmaras de gás e de lá para os fornos crematórios (velhos, deficientes, crianças, mulheres).

Publicado em 1958, a obra de Levi busca traçar sua trajetória desde sua captura na Itália em 1943 com 24 anos, até sua libertação pelos soviéticos em 1945. Ao ler este livro podemos ter em mãos e em mente toda a trajetória realizada pelo personagem e autor do livro que narra a sua viagem nos trens de carga sem iluminação, sem assentos, feitos justamente para se colocar coisas lá dentro, não pessoas.

Uma viagem longa e que levam estes judeus a cada vez mais longe de sua humanidade, pois no caminho lhes faltam as necessidades mais básicas e elementares como água para beber. Percebe-se a sede sendo evidenciada, não havia água potável na viagem e nem mesmo no campo, a água que conseguiam tomar era aquela do caldo da sopa, aguada e sem muitos nutrientes que aliada de um mísero pão em formato quadrado faziam a parca refeição destes seres condenados e escravizados.
.
Situação possível a partir da construção do nazismo pela sociedade alemã e sua institucionalização no III Reich nazista estabelecido no poder que sob o comando de Hitler assombrava o mundo desde meados dos anos 1933.
Silva 08/05/2021minha estante
Parabéns! Ótimos comentários




Val | @livre_se_clube 15/05/2020

Uma narrativa humana
Um clássico, um testemunho de um dos mais dolorosos episódios da humanidade. .
O relato de Primo Levi, sobrevivente do campo de concentração que massacrou milhões de pessoas, "É isto um homem?" nos mostra que a morte não era a maior das tragédias em Auschwitz, a desumanização, sim. .
"Vocês que vivem seguros
em suas cálidas casas,
vocês que, voltando à noite,
encontram comida quente e rostos amigos,
.
pensem bem se isto é um homem
que trabalha no meio do barro,
que não conhece paz,
que luta por um pedaço de pão,
que morre por um sim ou por um não.
Pensem bem se isto é uma mulher,
sem cabelos e sem nome,
sem mais forças para lembrar,
vazios os olhos, frio o ventre,
como um sapo no inverno. .
Pensem que isto aconteceu:
Eu lhes mando estas palavras.
Gravem-nas em seus corações,
estando em casa, andando na rua,
ao deitar, ao levantar;
repitam-nas a seus filhos. .
Ou, senão, desmorone-se a sua casa,
a doença os torne inválidos,
os seus filhos virem o rosto para não vê-los".
.
Este é o poema de abertura de um relato doloroso, porém sereno que o autor faz de sua experiência nos campos de extermínio na Alemanha nazista. A descrição dos trabalhos forçados e das humilhações nos põe frente a frente àquilo que "o homem chegou a fazer do homem".
.
"Os personagens dessas páginas não são homens. A sua humanidade foi sufocada, ou eles mesmos a sufocaram, sob a ofensa padecida ou infligida a outros". .
.
Desconcertante como todo livro que traz o tema à tona, a narrativa em primeira pessoa cala em nosso coração um grito, um desejo desesperado de que tenhamos já nos tornado seres humanos melhores. .
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Silva 17/05/2021

Impressões
Primeiro, um fato, embora óbvio, mas extremamente importante e que deve ser o tempo todo ressaltado: os testemunhos de Levi contribuíram de modo significativo ao pôr em
evidências as barbáries do Estado totalitário.
Em seguida, vale dar voz ao autor em: "a história dos campos de extermínio deveria
ser compreendida por todos como sinistro
sinal de perigo", como em inúmeros outros momentos para compreensão da constante luta contra uma possível repetição de Auschwitz (parafraseando Adorno).
Uma ressalva: temos que ter cuidado para não banalizar o mal.
Um comentário: o livro é recheado de uma sensibilidade enorme, expressa muita dor e sofrimento que nos impulsiona a refletir sobre a própria condição humana (ou de inumanos, subumanos).
Enfim, uma reflexão em forma de afirmação: há Estados de Exceção permanentes que continuam a produzir vida nua (aquelas fabricadas nos campos).
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Peter.Molina 24/08/2023

