Marcos Pinto 03/01/2017TocanteA guerra tem facetas cruéis e terríveis. Contudo, quando corrompe a inocência de crianças, tudo se torna ainda pior. Nessa obra, John Boyne retrata exatamente isso: o corromper de uma alma inocente; mais precisamente, a alma de Pierrot.
O garoto ainda era novo quando sua mãe falece e ele acaba ficando sem ter para onde ir. Até havia a possibilidade de ficar com amigos da família, mas eles eram judeus e os tempos eram difíceis. Após uma breve passagem por um orfanato, Pierrot consegue um novo lar. Ele vai morar com a sua tia Beatrix, em uma casa onde ela era governanta.
Contudo, o casarão no topo da montanha onde ele vai morar era uma das residências de Adolf Hitler. A princípio havia o temor do tirano detestar a criança. Porém, tudo fica ainda pior quando o líder nazista se torna próximo do garoto e começa a lhe ensinar os preceitos de seu regime totalitário. Cada vez mais o jovem Pierrot se afasta da sua inocência e flerta com a dor, o ódio e o preconceito. Haverá perdão para um discípulo de Hitler? Haverá como se recuperar de uma lavagem cerebral?
“Ele é um menino completamente diferente daquele que veio morar aqui. Você também deve ter reparado” (p. 151).
Partindo dessa premissa, Boyne cria uma obra bela, profunda e com forte apelo psicológico. Isso acontece principalmente devido ao excelente desenvolvimento do protagonista, o que nos permite entender como as influências podem moldar a alma de uma criança. Acompanhar a passagem da infância para a adolescência de Pierrot é algo doloroso, mas altamente verossimilhante, o que dá ao livro um aspecto único.
Outro fator que torna a leitura mais interessante é o bom aprofundamento histórico da trama. Para quem gosta de conferir enredos que se passem no período da Segunda Guerra Mundial, esse livro é uma excelente oportunidade. Apesar do foco ser a relação entre Hitler e o garoto, o fundo histórico está sempre presente, alterando, inclusive, a ação dos personagens.
É também possível tirar da referida obra um detalhe que deixará o leitor pensando por dias: a força que o poder tem sobre a mente das pessoas. Em diversos momentos do livro, o leitor é levado a pensar sobre a estrutura do poder e como ele corrompe e destrói, chegando ao ponto de não nos preocuparmos em passar sobre outras pessoas se isso for trazer benefícios reconfortantes.
“Se não for impedido, o Führer vai destruir o país todo. A Europa toda. Ele diz que está iluminando a mente do povo alemão, mas é mentira. Hitler é a própria escuridão” (p. 151).
Além do bom enredo e da trama que convence, o livro também merece destaque pela ótima parte física que possui. A capa é bela e dá uma boa ideia do que vamos encontrar na obra. Além disso, a diagramação, apesar de simples, aliada à boa revisão e tradução, proporciona uma excelente leitura. Ou seja, mais um trabalho com padrão de qualidade da Seguinte.
Em suma, O Menino no Alto da Montanha é uma obra que toca e mexe com o leitor, tanto na parte sentimental quanto no sentido de colocá-lo para pensar. Além disso, possui um excelente embasamento histórico. Sem dúvidas, uma excelente opção para adolescentes e adultos.
site:
http://www.desbravadordemundos.com.br/2017/01/resenha-o-menino-no-alto-da-montanha.html