astereads 16/07/2023
Um fim (e também um começo) magnífico
Vou ser bem sincero, nem sei como começar esse review, tantas são as coisas que me chamaram atenção na leitura.
Primeiramente, eu vi que muitas outras pessoas comentaram sobre a frustração pela falta de respostas, o que é compreensível, mas no meu entendimento esse FOI o objetivo do autor. Nós nunca precisávamos saber todos os detalhes; a jornada está ali para ser aproveitada, como em outros horrores cósmicos/ficções científicas similares.
A diferença é que Jeff Vandermeer foca na beleza e manifestação desse horror cósmico, e não em sua lore ou explicações que soam quase místicas, ou no niilismo que tá impregnado no gênero. É por isso que Ave Fantasma existe, não como uma extensão da Área X mas como sua própria pessoa, atrás das suas próprias realizações. É por isso que Controle tem como foco de sua jornada a aceitação de que ele não tem controle. E é por isso que a Diretora, uma personagem tão enigmática, na verdade só queria o fechamento de um ciclo.
Sim, a narração merece críticas também, mesmo que a história, pra mim, tenha sido ótima. Eu percebi que desde o segundo livro o autor perdeu a mão em alguns pontos, por se estender demais neles desnecessariamente. No começo, eu até demorei bastante pra continuar lendo, porque me entediei com alguns capítulos.
A parte incrível, no entanto, foi a realização (lá pro meio do livro) do quão incrível era as diferenças entre os povs. Olhando de uma forma mais técnica, a forma com que ele decide escrever ? as variações entre primeira, terceira e segunda pessoa, o registro quase documental da parte da Bióloga ? é simplesmente algo de tirar o fôlego. Inclusive, a forma com que ele decide como cada ponto de vista vai ser demonstrado fala muito sobre o personagem.
As partes em terceira pessoa me fizeram sentir conectado aos personagens, enquanto ainda me davam aquela sensação desconfortável de ter algo errado que eles não estavam percebendo. A em segunda pessoa, com a Diretora, me fez imaginar como se fosse uma experiência fora do corpo, o que, no meio de suas memórias, faz bastante sentido. Os momentos onde víamos a Bióloga com sua narração em primeira pessoa foram um destaque do livro pra mim, principalmente sabendo o quão bem isso representava sua natureza inquisitiva e cética. Nenhum dos povs era 100% confiável, mas todos tiveram seus pontos altos na hora de construir o todo.
Enfim, acho que poderia ficar falando desse livro pra sempre, discutindo as possibilidades e razões do porquê as coisas aconteceram do jeito que aconteceram. E eu acho isso incrível, quando um livro te toca dessa maneira.
Simpatizei com todos os personagens, me agoniei com suas questões, simpatizei com os motivos deles de fazer as coisas. Em toda a trilogia (ou talvez seja melhor dizer saga?) de Comando Sul, foi lindo de ver como cada um se manifesta tão bem, parecendo pessoas reais ali na sua frente.
Tô ansioso pra o próximo livro!!