O trabalho liberta
A frase acima está ironicamente na entrada do campo de concentração nazista de Auschwitz onde lemos o relato do autor neste livro. Uma história real, dolorosa,cruel e por vezes absurda, como a questão da banda de música e a conferência dos disentericos. O livro tem várias cenas chocantes e foi difícil continuar a leitura em várias passagens. Um livro seco mas necessário, lembrando um acontecimento que jamais pode ser esquecido e do quanto a maldade humana pode ser capaz.
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Lays @la.livros 12/03/2023

Isto é um homem?? - Primo Levi

Ele começa dizendo que ele não quer trazer uma história sobre Auschwitz, mas ele traz relato do que ele viveu lá.

Uma história real, um desabafo para manter a sanidade mental, um relato que incomoda, e nos machuca com dureza que é contado. Ou melhor com a dureza do que os judeus, poloneses, homossexuais, ciganos, e qual quer um que não seguisse exatamente a ideologia deles.

Um livro maravilhoso, mas muito doloroso.
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Aline221 26/04/2020

Um livro necessário
Em meio a toda uma situação de destruição da humanidade alheia, como alguns homens, longe das concepções de "bom ou mau" pode preservar sua vida como um ser humano, e não uma coisa andante, fruto de um projeto enojante nazista?
Bem, vou deixar aqui registradas algumas mensagens do livro, que no final da minha leitura, está todo marcado de post its:

"É um homem quem mata, é um homem quem comete ou suporta injustiças; não é um homem que, perdida já toda reserva, compartilha a cama com um cadáver. Quem esperou que seu vizinho acabasse de morrer para tirar-lhe um pedaço do pão, está mais longe (embora sem culpa) do modelo do homem pensante do que do pigmeu mais primitivo ou o sádico mais atroz."

"Uma parte da nossa existência está nas almas de quem se aproxima de nós; por isso, não é humana a experiência de quem viveu dias nos quais o homem foi apenas uma coisa ante os olhos de outro homem."

"Sucumbir é mais fácil: basta executar cada ordem recebida, comer apenas a ração, obedecer à disciplina do trabalho e do Campo. Desse modo, a experiência demonstra que não se aguenta quase nunca mais do que três meses."

"... se eu pudesse concentrar numa imagem todo o mal do nosso tempo, escolheria essa imagem que me é familiar: um homem macilento, cabisbaixo, de ombros curvados, em cujo rosto, em cujo olhar, não se possa ler o menor pensamento."
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Wilson 24/05/2022

Primo Levi
O livro se trata das memórias de Primo Levi, autor do livro, e sobrevivente do holocausto. A história se passa no campo de concentração em Auschwitz. Recomendo a todos que querem saber mais sobre o holocausto.
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Clarice 17/04/2020

Primo Levi (1919 - 1987) foi um judeu, nascido em Turim na Itália e prisioneiro de Auschwitz entre 1944 e 1945, não sendo esse o primeiro campo de concentração onde esteve, mas os relatos presentes nesse livro datam desse período.

É isto um homem? Possui um prefácio do autor e dezoito capítulos, cada um deles relatando memórias de sua passagem por lá desde a viagem de quinze dias, a chegada ao campo de extermínio que se tornaria um dos mais conhecidos do mundo, a rotina nesse lugar e tudo o que passa na cabeça de quem precisa se adaptar a esse novo ‘’estilo de vida’’. Primo Levi nos conduz em cada capítulo a explorar um aspecto dessa vida, como é uma enfermaria dentro de um campo de concentração? Como os prisioneiros são alimentados? Como conseguir uma ‘’oportunidade’’ de ser promovido e desempenhar funções de químico, sua formação, dentro desse lugar? Como coexistem e compartilham a cama, o dormitório, os trabalhos pesados, a latrina, a fome e o frio esses seres humanos tão diferentes que há pouco não tinham em comum nem mesmo a língua, unidos agora pelo mesmo processo de desumanização que estão submetidos.

Vale ressaltar que apesar da narrativa do livro ter um tom de diário ele é concebido, conforme o autor informa, em ordem de urgência, portanto fragmentado. Assim, escrito posteriormente a libertação do campo, ainda que em intenção já tivesse nascido lá mesmo.

Esse não é o único livro do autor, Primo Levi é, na verdade, uma referência mundial em
narrativas sobre o tema. Podem gostar desse livro todos os interessados em memórias da II Guerra, os fãs (adultos) de O diário de Anne Frank e dos romances de John Boyne.
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Euflauzino 13/04/2020

A desumanização

Todas as vezes em que me deparo com algo escrito, falado, filmado sobre o Holocausto minha reação é a mesma: indignação. É um sentimento que sufoca, misto de raiva e frustração, que mostra o quão impotentes ficamos diante da violência e da injustiça de natureza bélica. A ideologia nazista com seus campos de concentração é o que mais próximo podemos chegar da barbárie, é a ignorância em estado bruto e letal. É preciso lembrar e relembrar tudo o que ocorreu para não deixarmos cair no esquecimento, para não repetirmos o mesmo erro. O grande filósofo George Santayana já dizia: "Aqueles que não podem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo".

“A história dos campos de extermínio deveria ser compreendida por todos como sinistro sinal de perigo.”

Primo Levi foi um dos poucos sobreviventes de Auschwitz. Químico de formação acadêmica, para purgar seus fantasmas, escreveu É isto um homem? (Rocco, 256 páginas), clássico testemunho das atrocidades cometidas contra um povo. Durante a leitura me questionava: O que faz do homem um homem? E fui em busca de uma explicação lógica para tal questionamento. Doutrinas científicas, filosóficas, políticas, religiosas me trouxeram mais dúvidas que respostas. Não seria incorreto afirmar que o homem o é por ser racional, dominar a linguagem e ter consciência sobre si, além de seguir um código moral.

Porém tudo isso cai por terra quando um homem começa a tratar seu semelhante como se não o fosse. Isso não é agir racionalmente, é mais que apenas contraditório, é paradoxal. E que código moral seria esse que rouba o que há de humano no homem, tornando-o um saco vazio, sem vontade, sem alma? Pensar nisso dentro de uma casa aconchegante, debaixo de cobertas e com o estômago cheio é apenas um exercício de imaginação. Tente se colocar no lugar de homens sem esperança e verá que o sofrimento pode não ter medida.

“Vocês que vivem seguros / em suas cálidas casas, / vocês que, voltando à noite, / encontram comida quente e rostos amigos, / pensem bem se isto é um homem / que trabalha no meio do barro, / que não conhece paz, / que luta por um pedaço de pão, / que morre por um sim ou por um não. / Pensem bem se isto é uma mulher, / sem cabelos e sem nome, / sem mais força para lembrar, /vazio os olhos, frio o ventre, / como um sapo no inverno.”

Um dia qualquer, pela "força" de homens ligados ao nazifascismo, judeus, criminosos, homossexuais, ciganos e deficientes, são obrigados a deixar tudo pra trás e embarcar em comboios apenas com a roupa do corpo. Uns iam direto para câmara de gás, outros mais (há quem diga menos) afortunados para campos de trabalho forçado e mais cedo ou mais tarde pereciam também.

“São poucos os homens que sabem enfrentar a morte com dignidade, e nem sempre são aqueles de quem poderíamos esperar. Poucos sabem calar e respeitar o silêncio alheio. Frequentemente, o nosso sono inquieto era interrompido por brigas barulhentas e fúteis, por imprecações, por socos e pontapés largados às cegas, reagindo contra algum contato incômodo, mas inevitável. Então alguém acendia a chama mortiça de uma vela, revelando no chão um escuro fervilhar, uma massa humana confusa e contínua, entorpecida e sofrendo, erguendo-se aqui e acolá em convulsões repentinas, logo sufocadas pelo cansaço.”

Nestes campos a violência e o sofrimento pareciam não ter fim. Elie Wiesel, prêmio Nobel da Paz, outro sobrevivente de Auschwitz respondeu sobre os campos de extermínio nazista: "Ainda não conseguimos abordar este tema. Fica fora de todo entendimento, de toda percepção. Podemos comunicar alguns retalhos, alguns fragmentos, mas não a experiência. O que vivemos ninguém saberá, ninguém entenderá".

site: Leia mais em: http://www.lerparadivertir.com/2020/04/e-isto-um-homem-primo-levi.html
Manuella_3 23/04/2020minha estante
Puxa... Este livro me trouxe tanta comoção, um bocado de indignação... O relato dele é dolorosamente humano. Durante a leitura fiquei pensando em como os sobreviventes retomam suas vidas, como as memórias compartilhadas aliviam e permitem seguir em frente. E o mais difícil de tudo, onde se agarraram para lutar pela vida até o fim.
Bela e sensível interpretação, Rodolfo. Corajoso ler isso nesse momento.


Euflauzino 24/04/2020minha estante
Atravessei este livro a duras penas, muito, mas muito doloroso mesmo. Percebi que tanto vida quanto morte já não eram escolhas, eles apenas viviam, sem esperanças, sem amanhã. A morte era tão bem vinda quanto a vida e em alguns momentos era a única coisa que os mantinham vivos. É paradoxal pensar na morte pra se manter vivo, mas era isso mesmo. Eles se tornaram uma outra classe de seres vivos, inclassificáveis, por isso mesmo inesquecíveis em suas dores.
Obrigado por suas palavras carinhosas Manuh, saudades suas.




Brenoarf 05/02/2022

A visceralidade dos incógnitos
"É isto um homem?" configura uma profunda reflexão sobre a fragilidade da existência humana em confronto com a sua mais intensa capacidade de sobreviver, mesmo onde há apenas loucura, sofrimento e dor.
A privação da maioria dos recursos de manutenção de vida biológica a um grupo selecionado, imposta por outros seres humanos no auge do egoísmo e soberba, alia-se à suprema miséria e humilhação moral que desconecta a vida e deteriora o intelecto e a alma.
O nascimento do mal, em parâmetros novos, induz a um gradual apagamento dos seres escolhidos como alvos da horrenda destruição executada pelo nazismo de Hitler, que registra o extermínio como fato casual e compreensível para sedimentar uma nova era. Levi, como escritor, ocupa-se, nessa obra, dos judeus do complexo de Auschwitz com quem conviveu e dá voz aos ausentes, aos que foram silenciados pela inexistência física no pós-guerra e que foram em realidade as verdadeiras testemunhas.
Os testemunhos, a negação, o silêncio voluntário e o silêncio pela ausência são um mosaico de sentidos humanos gerados a partir do que a estudiosa Hannah Arendt denominou como "banalidade do mal". Para além de relatar o cotidiano em Auschwitz, em analisar o declínio da humanidade perante seus próprios olhos, Levi deixa, nessa obra, como legado a necessidade de preservar a memória, sendo o testemunho do autor, portanto, a preservação do coletivo. O coletivo que sofreu, morreu e constantemente é alvo de uma tentativa de covardes apagamentos. Isso porque a pergunta que dá título ao livro é um questionamento sem conclusão simples: o homem é o mesmo que matou milhares de judeus, mas também é o mesmo que sofreu com a perda da identidade nos campos de concentração nazistas. O homem é uma incógnita.
A obra de Primo Levi é certamente um dos marcos mais importantes para a narrativa testemunhal a cargo da ficção, de onde saem as palavras em tantos quantos foram os idiomas envolvidos, de onde brotam as imagens cênicas de tantas quanto foram as atrocidades cometidas e de onde emergem as personagens-testemunhas que ultrapassaram "a libertação, num cenário miserável de moribundos, de mortos, de vento infecto e de neve suja [...]" como descreveu Primo Levi.
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